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terça-feira, 9 de agosto de 2016

O ESPORTE E A POLÍTICA

O ESPORTE E A POLÍTICA
(Reginaldo Veras)
Desde menino ouço falar na política do pão e circo, termo comumente utilizado para as ações que determinados Estados e/ou Governos adotaram, ao longo da história, a fim de usar mecanismos de lazer para manipular temporalmente a população e fazê-la esquecer das mazelas sociais, políticas e econômicas.
Nunca gostei muito desse termo. Talvez por ter sempre acompanhado e me divertido com os grandes eventos esportivos, sem perder o foco das demais temáticas que envolvem a sociedade. Dessa forma, humildemente, aproveito esse momento de confraternização do esporte mundial e de euforia com a conquista da primeira medalha de ouro olímpica da delegação brasileira para alertar a respeito de alguns temas relevantes, segundo a minha ótica, é claro.
O Brasil começa bem no vôlei feminino contra “los hermanos”. Mas não percamos o foco. Na Câmara, em velocidade que humilharia Usain Bolt, avança o PL 257, que entre outras, renegocia as dívidas dos estados com a União. A imprensa não divulga, mas em tempos de defesa da responsabilidade fiscal, o projeto é um prêmio aos governadores gastadores e irresponsáveis e pune os que geriram os recursos públicos com o mínimo de austeridade. Se aprovado como querem, concursos públicos e aumentos salariais ficarão praticamente impraticáveis nas duas próximas décadas.
Esta semana, o assumidamente corrupto e empreiteiro Marcelo Odebrecht, em delação premiada ao Juiz Sérgio Moro, afirmou que o Ministro das Relações Exteriores do Governo Interino, o Senhor José Serra (PSDB), recebeu R$ 23 milhões de caixa 2 na campanha de 2010. Parte do vultoso recurso foi depositado no exterior, creio que não preciso explicar a irregularidade, e é oriundo das obras do Rodoanel. O ex-governador e atual Ministro negou e não demorou a justificar que suas contas foram aprovadas pela justiça eleitoral. Questionador que sou, pergunto: esse argumento não é o mesmo usado pelo Partido dos Trabalhadores para justificar as doações eleitorais para a campanha de Dilma? Os recursos doados pela empreiteira do delator para a campanha da petista são ilegais e os doados para a campanha do partido adversário são legais? Lula não podia ser ministro, mas o Serra pode? Juro que a análise pragmática e coerente que sempre procuro fazer está em xeque.
Na mesma delação, o presidiário Odebrecht, que teve e tem trânsito em todos os Governos das últimas décadas, disse ter doado R$ 10 milhões em dinheiro vivo e ao vivo para o Presidente Interino Michel Temer. R$ 4 milhões repassados para Eliseu Padilha, que também é Ministro. E da Casa Civil. O mesmo ministério que Lula não pode assumir. E ele, pode? Os outros R$ 6 milhões chegaram por intermédio de Paulo Skaff, o poderoso presidente da FIESP. Aquele que sonha em ser Presidente ou Governador de São Paulo, mas que não tem voto para isto. Aquele que criou o pato amarelo, presente em várias manifestações, em tese para protestar contra a alta carga tributária, mas que agora apoia o Governo Temer em projetos que aumentam os impostos e que retiram conquistas dos trabalhadores, passando pela jornada de trabalho e pela reforma previdenciária. Logo, olhando o amarelo das meninas do vôlei, que nunca mais amarelaram, volto a perguntar: quem pagará o pato amarelo?
E se juiz Moro tiver a mesma impetuosidade em investigar as umbilicais e suspeitas relações entre o presidente peemedebista e a grande empreiteira, será que aumentará pelas ruas do país o coro Fora Temer!?
E se ficar provado crime envolvendo o provável novo Presidente, ele será impedido? Respondo: legalmente, não, pois o crime ocorreu antes do seu mandato. E politicamente poderá sofrer o processo de impeachment? Creio que não, afinal de contas ele usa mesóclise.
E não esqueçam: de forma avassaladora as meninas do vôlei acabam de fechar o primeiro set. Por fim, aproveito que estava acompanhando a novela global Velho Chico e pergunto, o que creio todos esperamos: pau que dá em Chico, dá em Francisco?

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