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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

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O desafio de interiorizar a educação: a Escola da Terra no estado do Ceará

Essa matéria foi publicada na Edição 480 do Jornal Inverta, em 21/09/2015


No dia 2 de junho, na Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Ceará (UFC) foi realizado o lançamento oficial da Escola da Terra no Ceará, curso de aperfeiçoamento que promove a formação continuada de educadores para as escolas do campo e das comunidades quilombolas; convidados pela Professora Clarice Zientarski, da Faced, o INVERTA esteve presente à atividade.
Mesmo num país de dimensões continentais, como o Brasil, a grandeza da sua extensão territorial não esconde o fosso da desigualdade econômica e social de sua gente.
Seja nas periferias dos centros urbanos, seja no meio rural.
Essa exclusão social reflete também, essencialmente, as populações que historicamente foram massacradas com a inserção ao modo de vida do capitalismo, notadamente as comunidades do campo e quilombolas que travam um combate direto entre a manutenção de suas tradições e a inserção unilateral às exigências do modo de produção capitalista, o que leva muitas vezes à descaracterização cultural dessas populações, aumentando o fosso da desigualdade.
Essa é uma característica forte do capitalismo brasileiro que se desenvolve para suprir as demandas dos principais centros e das classes dominantes, geralmente instaladas nas áreas urbanas.
Tal embate foi ilustrado no filme “O homem que virou suco”, que conta a história de um poeta popular nordestino que é obrigado a tentar se adaptar ao sistema que o molestou diretamente, onde a fábrica que espreme a todos, retirando seu sumo e sua capacidade de diferenciação, expropria seu suco e cospe o bagaço.
É por isso que sempre foi projeto das classes dominantes impor sua visão de mundo através da educação, a partir da mera instrução técnica através de uma educação profissionalizante, a fim de inserir essas populações no processo de industrialização do campo.
Exemplo disso são as Escolas Agrícolas de cursos técnicos, desconsiderando totalmente a relação entre o homem e a terra.
Na contramão desse processo, desde 2013, o MEC lançou o programa Escola da Terra, onde são ofertados capacitação especial e recursos didáticos para professores de escolas rurais e quilombolas.
A ação integra o Programa Nacional de Educação no Campo (Pronacampo).
Assim, o desafio é trazer para dentro da sala de aula a realidade e particularidades que os estudantes vivem e valorizar a cultura comunitária, com base no currículo escolar nacional.
Afinal, se a escola é lugar de formação humana significa dizer que ela não é espaço somente de conhecimentos formais.
A escola é local para tratar das diversas dimensões do ser humano, sua identidade e história.
Falar em história de populações, como comunidades do campo e quilombolas, é afirmar que estas populações são fruto da resistência por muitas décadas de exploração brutal pelos senhores, os quais negavam a estas comunidades sociais básicos.
Resgatar o legado destas populações e transformar em política de Estado a formação de novas gerações está além da reparação de uma enorme dívida social: é a certeza de um futuro afirmativo.
Como diz Paulo Freire, a escola não transforma a realidade, mas pode ajudar a formar os sujeitos capazes de fazer a transformação, da sociedade, do mundo, de si mesmo.

O Programa Escola da Terra

O Programa Escola da Terra destina-se à formação continuada e acompanhada de professores que trabalham com estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental em escolas multisseriadas no campo e em escolas quilombolas para que atendam às especificidades formativas dessas populações; além dos assessores pedagógicos que terão a função de tutores; oferta de materiais didáticos e pedagógicos; monitoramento e avaliação; gestão, controle e mobilização social.
A produção e oferta dos materiais didáticos e pedagógicos são de responsabilidade do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). São jogos, mapas, recursos para alfabetização, letramento e matemática.
Já o coordenador estadual e o tutor que acompanham e orientam os educadores durante sua formação serão remunerados com bolsas a serem pagas pelo FNDE.
As escolas multisseriadas são um desafio às políticas públicas do campo, uma vez que apresentam historicamente um quadro de ausência do Estado e de gestão deficitária.
Alguns exemplos disso são as grandes distâncias entre a casa do aluno e a escola, combinadas com a ausência de um transporte escolar eficaz.
A sobrecarga de trabalho, a alta rotatividade e as dificuldades de acesso e locomoção dos professores também é um dado agravante.
No Brasil existem cerca de 50 mil escolas multisseriadas em áreas rurais e quilombolas distribuídas por todo o país.
No Ceará, o programa Escola da Terra é uma parceria da UFC com o Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação do Estado e secretarias dos 19 municípios envolvidos.
Com 863 professores inscritos, o curso trata desde os elementos filosóficos até os elementos legais e técnico-pedagógicos da educação no campo, totalizando 180 horas.
As aulas serão ministradas no formato pedagogia de alternância, com atividades presenciais e de campo, que acontecem de 11 de junho a 11 de dezembro.
Os municípios envolvidos são: Beberibe, Canindé, Cascavel, Caucaia, Cedro, Ibaretama, Icó, Independência, Itapipoca, Itarema, Itatira, Orós, Parambu, Quixadá, Quixeramobim, Tauá, Tamboril, Santa Quitéria e São Luís do Curu.
A ação do Programa Escola da Terra é interessante uma vez que enfoca a identidade de comunidades historicamente exploradas e ressalta para elas a sua luta e o movimento de resistência.
Uma iniciativa que contribui fortemente para a reafirmação do orgulho daqueles que realmente trabalham a terra.

Sucursal CE

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