Total de visualizações de página

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Causa Operária - O fascismo é SIM de direita. Entenda

rtigo da revista eletrônica InfoMoney
O fascismo é SIM de direita. Entenda
O fracasso do neoliberalismo colocou muitos economistas liberais na defensiva. Agora, procuram recuperar o fôlego num sistemático ataque, não à esquerda propriamente dita, mas à história e à verdade
A direita resolveu reescrever a história. De uns anos para cá, um intensa propaganda, generosamente financiada do estrangeiro, vem procurando incutir ideias direitistas na mente das pessoas. Procuraram desacreditar os líderes da esquerda, difamar os revolucionários e exaltar figuras medíocres como Milton Friedman, Von Mises e outros. E o objetivo não era apenas promover ódio contra o Partido dos Trabalhadores e seus correlatos sul-americanos, embora também fosse.

A história demorou, por exemplo, para escrever que a chamada “Revolução de 64” não passou de um golpe militar, o que é admitido, hoje, por qualquer pessoa sensata. Mas a direita guarda, ainda, uma certa nostalgia da época em que ninguém podia falar nada e expressar ideias era crime. Pouco importa, contanto que calassem a boca dos “comunas”.

Passados 50 anos do Golpe, reeditou-se a famigerada “Marcha da família com Deus pela liberdade”, marcha essa que antecedeu o Golpe de 1964. E, com um gigantesco financiamento por parte do PSDB (a reedição da UDN) e de agências norte-americanas (além, é claro, da ajuda do monopólio dos jornais e televisão) conseguiu-se levar às ruas uma multidão enfurecidas pedindo a derrubada da Presidenta da República.

Agora, surge, uma nova onda: a tentativa de provar que a direita é boa (depois de anos de miséria) e que a esquerda é má. Mas, para isso, era preciso livrar-se de um aliado incômodo: o fascismo.

No sítio Infomoney, saiu uma reportagem, publicada em 27/8/2015, com o título: “O fascismo não é de direita. Entenda”. Mas não conseguimos entender.

O texto começa com a ladainha de sempre: “Desde o colégio até a faculdade, ouvimos dos nossos ‘professores’ que o fascismo é de direita, que Cuba é um paraíso social e que os EUA e o capitalismo são responsáveis por todas as desgraças da humanidade.”

Em primeiro lugar, só ouvimos algo parecido a isso ultimamente, depois que reconquistamos nossa frágil democracia e mesmo assim em alguns nichos do sistema educacional. Quem se educou no Brasil de 1900 a 1985 nunca escutou algo nem de longe parecido com isso. Em segundo lugar, o texto já começa exagerando. Cuba sempre foi atacada como sendo um lugar onde existe uma terrível ditadura. Quando Fernando Moraes publicou A Ilha, mostrando os avanços sociais que o país tinha alcançado pela revolução, a imagem de Cuba, no Brasil, começou a mudar. Na verdade, Cuba era considerada um paraíso, pelos americanos, antes da revolução. De fato, era um paraíso para os americanos,  da prostituição, da corrupção, dos jogos, da máfia, mas não para os cubanos.

Quanto ao capitalismo, qualquer um que ler Marx verá quantos elogios ele faz ao capitalismo. O problema do capitalismo não é que ele seja bom ou ruim, mas que ele esgotou totalmente seu papel progressista e criador e, hoje, promove um verdadeiro retorno à barbárie no terreno social, econômico, político e cultural.

E, depois, colocar “professores” entre aspas, já demonstra a tendência do articulista, que é a de dizer que só diziam bobagens e que Cuba não é nada disso que disseram e que o capitalismo é uma verdadeira maravilha.

E, aí, vem a grande bobagem: “ser de direita é defender a liberdade individual”. Isso não é verdade. Essa pretensa defesa da liberdade individual (na realidade, uma defesa pura simples do individualismo, baseada na discutível teoria de que todo ser humano é egoísta por natureza) aplica-se apenas a um setor da direita, os ultraliberais e, mesmo assim, de maneira absolutamente platônica.

A velha pregação de Estado mínimo, seja lá o que for que isso signifique no mundo da fantasia, o livre mercado e a democracia, que se apresentam como bandeiras da direita, é, por essa mesma direita rejeitada. São palavras e nada mais do que palavras.

