Total de visualizações de página

segunda-feira, 30 de março de 2015

A VERDADEIRA CARA DO FACEBOOK-INVERTA

A verdadeira cara do facebook

Essa matéria foi publicada na Edição 467 do Jornal Inverta, em 11/07/2013

Não acredite na historinha que passou nos cinemas sobre como o facebook surgiu a partir de um jovem empreendedor que roubou a ideia dos outros a sua volta sobre uma rede social na internet e sensibilizou investidores no seu primeiro ano de funcionamento que lhe forneceram o capital inicial (12 milhões de dólares apenas do fundo Accel Partners, ligado à CIA) para criar uma das maiores corporações do mundo.
Não acredite na historinha que passou nos cinemas sobre como o facebook surgiu a partir de um jovem empreendedor que roubou a ideia dos outros a sua volta sobre uma rede social na internet e sensibilizou investidores no seu primeiro ano de funcionamento que lhe forneceram o capital inicial (12 milhões de dólares apenas do fundo Accel Partners, ligado à CIA) para criar uma das maiores corporações do mundo.

O surgimento do facebook obedece a interesses bastante explícitos da mercantilização de todos os aspectos da vida das pessoas e do controle sobre as mesmas por parte da classe dominante. Por um lado, se insere na transformação ocorrida na propaganda com a popularização da internet que não só permite uma publicidade de produtos totalmente direcionada a partir da análise do perfil de cada pessoa, como também influi ativamente na construção da identidade dessa pessoa e nos seus desejos de consumo.
Por outro, se insere no aprimoramento dos sistemas de informação e controle com a transição de uma espionagem direcionada a alguns indivíduos e feita por outras pessoas para aquela em que ocorre o armazenamento de tudo o que todos fazem e da análise posterior dessas informações por computadores em busca de padrões que passariam despercebidos.

O facebook armazena o horário de todas as ações realizadas, quanto tempo a pessoa tardou olhando uma página específica, todas as menções feitas por terceiros, etc. Com base nisso podemos afirmar que o facebook sabe coisas sobre a sua vida que nem você mesmo sabe. Ele sabe a que horas você foi dormir em uma data há anos atrás.
Todos os comentários realizados, mesmo que você os apague, permanecem para sempre no sistema deles. Um exemplo que evidenciou isso foi o caso do estudante Max Schrems que, citando uma lei europeia, solicitou ao facebook os dados que a empresa mantinha sobre ele e recebeu um relatório com 1.222 páginas de extensão que incluía todo tipo de informação.

Se antes era necessário todo um trabalho de investigação para que um órgão de repressão política descobrisse quem é uma certa pessoa, com quem se relaciona, quem são seus amigos, etc, hoje a própria pessoa faz o trabalho de postar toda a sua informação nesses serviços que não hesitam em ceder esses dados aos serviços de inteligência dos EUA.
A grande jogada do sistema foi recompensar as pessoas socialmente por fornecerem essa informação. Então, ao invés de pagar dinheiro a informantes, o facebook incentiva as pessoas a colocarem essas informações, dando como recompensa a chance da pessoa manter uma amizade, ou arrumar um encontro, ou apenas espionar as fotos do colega de trabalho.

Claro que essas informações nem sempre são fiáveis, pois podem aparecer muito diluídas. Uma pessoa pode ter centenas de amigos no facebook, todos virtuais. Mas essa dificuldade é superável com a utilização algoritmos de filtragens e reconhecimento de padrões. Alguém já notou que recentemente o facebook passou a perguntar se você conhece uma pessoa na vida real ou apenas pela rede? Os softwares empregados utilizam os mais avançados algoritmos de inteligência artificial e estão sempre aprimorando sua capacidade de previsões.

Porém, essa mudança na forma como a classe dominante recolhe informação destinada ao controle social não ocorre apenas na internet. A gravação de todas as chamadas realizadas por telefone já é uma realidade. O avanço dos meios de produção tornou-a não apenas possível, mas trivial. Um cálculo do Chaos Computer Club, grupo alemão que milita na área digital, apresentado no recente livro de Julian Assange, “Cypherpunks: liberdade e futuro da Internet”, demonstra que com apenas 30 milhões de Euros é possível armazenar com uma qualidade decente gravações de todas as chamadas telefônicas realizadas na Alemanha por um ano, sendo que apenas 8 desses 30 milhões correspondem ao hardware de armazenamento propriamente dito. Valor ínfimo em termos de orçamento militar, já que, por exemplo, um caça de última geração tem um custo de mais 100 milhões de euros.
No Brasil isso também ocorre, não apenas pelo estado, mas também pelos serviços de informação ligados aos monopólios estrangeiros que controlam uma área tão sensível como as comunicações.
Recentemente em São Paulo foi divulgada e depois abafada a existência de uma central ilegal de espionagem, no comando da polícia em Presidente Prudente, criada pelo PSDB, com pelo menos 86 mil gravações realizadas. Jornalistas, militantes sociais, juízes, todos estavam sendo monitorados sem a existência de um embasamento legal.

Isso não significa que a partir de agora todos tenhamos que deixar de utilizar a internet ou os telefones celulares. Mas temos que fazê-lo de forma consciente. Devemos nos abrigar na diluição dessas informações, evitando responder perguntas como a que o facebook faz sobre se você conhece a pessoa na vida real ou apenas na rede.
Tomar cuidado especial com fotos, já que a tecnologia de reconhecimento facial é uma das que mais avançou na última década. (Abordaremos esse ponto específico em uma próxima matéria). Saber o que deve e o que não deve ser conversado no celular. Saber separar sua vida pessoal da expressão na internet de sua militância. E mesmo no tocante à sua vida pessoal e social, agir com prudência, sabendo que tudo o que você publicar sairá de seu controle para sempre.

Uma maneira importante de nos protegermos é buscar serviços alternativos que não sejam controlados por grandes corporações. O mesmo que vale para o facebook, vale para o google. Não importa o que está escrito nos termos de uso desses serviços ou de qualquer outra corporação. Elas irão violá-los constantemente. Os governos solicitarão seus dados e eles serão entregues sem que você seja nem mesmo comunicado disso. Por isso é importante o desenvolvimento de plataformas livres, onde a privacidade esteja programada no código dos softwares utilizados. Como diz um velho adágio no mundo da computação: o código é a lei. Você pode fazer apenas o que algum código de software lhe permita fazer.
Por isso hackers (não no sentido de criminosos virtuais empregado pela mídia, mas no sentido de programadores militantes) se preocuparam em criar sistemas onde o controle sobre sua privacidade não depende de uma corporação, mas faz parte do desenho do sistema. Um exemplo que após muitas promessas permaneceu incipiente é o da rede social Diaspora, que aparentemente funciona de uma forma semelhante ao facebook, mas está construída sobre uma rede peer to peer (par a par), de forma que nenhum servidor central armazene seus dados. Ou o identi.ca, uma alternativa livre ao twitter.

Com relação à militância, a maneira revolucionária de se fazer presente nessas redes é realizar a batalha de ideias através da divulgação de matérias e informações sediadas em outras plataformas, como blogs e sites, e não transformar o facebook em um fórum orgânico de uma organização política. Quem utiliza esses serviços para marcar reuniões, repassar orientações, ou discutir questões organizativas, na verdade está de forma inocente ajudando o inimigo.
inverta.org/jornal/edicao-impressa/467/debate/a-verdadeira-cara-do-facebook

Nenhum comentário :

Postar um comentário