Total de visualizações de página
terça-feira, 31 de maio de 2016
CLAUDICANDO: Nakba Catástrofe Mundial
Via Contexto Livre
Por Hasan Felix
Há eventos ao longo da história que, pela natureza da sua crueldade justificamos dizendo que ocorreu no passado, tempos aqueles em que a dita consciência do homem não tinha evoluído o suficiente.
Para citar como exemplo, a escravidão. Os primeiros escravos africanos chegaram à América em 1502; a partir de então, cerca de sessenta milhões de africanos foram sequestrados de suas terras e trazidos por comerciantes europeus, sendo que apenas doze milhões chegaram com vida. Inegavelmente foi uma catástrofe a barbárie do holocausto cometido ao povo africano.
Poderiamos pensar que um ato tão violento e horrível como este não seria esquecido nunca. No entanto, a lição não foi aprendida pois por mais de sessenta e oito anos, o povo palestino sofre uma verdadeira catástrofe executado por forças sionistas. A palavra catástrofe em árabe é "Nakba", e podemos traduzir como calamidade, catástrofe e desastre.
Esta catástrofe palestina e a expulção de suas terras, não foi, como se tem divulgado durante anos a propaganda israelense e como alegam a maioria dos meios de comunicação social: “uma consequencia desafortunada ocasionada pela guerra”. Ao contrario, corresponde a uma estratégia planificada pela política sionista desde principios do século XIX. A expulsão de 80% de população palestina através da violência israelense no ano de 1948, só foi possível devido ao plano político militar baseado em matanças e destruição massiva dos povos, aldeias e bairros palestinos. O Plano era denominado Plano Dalet, que visava a expulsão de toda a população palestina para a criação do Estado de Israel sobre o solo pátrio palestino.
A limpeza étnica da Palestina tem seu início ainda antes da criação do Estado de Israel, no movimento sionista impulsionado por Theodor Herzl; e é estimulada pela célebre Declaração Balfour de 1917, que previa a criação de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina. A derrota do Império Otomano (de que a Palestina fazia parte), no fim da Primeira Guerra Mundial e a passagem do território para mandato britânico em 1922, vieram facilitar as ambições do sionismo internacional. A progressiva imigração judaica para a Palestina ocupou estrategicamente o espaço para implantar o seu Estado.
A colonização foi acelerada pela ação de grupos armados o Haganah, o Irgun e o Lehi (ou Stern Gang), que não só atacaram os palestinos como os próprios ingleses. O Lehi assassinou em 1944 o ministro de Estado para o Médio Oriente Lord Moyne e o Irgun fez explodir em 1946 o Hotel King David, em Jerusalém, onde estava instalado o quartel-general britânico, provocando cerca de 100 mortos. Já em 1948, a 17 de Setembro, o Lehi assassinou em Jerusalém o Conde Bernadotte, presidente da Cruz Vermelha Sueca, que actuava como mediador das Nações Unidas para resolver problemas originados pela partilha do território.
Os ataques contra os palestinos eram o resultado de uma operação de limpeza étnica agendada, conforme atestam os próprios documentos dos arquivos israelenses. Um dos ataques mais cruéis foi o que destruiu a aldeia de Deir Yassin, em 9 de Abril de 1948, levado a cabo peloIrgun. Para além dos mortos, as casas e aldeias foram arrasadas, mais de 100 palestinos foram friamente abatidos no local, e cerca de 200 o número de feridos. Este massacre foi o sinal para o começo do extermínio e expulsão dos palestinos. Outros ataques aconteceram antes e depois da criação do Estado de Israel, levados a cabo primeiro pelos grupos paramilitares judaicos e mais tarde pelo exército israelense.
A Nakba constitui um marco na invasão da Palestina, um passo indispensável para os terríveis assassinatos e roubos das fontes econômicas palestinas. Sem ela não teriam ocorrido outros acontecimentos posteriores como o Setembro Negro (Jordânia, 1970), o Dia da Terra (Palestina, 1976), o massacre de Sabra e Chatila(Líbano, 1982), ou a primeira e a segunda Intifada (1987 e 2000). Esta realidade foi possível devido a complacência da comunidade internacional e ao apoio incondicional dos Estados Unidos da América, determinado pela pressão do lobby pró-israelense sobre a política externa norte-americana. Desta forma, o Estado de Israel continua agindo impunemente.