Sem a muleta do Estado, o capitalismo e a direita simplesmente deixariam de existir. O Estado é o sustentáculo político e econômico da direita, do capitalismo, em suma. Estado mínimo teria, portanto, a cínica missão de proteger os poderosos e oprimir ainda mais a classe operária e os pobres da sociedade. O Estado mínimo, nesse sentido, só é mínimo do ponto de vista social, mas continuaria a ser o mecanismo por meio do qual se transfere a riqueza social dos pobres para os ricos.

Quanto ao livre mercado, já é demais. O livre mercado é uma ilusão estúpida e uma relíquia do passado longínquo, e quem se apega a essa ideia ou é ignorante ou é demagogo ou, mais frequentemente, ambos. O surgimento dos monopólios foi o canto de cisne do livre mercado. Já há mais de 100 anos. As corporações dominam o mercado; aqui, elas mandam de maneira totalitária; e as pequenas empresas sobrevivem graças à ilusão de um dia serem grandes.

Mas a tese do articulista do Infomoney, o Sr. Alan Ghani, é de que o nazifascismo não poderia ser de direita pois os governos fascistas, todos eles, tinham controle absoluto sobre o Estado. E o autor demonstra sua profunda ignorância com um argumento que nunca colou, o de que o nazismo era socialista por que nazismo quer dizer nacional-socialismo. Quanta bobagem!

Mas, para que o leitor daquele arremedo intelectual entenda o que é o fascismo, o Sr. Ghani recomenda um artigo de Flávio Morgenstern, um blogueiro, cujo sítio, O Implicante, registrado no exterior, recebe fundos de fontes, no mínimo discutíveis. Mas, estaria esse Flávio Morgenstern apto para dizer o que é o fascismo? Claro que não. Tudo que diz o pretencioso entendido é que ele fica muito ofendido quando o chamam de fascista e dá a definição de fascista por meio de uma citação de um jornalista chamado John T. Flynn.

John T. Flynn era uma jornalista que tinha a estranha ideia de que nada era socialismo e que nada era liberalismo. Parece racional, não fosse isso uma crítica ao New Deal, programa do governo norte-americano para conter a crise de 1929. Flynn quer dizer, com isso, que o governo americano estava mais para o socialismo do que para o capitalismo. Na verdade, o New Deal foi um programa emergencial cujo propósito era salvar o capitalismo. E, sempre que o capitalismo precisa de uma injeção de ânimo, recorre a algumas melhorias sociais para evitar a contaminação da miséria sobre o restante da sociedade burguesa.

O mesmo ocorre com o fascismo. O fascismo é, sempre, o último recurso da direita diante do avanço do movimento operário. A esse assunto dedicaram-se intelectuais mais importantes do que qualquer blogueiro. Não apenas um teórico marxistas da estatura de Leon Trótski, que descreve em detalhes o que viria a ocorrer caso Hitler conquistasse o poder na Alemanha como ocorreu, mas inúmeros intelectuais como Walter Benjamin e Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse, Erich Fromm, Jean Paul Sartre e tantos outros, que definiram o fascismo como o desespero do capitalismo.

O fascismo procurou, diante da ascensão do movimento operário, diante do crescimento do Partido Comunista no mundo todo, diante das greves que ameaçavam pôr corporações inteiras na rua da amargura, diante das revoluções na Rússia, na Hungria e na Alemanha, sequestrar a classe operária, controlar os sindicatos e impor uma sanguinária ditadura para conter toda e qualquer manifestação operária e calar a boca do movimento comunista internacional.

O fascismo e sua vertente alemã, o nazismo, foram criados pelo próprio sistema capitalista e orquestrados nas grandes corporações para deterem o controle sobre a vida de todos os cidadãos. Hitler, para tornar-se senhor absoluto da Alemanha (na verdade era um fantoche na mão do exército e do grande capital), mandou pôr fogo no Parlamento e colocou a culpa nos comunistas. O mesmo estratagema foi usado no Brasil por Getúlio Vargas para impor ao Brasil o Estado Novo e anular a constituição democrática de 1934.

