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sábado, 23 de maio de 2015

Tangerinas, de Zaza Urushadze | Palavras de Cinema

TANGERINAS, DE ZAZA URUSHADZE

O velho homem não consegue explicar ao certo por que decidiu ficar, à contramão de muita gente que preferiu ir embora da região em guerra, na Geórgia dos anos 90. Não consegue explicar sua relação com a terra, nesse local perdido de Tangerinas: de forma estranha, ele pode amar e odiar tudo com a mesma intensidade.
O protagonista é Ivo (Lembit Ulfsak). Seu jeito não deixa mentir: é pacato e nada quer com a guerra. Deseja apenas seguir vivendo, com o trabalho, ao cortar a madeira e dar a ela outra forma – enquanto o vizinho e amigo planta as tangerinas do título.
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O problema é que a guerra corre do lado de fora. É imprevisível, nunca avisa quando vai explodir. Para piorar, dois homens – um georgiano e um checheno – terminam dentro de sua casa, machucados, aos seus cuidados.
Para Ivo, pouco importa o lado desses guerreiros: para além da guerra, os homens são sempre feitos do mesmo material. Sem dizer muito, e muito menos sem se preocupar em agradar o espectador, Ivo conquista com simples sabedoria.
Faltam homens como ele aos tempos de guerra, ainda que o filme, em momentos, pareça um pouco ingênuo ao apontar à possível amizade entre oponentes. Mais do que isso, para o diretor Zaza Urushadze o que vale é a representação e seu relevo humano.
Há grandes filmes que apostam nessa aproximação, também na camaradagem. A Grande Ilusão, de Renoir, é o primeiro exemplo que vem à mente.
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O checheno chama-se Ahmed (Giorgi Nakashidze), com jeito de assassino e, aos poucos, inclinado a mudar. Do outro lado está o georgiano Nika (Misha Meskhi), ator que decidiu se engajar na guerra porque parecia o mais certo a fazer.
Com Ivo, o espectador não saberá todas as razões: mais que o passado de desavenças, o filme prefere as relações do presente – humanas e de poucas personagens, em espaços menores e com a possível amizade entre inimigos.
Como se verá, Ivo tem razão. Não é difícil entendê-lo. Difícil é compreender o ódio entre homens, que pouco a pouco – à base da convivência diária, da percepção das semelhanças – vai desaparecendo. Dá vez à aproximação.
O filme começa com a imagem da serra pela madeira, no momento do corte. Imagem incômoda, que anuncia o que vem a seguir. Logo surgem alguns soldados. Ivo precisa explicar sua transparência: não está de um lado ou de outro, e quer apenas seguir com a vida simples, com o trabalho de camponês.
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Será apenas na convivência diária, sob o mesmo teto, que poderá mostrar a esses homens o que está ao meio, o que está nele, para assim, talvez, explicar ao espectador por que não foi embora dali. Não importa onde esteja, será o mesmo.
O material humano não muda, diz o protagonista. A terra bruta é menos importante. E as tangerinas lembram os frutos dessa mesma terra, para chechenos ou georgianos.
Com pitadas de comédia, o filme prefere a mensagem ao drama. Apoia-se no sorriso, nas palavras, na singela foto de uma bela mulher – neta de Ivo, distante dali –, para mostrar de que material os homens são feitos – chechenos ou georgianos.
Tangerinas, de Zaza Urushadze | Palavras de Cinema

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