Deve ser entendido que o Estado de Israel é a consolidação de múltiplos aspectos de ideologias racistas e pode-se fazer uma relação com o Estado do Apartheid na África do Sul. O ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter (1977-1981), que no seu governo era pró-sionista, em 2006, publicou o livro "Palestine Peace Not Apartheid", que estabelece este debate, comparando a segregação entre os dois países, tornando-se alvo de críticas lobby israelense. A opinião de Carter contém em si uma grande importância, pois ela nasce de dentro política americana, um inquestionável conhecimento experimental dos objetivos sionistas vivenciado por ele.
Outro escritor, Sasha Plakow-Suranksy, em seu livro "A aliança tácita: o relacionamento secreto de Israel com o apartheid na África do Sul", também denuncia a ligação entre o Estado de Israel e o regime de Apartheid, bem como a aquisição de armas nucleares entre os dois governos. Destaca ainda as semelhanças entre a construção de assentamentos, novas políticas relativas à cidadania e à criação de condições propícias à superlotação. Mas o mais importante é o seu comentário sobre as futuras consequências do aumento desproporcional na população palestina em Israel. Se a população palestina continua a crescer no ritmo atual serão maioria em Israel e os judeus uma minoria. Como na África do Sul, a minoria governa e/ou controla a maioria.
Estas preocupações também estão presentes na opinião do ex-Presidente Sul Africano De Klerk, que em uma entrevista na televisão israelense, falou que "dizer que há apartheid em Israel é injusta"; mas ele acrescentou que, “se um Estado Palestino não é estabelecido, Israel pode ter que lidar com as consequências de ser um estado para ambos os povos, e expressar praticamente o caminho que o levaria a Israel Apartheid”. Assim, não é difícil ver que o sionismo está em uma encruzilhada e vai enfrentar as consequências da política racista e colonial.
Assim, enquanto que Israel estava desenvolvendo uma operação de limpeza étnica na Palestina, o Apartheid estava sendo praticada na África do Sul por muitos anos, e em 1948 tomou forma jurídica com leis promulgadas para o efeito, o que curiosamente coincide com o reconhecimento ilegítimo do Estado de Israel na ONU. Não podemos esquecer que Israel era um dos principais aliados do regime do apartheid.
Nas eleições de 1948 na África do Sul, foi vencedor o partido nacionalista radical com uma coalizão com o Partido Afrikaans, liderada pelo pastor Daniel François Malan protestante. Já, em 1950, aprovou uma lei que reservava certos distritos nas cidades onde os proprietários só poderia ser branco, forçando os não-brancos a migrar para outros lugares. As leis estabeleciam áreas segregadas, tais como praias, ônibus, hospitais, escolas e até mesmo bancos em parques públicos. Negros e outras pessoas de cor eram submetidas a verificação dos documentos de identidade e eram proibidos de transitar em algumas cidades ou até mesmo permanecer sem permissão.
Uma vez que eles tinham apresentado problemas legais com o Supremo Tribunal para a implementação do apartheid, o governo aumentou o número de juízes no tribunal com tendências e leis nacionalistas finalmente promulgada. As regras estabelecidas nessas leis foram:
1 Os negros não podiam ocupar cargos no governo e não podiam votar exceto em algumas eleições isoladas para instituições segregadas.
2 Os negros não poderiam estabelecer ou exercer práticas comerciais profissionais em áreas especificamente designados para os brancos.
3 O transporte público foi completamente segregado. Os negros não foram autorizados a entrar nas zonas designadas para a população branca, a menos que eles tivessem um passe. Os brancos também tinham de realizar um passe para entrar nas áreas destinadas aos negros.
Para retirar os negros de suas terras, a discriminação foi baseada legalmente em que estes não eram cidadãos sul-africanos mas oriundos de outros lugares. A população negra foi removido de seus lares, as suas casas foram demolidas e pertences abandonados; foram considerados como população transeuntes ou temporária. Durante as décadas de 1960-1980, o governo forçou a população negra reassentar naqueles estados que tinham sido designados para eles. Um total de 3 milhões de habitantes e foram forçados a se mudar para esta área. O caso mais divulgado foi o de Joanesburgo, onde 60.000 habitantes negros foram realocados em uma área chamada Soweto.