Vargas, como Hitler, colocou o Partido Comunista na ilegalidade. E Professor algum, quer na Alemanha, quer no Brasil, ousaria elogiar minimamente um Estado operário. É importante também deixar estabelecido que liberais dogmáticos como Von Mises não apenas saudaram o surgimento do fascismo salvador do capitalismo como participaram de governos fascistas.

Hitler levou o mundo à guerra para salvar o capitalismo.

Mas o artiguinho da Infomoney dá prosseguimento à sua tentativa de transformar a realidade. E vai bem, citando Luiz Felipe Pondé, como se esse senhor fosse alguma coisa além de lixo intelectual, além de um “filósofo” (esse sim merece aspas e não os professores que são muito mais honestos do que ele) venal, que escreve o que lhe mandam escrever, estilo revista Veja.

De acordo com o articulista, esse “filósofo” teria dito que foi a própria esquerda que criou, dialeticamente, o seu contrário, uma direita. Mas não é uma direita qualquer e sim uma direita maravilhosa, formada por anjos, emprestados por Deus do paraíso, para formar um grupo de jovens “que se identifica com Margareth Thatcher e Ronald Reagan e passa longe de qualquer ditadura, seja ela militar ou a do politicamente correto”.

Uma direita que se identifica com Margareth Thatcher e passa longe de qualquer ditadura. Mas, se a própria Margareth Thatcher, bem como os liberais Friedman e Hayeck, admirava Pinochet, um dos mais sanguinários ditadores que a América Latina já teve. Essa mesma Margareth Thatcher que impediu que Pinochet fosse levado ao Tribunal de Haia e que deu asilo temporário a Pinochet, dizendo a ele, em conversa televisionada para o mundo inteiro, que ele, Pinochet, havia prestado grandes favores ao Reino Unido.

E o que dizer de Ronald Reagan, responsável pela invasão de Granada, em 1983, e que financiava exércitos na América Central para derrubar o regime sandinista na Nicarágua? Será possível dizer que ditaduras passam longe desses sujeitos?

As ditaduras mais sangrentas do mundo foram financiadas pelos países de Thatcher e Reagan, além da França. Se O livro negro do comunismo fala da ditadura de Pol Pot no Khmer, esquece-se de falar das ditaduras da Indonésia, do Brasil, do Chile, da Argentina, do Paraguai, da Bolívia, do Uruguai, etc. Esquece-se de falar do domínio das companhias açucareiras sobre a América Central, da miséria que a dominação americana provocou em todos esses países, sobretudo em Cuba, que, antes da revolução, era um país controlado pela máfia do jogo e da prostituição, máfia essa que tinha sede em Miami. Cuba seria sim um paraíso social, se comparada com o que era antes da revolução.

E esses “professores” que teriam ensinado isso, valem muito mais do que os Pondés, Olavos de Carvalho, Morgensterns e toda essa direita opressora que hoje quer posar de defensora da liberdade individual.

*          *          *

Em tempo. Para entender o que são direita e esquerda.

A primeira vez que essa nomenclatura apareceu na política, foi durante a formação do primeiro parlamento britânico após a Revolução Gloriosa (1688). Lá, os conservadores, sentavam-se à direita (os Tories); os liberais, sentavam-se à direita (os Whigs). Vê-se, que nessa época, os liberais representavam a esquerda.

Mas o termo popularizou-se mesmo a partir da Revolução Francesa (1789), em que, mais uma vez, os democratas (burgueses) sentavam-se à esquerda, enquanto os conservadores (monarquistas) sentavam-se à direita. Não há dúvida que os liberais (democratas) eram de esquerda. E o eram pois a esquerda representava sempre a tendência revolucionária, reformadora de uma sociedade capenga, em ruínas.

No início do século XX, a direita era neoliberal, enquanto a esquerda era representada pelos socialistas e anarquistas. O anarquismo, no Brasil, controlava, na prática, grande parte dos sindicatos.

Depois da Revolução de Outubro (1917), na Rússia, houve um grande alastramento da influência dos partidos comunistas e social-democratas (socialistas), que passaram a tomar dos anarquistas o controle sindical.

