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quarta-feira, 27 de maio de 2015

A luta dos mexicanos pelo petróleo | GGN

Enviado por Jota A. Botelho
Da Carta Maior


Lázaro Cárdenas del Río - Presidente do México, 1934-1940

'Los Nuestros': Cárdenas e o México dos nossos amigos

O filme não tem um fim feliz. Mostra a desnacionalização do projeto cardenista e a perda do controle dos recursos naturais do México.

Por Léa Maria Aarão Reis

Há três meses o canal de televisão Telesur estreou, com grande sucesso, uma série de excelentes documentários realizados pelo conhecido historiador, jornalista e escritor mexicano, Francisco "Paco" Ignácio Taibo, com o sugestivo título Los Nuestros. Vale assisti-los nesta semana em que o país amigo, cuja história política é pouco conhecida dos brasileiros – exceto suas belezas turísticas e naturais –, está sendo visitado pela presidente Dilma Rousseff em viagem de estado, na qual é acompanhada de uma comitiva de empresários para reforçar e estreitar laços comerciais.

Os temas de Taibo são frutos de pesquisas preciosas da vida e da militância revolucionária da esquerda no México. John Reed, mitológico jornalista americano que se envolveu na grande revolução do país de 1910. O escritor Rodolfo Walsh. Antonio Holmes, defensor apaixonado de Cuba. O poeta salvadorenho Roque Dalton quando esteve exilado no país.

Mas os dois primeiros capítulos da série de "Paco" Taibo esmiúçam um importante momento do governo de um legendário presidente do México (1934-1940), o estadista Lázaro Cárdenas, ao expropriar, em março de 1938, as companhias petrolíferas estrangeiras sediadas no país. Trata-se de um doc especialmente instrutivo para todos. Mas, em especial para quem vai ao México fazer negócios.
O filme relembra os dias históricos do então altivo país. Na época ele reafirmava sua soberania ao desafiar poderosos grupos do norte – Califórnia Standard Oil, Pemex, o Canadá e o governo americano entre dezenas de outros. Então, a liderança de Cárdenas se destacou criando a estrutura do Partido Revolucionário Institucional, o PRI; realizou uma reforma agrária efetiva, planejada por Zapata, e nacionalizou os recursos do subsolo - em especial do petróleo. Cárdenas criou o primeiro sindicato de petroleiros do Golfo.
"Vamos ter que resolver a questão do petróleo", costumava dizer aos seus auxiliares e ministros, antes de 38, quando resistia à chantagem das petroleiras de fora que, não respeitando decisões desfavoráveis a elas, da Suprema Corte do país, retiraram todos os fundos dos bancos mexicanos como forma de pressionar o governo. Em seguida, Cárdenas se comprometeu com Washington a pagar os 'prejuízos' pela nacionalização do petróleo e convocou a população a uma gigantesca operação nacional de coleta para saldar a 'dívida' do governo.
Cárdenas, como é registrado no doc, ampliou a educação popular de massa e o crédito agrícola às cooperativas de aldeãos; apoiou a indústria nacional e o comércio. Tornou o México conhecido como refúgio oficial de perseguidos políticos daqueles anos e criou confederações para representar camponeses e trabalhadores.
"Ele procurou criar um ambiente nacional de consciência da nossa identidade", diz um personagem entrevistado nesse capítulo de Los Nuestros.
O filme não tem um fim feliz. Mostra a desnacionalização do projeto cardenista e, na raiz das políticas neoliberais, a perda do controle dos recursos naturais do México, hoje um país acuado pelo narcotráfico e no qual 40 mil pessoas morreram, de forma violenta, nos últimos dois anos e meio.
Mas há dois recados desse documentário.
O primeiro, de alerta: "Governos fortes não remam contra as mobilizações populares; são sempre a favor delas", é o que diz um dos entrevistados a propósito de como o presidente-estadista mexicano costumava se posicionar.
O segundo, de esperança: informa Taibo que, depois de entrevistar vários cidadãos comuns caminhando pelas ruas, percebe que talvez esteja surgindo uma tendência inesperada entre os jovens mexicanos. A de resgatar a força, a firmeza e a magia do governo de Cárdenas. Oxalá.

*A série Los Nuestros pode ser vista no portal da Telesur:



Créditos da foto: reprodução
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