Semelhança com o que aconteceu e acontece na Palestina hoje. Os sionistas usam os mesmo argumentos utilizados pelos defensores do apartheid. Na Nakba Palestina foram expulsos cerca de 800 mil palestinos e ocorreu a destruição de mais de 400 aldeias e cidades! Como todas as operações de limpeza étnica, a Nakba foi um crime contra a humanidade, de acordo com a definição do Tribunal Penal Internacional da Haia. E a repressão sobre o povo palestino continua até hoje. As imagens que vemos diariamente nos enchem de indignação, dor e tristeza, infelizmente temos vivido décadas de casas arrasadas, colheitas destruídas, famílias desmembradas, populações a viver em tendas, hospitais bombardeados, escolas em ruínas, cortes de água e de eletricidade, longas horas de espera nos checkpoints, mais o desemprego, a fome e a doença aumentando.
Esta disposição do governo israelense a cooperar com regimes opressivos e discriminatórios, revela que o racismo é a natureza e a essência do sionismo. Os governos israelenses falam que amam a democracia e que promovem a paz mundial, mas sua política bélica contém armas de destruição em massa, cujo objetivo não é a defesa, mas a intimidação.
O que pensar de um governo que age assim? Não só a Palestina é alvo, mas o mundo está ameaçado pelo sionismo. As guerras do sionismo acontecem em diversos territórios, são pesadas batalhas ideológicas desenvolvidas: Mísseis de ideias carregados com ogivas de rascismo são lançados todos os dias contra os nossos irmãos, pais e filhos por meio da televisão, livros e púlpitos das igrejas, convidando-nos a amar e apoiar a Israel imperialista em sua guerra de colonização, com a justificativa de que este é o desejo de Deus.
A Nakba é uma catástrofe que nos mostra quanto indolentes somos frente ao sofrimento dos nossos irmãos. Devemos refletir sobre as dificuldades de nos amarmos como irmãos e das possibilidades da convivência pacífica na humanidade.
A reflexão sobre a Nakba deve nos despertar para medidas que impessam um futuro com outras catástrofes similares e, em especial, que não mais permita um presente recheado pelo silêncio cúmplice.
A resistência palestina nos ensina a enfrentar os inimigos invasores e a lutar pela justiça e pelos direitos inalienáveis de um povo. Assim, em 2015 iniciou a terceira intifada e, apesar da brutal repressão israelense, das inúmeras prisões e mártires, o sonho da Palestina Livre continua presente!
A Palestina Livre é construida diariamente pelo povo palestino e pela solidariedade internacional!
CLAUDICANDO: Nakba Catástrofe Mundia
l
Van Hattem é vaiado e chamado de fascista por estudantes ao defender Escola Sem Partido na AL « Sul21
31/maio/2016, 14h34min
Van Hattem é vaiado e chamado de fascista por estudantes ao defender Escola Sem Partido na AL « Sul21
Van Hattem é vaiado e chamado de fascista por estudantes ao defender Escola Sem Partido na AL
Luís Eduardo Gomes
Durante audiência pública que tratou das ocupações nas escolas públicas do Estado, realizada na manhã desta terça-feira (31) no Plenarinho da Assembleia Legislativa, o deputado Marcel Van Hattem (PP) tentou defender o seu projeto de lei (PL 190/2015) que prevê a instituição do Programa Escola Sem Partido no sistema estadual de ensino. No entanto, foi muito vaiado e interrompido em diversas oportunidades pelos estudantes presentes na audiência, que chegaram a virar de costas durante a fala do deputado.
No início da audiência, que tinha como foco principal as obras nas escolas, representantes do movimento estudantil listaram como uma das pautas nas ocupações a exigência de retirada do PL 190 de tramitação da AL. Van Hattem, que não estava na audiência, decidiu então comparecer ao Plenarinho para fazer a defesa do projeto.
No entanto, quando começava a tentar explicar o que queria dizer com doutrinação, foi vaiado e chamado de fascista por estudantes e professores. Quando pediu respeito como deputado, foi criticado por não ter dado bom dia aos presentes, o que fez logo em seguida. Ele também foi alvo de protesto por ter chamado os estudantes de “massa de manobra”.
Ele ainda tentou argumentar que conhecia a realidade das escolas públicas, por ter estudado no Ensino Fundamental e no 1º ano do Ensino Médio em um colégio estadual de Dois Irmãos, sua cidade natal, e que seu projeto, na verdade, visava justamente defender a pluralidade das ideias, mas foi interrompido diversas vezes. Ao fim, pediu apenas que os presentes “lessem o projeto”, sendo vaiado novamente.