O fascismo, tendência política que existia desde o início do século, a partir da década de XX, procurou captar para si a influência que a esquerda exercia sobre o operariado. A característica fundamental do fascismo era o nacionalismo, o qual, com o tempo, acabou por desenvolver-se em nacionalismo imperialista, ou seja, entendia-se que para que a nação se firmasse no mapa era necessário promover uma nova repartição da espoliação mundial, dominada completamente pelas “democracias”..

Para justificar esse predomínio, recorreu-se ao mito da raça superior ou da proteção da cultura e da religião nacionais. E para atingir esse predomínio era necessário um grande desenvolvimento industrial, e, para isso, a proteção da indústria nacional, ainda que se procurasse impor essa indústria aos países conquistados, anexados ou colonizados.

O fascismo procurou, em determinado momento, imitar as formas exteriores do comunismo para iludir a classe operária. Se fizeram nacionalizações, foi como parte de uma politica de crise, apoiada por toda a burguesia liberal que acabou por apoiar Hitler. Todavia, quando era necessário, recorria-se ao inverso, a privatização, que era, de fato a sua política fundamental.

O objetivo primeiro do fascismo, para que se construísse um Estado forte, era necessário promover o capitalismo. Era mister, portanto, controlar o movimento operário.

Hoje os teóricos do neoliberalismo, sobretudo os economistas de Chicago, entendem que para a implantação de uma economia cem por cento liberal é preciso controlar o movimento operário. Foi o que Margareth Thatcher fez na Grã-Bretanha e foi o que Pinochet fez no Chile. E, diga-se de passagem, tanto Margareth Thatcher como Pinochet seguiam as ideias de Friedrich Hayek, economista da famigerada Escola Austríaca, e professor da London School of Economics.

A Operação Condor, que coordenava a repressão entre os regimes militares da América do Sul nas décadas de 1971-80, foi apenas uma etapa desse controle. E as próprias ditaduras sul-americanas foram tramadas na própria Escola de Chicago.

Liberalismo, hoje, não tem outro sentido senão o controle da mentes das pessoas e uma acérrima ditadura.

Liberalismo hoje é a direita da direita. Não se pode dizer que o Partido Democrático nos Estados Unidos seja um partido de esquerda e que o Republicano seja de direita. O que se pode dizer, sim, é que o Partido Democrático está à esquerda do Republicano.

O Partido Republicano é um partido conservador. Prega o livre-mercado e colocou em prática uma politica neoliberal, a partir de Reagan, que resultou em um gigantesco fracasso. Daí, surgir uma tendência mais radical ainda: o Tea Party, que se situa à direita do Partido Republicano. O Tea Party não é um partido, mas um movimento. É contra qualquer assistencialismo por parte do Estado. E pregam: quem tem dinheiro para pagar um tratamento médico, que pague; que não tem, que morra.

Os membros do Tea Party definem-se como libertários, ou seja, ultraconservadores, que pregam o egoísmo -- pois, segundo eles, o egoísmo é a própria natureza do homem – e o individualismo – segundo eles, só o indivíduo pensa, só o indivíduo age, só o indivíduo tem consciência.

Pois bem, são esses mesmos libertários que divulgam a ideia de que o fascismo é de esquerda. Poderíamos concordar com eles no sentido de que o fascismo seria como o Partido Republicano e m relação ao qual os libertários estariam à direita. Mas a coisa não é assim. Muito pelo contrário. Tudo isso é a direita. Pois direita significa, apenas e tão somente, uma tendência conservadora, que não quer o progresso da humanidade, pois tudo era bom antigamente. A direita é o que existe de reacionário na política. E os próprios libertários se orgulham de serem chamados de reacionários.

Mas os reacionários são aqueles que querem que a sociedade se mantenha como está, ou como era antes de ser corrompida. O americano tem de continuar a ser protestante, branco e de origem anglo-saxônica. A Ku-Klux-Klan, por exemplo, foi um grupo racista formado por libertários. Perseguia negros, da mesma forma que os nazistas perseguiam judeus e ciganos.

Comunismo e nazismo nada têm em comum. Mas o libertarianismo tem muito em comum com o nazismo. E seria ainda pior, não fosse a pequenez de suas ideias e de seus integrantes.


Causa Operária - O fascismo é SIM de direita. Entenda

Nenhum comentário :

Postar um comentário