Eduardo Cunha é um covarde. Sabe muito bem que o governo não
conta com poder de influir no MP a ponto de dar condução às investigações da Lava Jato. Pelo
contrário, tem sido seu alvo preferencial. Os demais não passam de coadjuvantes
nesse teatro do absurdo de enredo kafkiano. Sem falar que no meio da patuleia
estão alguns de antemão já devidamente blindados.
O super-homem da câmara baixa, assim como todos os
candidatos dos partidos aliados, elegeu se no esteio do sucesso petista no
governo. Com frequência alegando a aliança com o partido de Lula. O rompimento
do PSB, em função da candidatura do outro Eduardo, o Campos, somado ao recuo
eleitoral do Partido dos Trabalhadores, possibilitou ao PMDB o exercício de
cerrada hegemonia sobre a coligação que manteve Dilma no Palácio do Planalto.
Golpeando o PT, Cunha arrancou-lhe a presidência da Câmara. Ao lado de Renan,
reconduzido à direção do Senado, passou a encerrar nas mãos poderes maiores do
que seria conveniente deter.
De modo que essa concentração de poder não incomodou somente
ao governo. Com suas posturas, passaram a por em risco o PSDB em seu próprio
campo, disputando com ele o espaço da oposição. E nessa peleja levava a
vantagem de ocuparem posições estrategicamente privilegiadas na estrutura do
poder e do partido majoritário no governo. Bem entrincheirados, achacam e
chantageiam o governo a vontade, ao mesmo tempo em conseguem neutralizar a oposição original,
a dos tucanos.
Mas de onde provêm de fato os golpes que deixaram Cunha
atordoado e na iminência de levar um tombo lá de cima do mais alto dos
coqueiros?
Só sendo um imbecil do tipo que presumo falar Umberto Eco,
não é capaz de perceber a estreitíssima relação, quase íntima, pra não dizer
promíscua, do Ministério Público com o PSDB.
Chega a ser obsceno. Poderíamos
enumerar uns cem números de situações em que a mancebia verificou-se patente e
notória. Sob o governo de FHC, reinou
Geraldo Brindeiro, primeiro e único, em 4 mandatos na Procuradoria Geral da
República. Em seu reinado, o Procurador
Geral converteu-se em “Engavetador Geral”. Foi investido por três vezes ao arbítrio de
FHC, exercido por direito pelo presidente da república até 2001, quando passou
a vigorar a regra da lista tríplice. De acordo com ela, o procurador seria o
escolhido pelo chefe do executivo, entre
os três mais votados em eleição realizada entre os pares do ministério público .
Não obtendo votos suficientes para sequer
integrar a lista, mesmo assim, FHC “engavetou”
a norma e reconduziu Brindeiro ao cargo por uma quarta vez. Mais de 4.000
processos tomaram o destino das suas gavetas. Não foi a toa que parte
considerável da população não tenha tido a menor percepção do quão era
escandalosamente corrupto o governo tucano.
Convém lembrar que desde o governo Lula, e nisso foi seguido
por Dilma, que o procurador escolhido pela presidência é aquele que encabeça a
lista tríplice. Cai por terra assim, a teoria da conspiração que denuncia
suposto aparelhamento do estado pelo Partido dos Trabalhadores.
Apesar do comportamento republicano dos petistas, os
sucessivos procuradores indicados por eles,
ao contrário de Brindeiro com FHC,
dedicaram lhes tratamento que podemos considerar na melhor das
hipóteses, como no mínimo, rigidamente
criterioso. De fato, assim deve ser. Mas não raro, chegaram às raias do exagero,
havendo caso em que se verificou abertamente
hostil, como foi Roberto Gurgel. De nenhum
deles contou com cumplicidade ou leniência.
Não é apenas na figura do procurador que se pode perceber a
identidade do MPF com os tucanos. Ao que
tudo indica, a criatura deixou ovos em profusão plantados naquele corpo. De tal maneira que dificilmente a instituição
enfrenta até as últimas consequências, qualquer habitante do ninho tucano. Isso quando não continua a “engavetar”, protelar ou fingir se de João Sem Braço
diante de casos que os envolva. Recentemente assistimos à apreensão de um
helicóptero pertencente a uma família de políticos aliados de Aécio Neves
carregando meia tonelada de cocaína. No dia seguinte ao evento representantes
do MP de pronto trataram de afastar qualquer hipótese de envolvimento do
Senador e de seu filho deputado no crime. Rapidamente a aeronave voltou para o
domínio dos proprietários e nenhum envolvido encontra-se preso para responder
pelo grave delito, nos termos da nossa lei de drogas, que vitima milhares de
jovens e coloca tantos outros nas penitenciarias.
Diante de tantas demonstrações da extrema consideração que
essa instituição devota a um partido político, não tem como então, Eduardo
Cunha querer que tenha sido o governo federal e o PT, os responsáveis por
empurrá-lo para dentro do redemoinho da lava jato. Mas, entre enfrentar o MP e
o PSDB por trás dele, ou espancar um governo fustigado pelos mesmos que o
fustigam agora, respaldados por uma mídia em guerra permanente contra o PT,
preferiu jogar pedra na Geni.
Com sua reação ameaçadora, responsabilizando o governo
pela desventura que se abate sobre ele,
rato que é, quer evitar o confronto direto com o MP e os tucanos. Em comum com eles, a mesma sanha golpista. Mas
se desentendem no que toca à partilha do saque. Espera talvez que, declarando-se na oposição logrará
um recuo na ofensiva que desfecham contra sua pessoa. Facções criminosas,
entretanto, não costumam ser solidárias
em vista dos seus interesses na apropriação do butim que visam amealhar.
Cunha sai do governo desprovido das vantagens que o jogo do
claro escuro proporcionado por sua oposição na situação lhe garantia. O PMDB, através de Michel Temer, manifestou
se em favor da permanência na base, o
que reduz sensivelmente seu poder de fogo. Um alívio para o vice-presidente da
república constantemente exprimido que era pela truculência do correligionário.
De modo que não representa nenhum “reforço” para a oposição. Nela, terá de
debelar sua megalomania e contentar-se com uma posição subalterna no novo
contexto.
Para ele será como ter nadado, nadado e morrido na praia.
Sentir nos dedos o calor do poder e vê-lo escapar como a dissipação de uma
miragem é amargar cem anos de frustração.
Nadando já estava o PSDB. A fina flor da burguesia
entreguista do estado mínimo minimorum, não está disposta a ceder espaço para o
Quasimodo fisiológico parasitário do estado. Definitivamente esse aliado só
merece o seu escarro.
Cunha é ousado, atrevido e obstinado. Mas deixando se cegar
pela ambição, acabou faltando-lhe a visão do todo. Ou ainda, quem sabe tenha cabulado
à aula de física em que foram expostas as leis de Newton, ficando sem saber que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no
espaço.
É lícito supor que o ungido foi subtraído da graça do
Senhor, sendo iminente a expulsão do paraíso. Resta ao anjo caído reinar em seu
inferno particular, prenunciando o surgimento de uma nova igreja ostentação no
mercado da fé.
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