Van Hattem se retirou da audiência logo após sua fala, mas voltou a ser criticado em manifestações posteriores de estudantes, professores e também de deputados. Stela Farias (PT), que relata o PL na Comissão de Constituição e Justiça da AL antecipou que irá emitir parecer contrário ao projeto, que, segundo ele, busca “amordaçar a educação pública”. “Usam a desculpa ideologia para justificar, de forma autoritária, a introdução de sua ideologia”, disse.
Edegar Pretto foi ainda mais veemente. “Escola sem partido quer dizer escola de imbecis que não discute de onde viemos e para onde queremos ir”, afirmou.
Tags: Assembleia Legislativa, audiência pública, Escolas Públicas, Marcel van Hattem, movimento estudantil, ocupações
DE TUDO UM POUCO: REVELAÇÕES
DE TUDO UM POUCO: REVELAÇÕES: Por Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Junior, Memorialista e Diretor de Comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos do Ceará e Fátima de D...
PALAVRA LIVRE — DAVIS SENA FILHO: Globo não é sério, Lula lança site para rebater im...
PALAVRA LIVRE — DAVIS SENA FILHO: Globo não é sério, Lula lança site para rebater im...: Por Davis Sena Filho — Palavra Livre Lula, até que enfim, resolveu reagir ao linchamento público de intenção aniquiladora no que d...
Fracasso de modelo privado na Educação leva onda de protestos no Chile — Agência Democratize — Medium
Por muito tempo, os defensores do liberalismo utilizaram a “experiência chilena” para propagar a tese de que não existe melhor solução para a Educação do que privatizar e tirá-la do controle do Estado. Esse modelo privado foi implantado pelo governo de Pinochet nos anos 70, no que seria uma espécie de “laboratório neoliberal” de propostas e ideias que jamais seriam aceitas em uma democracia ocidental naquele momento.
Segundo estatísticas de 2013, apenas 36% dos alunos são matriculados em escolas públicas.
A questão do alto número de universidades privadas no país, e a falta de incentivo público nesse setor (apenas 15% dos gastos com educação são pagos com dinheiro público) tem sido pauta da discussão da questão educacional no país. No quesito investimento, há tanto universidades públicas como privadas que recebem recursos público.
Para conseguir uma educação mais qualificada, os universitários têm duas opções de créditos. Uma é a do Estado, cuja mensalidade nunca pode superar 5% do salário ganho e que perdoa a dívida daqueles que não conseguem pagá-la em 20 anos. O outro tipo é o Crédito con Aval del Estado, cobrado por bancos privados; nessa modalidade não há perdão da dívida, o valor cobrado pode ultrapassar os 5% do salário e a taxa de juros é bem mais elevada — em 2011, ela estava em 5,7% para os privados e em 2% para o estatal.
Segundo os estudantes e especialistas, esse modelo onde o Estado coloca em primeiro lugar a educação privada fracassou — e feio.
Em 2011, uma gigante onda de manifestações tomou conta do país. Os estudantes, secundaristas e universitários, pediam uma reforma educacional onde o Estado pudesse ter maior influência e prioridade. Ainda em 2014, mais uma mobilização estudantil parou o país.
E novamente, na tentativa de acabar com a herança maldita do neoliberalismo de Pinochet, universitários e secundaristas caminham para uma terceira grande onda de manifestações, greves e ocupações em escolas e universidades.
Com um cartaz escrito “Notificamos que começamos o ataque”, estudantes secundaristas invadiram o Palácio de La Moneda em Santiago, para protestar contra a lentidão das reformas aplicadas pela presidente Michelle Bachelet.
A reforma educacional foi considerada sua principal proposta eleitoral — e foi ela que possibilitou sua vitória.
Pelo menos 19 estudantes foram detidos durante a invasão do grupo denominado Assembleia Coordenadora de Estudantes Secundaristas (Aces). Para os secundaristas, após anos de legislações a favor de empresários, o país sofre com a privatização da saúde e a corrupção “que transformou grandes empresas nas sedes do governo”.
“Fracassaram em falar de transporte público e educação gratuita, e o governo terá que assumir as consequências”, disse Diego Arraño, porta-voz do movimento estudantil secundarista.
Em Valparaíso, uma gigante manifestação violenta ocorreu e terminou em confronto com policiais. Estudantes invadiram um prédio após o discurso da presidente Bachelet no domingo passado, afirmando que “as reformas ainda devem demorar”.
Ao redor do país, escolas estão sendo ocupadas para pressionar o governo chileno.
