Total de visualizações de página

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A crise da social democracia, por Felipe González | GGN

Em 1997, o diretor do diário espanhol ABC, conservador, publicou a estratégia para derrubar o governo Felipe González. "Temos que colocar em perigo inclusive a estabilidade do Estado para tirar Felipe González do poder", receitou ele.
Não é muito diferente do que ocorre atualmente no país, com a mídia – em parceria com a Lava Jato -  empenhada em desmontar a cadeia produtiva do petróleo e gás, destruir as maiores empresas brasileiras, criminalizar financiamentos de exportação para atingir seu objetivo político.
***
Mesmo assim, González é taxativo ao afirmar que imprensa não derruba governo. Em condições normais de novo, governos têm muito mais poder e penetração que a imprensa.
A crise decorre da incapacidade dos governantes de se reinventar. E diz com conhecimento de causa, uma vez que o Partido Socialista espanhol – que ele presidiu durante décadas – perdeu o poder.
***
Nos últimos anos houve uma anomalia histórica, da esquerda ter subido ao poder na América Latina e no sul da Europa através do voto. Antes, só conseguia através das botas, disse ele, em conferência promovida pelo Instituto Lula.
O desafio é aprender a governar as maiorias, administrando ataques mais ou menos desmedidos que afetam todos os sistemas democráticos.
***
Segundo ele, para chegar ao poder, a esquerda precisou parar de estar sempre inventando o futuro para que a direita governasse o presente. Em determinado momento, a esquerda precisou descer ao presente para mudar o futuro, algo muito mais complexo do que simplesmente inventar o futuro.
O desafio não é apenas chegar ao poder, mas conservar o poder garantindo a maioria social em mudança. “A social democracia mudou a realidade social mas manteve o discurso anterior à mudança”, disse ele. “Por isso perdemos o poder”. Agora, há que se ter a capacidade de um novo recomeço, frente aos novos cenários, novos caminhos e novos instrumentos.
***
A arte da política consiste em governar sobre interesses contraditórios, diz ele. Empresários e trabalhadores têm interesses contraditórios, mas a ambos interessa a preservação e o crescimento das empresas.
Não se pode governar apenas para quem pensa como o governante, senão será governo de um só. A arte da política consiste em desenvolver um projeto de país que ganhe a adesão da maioria social, interesse e ganhe a adesão de todos.
Aí entram formas de trabalhar a ideologia, diz ele. "Entendemos por ideologia o conjunto de ideias que de forma articulada definem o projeto de país que queremos. Mas se entendermos por ideologia a couraça de um discurso de afirmação, serve apenas para ocultar a carência de ideias para resolver desafios novos, diz ele.
O desafio de melhorar a governança passa por duas etapas. A primeira, é a previsibilidade, condição necessária mas não suficiente. E a previsibilidade implica na continuidade de programas, ideias e conceitos. O segundo desafio é como se inserir na economia global preservando a economia social de mercado.
Para tal, tem que crescer, ter uma economia altamente competitiva, com boa produtividade e incorporação de tecnologia. Significa dignificar o trabalho através da melhoria do capital humano.
A crise da social democracia, por Felipe González | GGN

Nenhum comentário :

Postar um comentário