Em contrapartida, o governo parece cada vez menos disposto para o diálogo. Recentemente, em Santiago, vetou a autorização de uma marcha na principal via da capital do país, dispersando a multidão com canhões de água e gás lacrimogêneo.
A violência policial acabou forçando o esvaziamento de um hospital na região, por conta do gás lacrimogêneo. “Ocupamos a rua pacificamente, mas infelizmente a polícia forçou nosso recuo de forma brutal”, disse Jose Corona, o presidente da União dos Estudantes Secundaristas.
MAKAVELI : teorizando: A sociologia da vítima
SEGUNDA-FEIRA, 30 DE MAIO DE 2016
A sociologia da vítima
A barbárie da menina vítima de um estupro coletivo perpetrado por mais de 30 homens jogou luz na forma como os monopólios de mídia tratam a vítima quando ela pertence a um grupo oprimido e é da classe trabalhadora. A insistência na ideia do "suposto" ou "alegado" estupro e as "pesquisas" sobre o passado da vítima, sua vida sexual pregressa, o uso de drogas etc. mostra uma ideia básica na sociedade de classe: até na hora de se constituir como vítima os determinantes da dominação de classe e da opressão operam.
Quando a vítima do crime é alguém das camadas médias ou da classe rica (portanto brancos e incluídos nos padrões hegemônicos de beleza, moral, estilo de vida etc.) o discurso dominante é destacar os sonhos da pessoa, sua história de realizações, suas qualidades nas relações com amigos e familiares. Quando o jovem casal Liana Friedenbach e Felipe Caffé foi assassinado, e ela estuprada, ninguém nos monopólios de mídia tentou colocar a culpa nas vítimas. Comentários do tipo "ela não deveria está sozinha com o namorado na mata" não foram visto nos jornais, TV's, Rádios's e portais da internet. A vítima é mostrada como uma pessoa em sentido pleno: com amigos, história de vida, sentimentos, qualidades, futuro, talentos. O clima de comoção produzido é muito forte porque esse tipo de abordagem cria uma espécie de empatia contagiante - quem não se solidariza com uma jovem "bonita" de "boa índole" e com um futuro brilhante pela frente?
Quando a vítima é da classe trabalhadora e agrega os padrões de opressão, como ser negro e/ou mulher, ela se constitui como uma "semi-vítima". O tema não é sua história de vida, mas seus "maus hábitos", não tratam do seu futuro, mas dos "seus erros do passado", sua culpa na tragédia é questionada a todo o momento; não se cria uma empatia, mas sim um distanciamento negativo do tipo "eu não apoio estupro, mas essa menina tinha que estar em casa"; "ela não deveria usar drogas" etc. Ninguém até agora nos grandes monopólios de mídia falou dos sonhos da menina, de como ela é uma boa amiga ou a mostrou como alguém “com futuro”.
O genial documentário "TV alma sebosa" [1] ao analisar os programas policias de Pernambuco demonstrou como as vítimas na periferia são retratadas como sem história: apenas um nome e uma foto 3x4 é mostrada seguida de comentários do tipo "a polícia suspeita ser acerto de conta" ou "familiares dizem que a vítima tinha envolvimento com drogas". O processo de desumanização está pronto. Ninguém mais - com exceção da família - sente empatia com essa vítima.
O delegado Orlando Zaccone estudou no seu livro "Indignos de vida" os autos de resistência na cidade do Rio de Janeiro. A maioria dos assassinados pela polícia são homens pobres na idade da juventude e negros. O judiciário do Rio de Janeiro no processo de "apuração" das mortes concentrasse mais na "reconstituição" do passado da vítima do que na ação dos polícias. A conclusão de que a vítima "morava em área de risco", "tinha envolvimento com drogas" ou "andava em más companhias" torna a versão da polícia - troca de tiros - como verdadeira de forma automática.
Enfim, para ser vítima não é necessário apenas sofrer algum tipo de violência. Ser vítima é algo carregado de determinantes de classe, raça, gênero e ambiente sócio-geográfico - sendo o determinante de classe o decisivo. Sem discordar das pessoas que apontam o machismo na forma como os monopólios de mídia abordam o caso do estupro coletivo, a questão abarca o machismo mais é ao mesmo tempo maior que ele! Os filhos e filhas da classe trabalhadora dificilmente serão "vítimas humanizadas" na sociedade capitalista.
[1] - https://www.youtube.com/watch?v=ST9h5BWZSTE
Assinar:
Postagens
(
Atom
)