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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ÁFRICA BRASIL E UM CASO EXPLÍCITO DE ASSÉDIO MORAL

A professora África Da Silva Brasil está a apenas quatro anos da almejada aposentadoria. Depois de  31 anos de uma vida dedicada à uma intensa militância docente, dentro da sala de aula, no exercício do magistério,  e fora dela, lutando pelos direitos e demandas da categoria e da educação.
Sua geração derrotou uma ditadura, recolocou os sindicatos na rota das lutas, fundou partidos, e  em meio  às trevas do neoliberalismo  acendeu  a lanterna da esperança.
Na sequência de tantas lutas e vicissitudes conseguiu a proeza de concentrar sua carga horária na  escola em que leciona  há quinze anos. A disciplina que ministra padece do fato de ser subvalorizada na grade curricular,  obrigando muitas vezes o(a) professor(a) buscar lotação em várias unidades escolares. É de se lamentar que num país tão carente de reflexão, a Filosofia, assim como a Sociologia, não conte com o devido reconhecimento da parte dos responsáveis pela condução das políticas públicas para educação, em que pese os avanços obtidos em vários aspectos. O transtorno causado aos profissionais  é só o efeito colateral de uma lacuna que com certeza  provoca prejuízos bem mais transcendentes à juventude e à sociedade.
Mas na  situação em que se encontrava, África sentia se  contente e segura. Faltando tão pouco tempo para se aposentar quis crer que não seria mais submetida a nenhuma desesperada maratona por lotação em outras escolas e aos problemas que isso implicava. Não tem carro, e já não é mais tão jovem para se deslocar entre diferentes pontos da cidade dentro de um ônibus. Sem falar nas afinidades surgidas e  consolidados ao longo de 15 anos de atividade naquele espaço.
Até então, essa possibilidade se mostrava remota. Mas a vida costuma pregar peças. Pior é que não falta quem ajude nesse sentido. Os ventos mudaram para África quando o governo baixou a portaria de lotação que imprimiu mudanças drásticas na organização das escolas. Uma medida de caráter austericida, cujos efeitos mais danosos foram atenuados  após a intervenção do sindicato. Não foi  suficiente, no entanto,  para evitar um grande estremecimento na vida funcional da professora. Sua carga horária  compreendia algumas horas na sala  de multi meios como apoio pedagógico, mas a função não escapou ao corte da portaria. De modo que África viu uma enorme brecha se abrir na sua planilha.
Contou encontrar solução por dentro da própria escola. Tinha de correr atrás,  pois verificara que os horários já estavam definidos e as aulas que poderiam completar sua carga horária,  tinham sido destinadas a outros colegas.  Alguns até mais recentes do que ela na escola, inclusive  ingresso no último concurso e até quem não tivesse habilitação para ministrar a disciplina.
Ao mesmo tempo sentia  o coração apertado pois se obrigaria a questionar essas lotações,  disputando a unha sua posição  na escola.  Isso a deixava bastante angustiada..  Confiava que o choque poderia ser evitado caso o diretor da escola lhe reservasse a regência da sala de multi meios. Afinal, ela se enquadrava nos critérios exigidos e seria perfeito principalmente por passar ao largo de qualquer prejuízo para ela, para os colegas e de quebra, evitava se o esforço de fazer alterações nos  horários já definidos.
Mas o diretor deixou  claro não ser o caso e que tinha outro plano para a sala de multi meios, , E ele não incluía a colega.
Ficou desconcertada com a reação.  Não queria prejudicar ninguém, mas pelo visto ninguém parecia estar preocupado com os transtornos que aquilo lhe causaria. Além da crueldade e do sadismo pois sequer se prestaram a garantir sua lotação em outra escola. Deixaram na a míngua, em meio a promessas vazias de suposta ajuda.  
Ao longo de sua trajetória na educação cearense África doara parte considerável do seu tempo e de suas energias em lutas sem fim. Boa parte delas, inglórias...  Naquelas em que triunfou, não estava sozinha, de modo que nada foi revertido  em benefício pessoal, a não ser o que coubera a todos receber.  Até porque nunca esperou ou almejou qualquer coisa nesse sentido. Sua luta era coletiva e em benefício do coletivo. Só não esperava  naquela altura da sua vida profissional sofrer tamanho desrespeito e desconsideração por seus colegas.
Mas não se deu por rendida.
Procurou o sindicato da categoria e com ele dirigiu se à secretaria de educação para ter com o responsável pelos  processos de lotação  nas escolas. Por duas vezes voltaram batendo. Com os olhos voltados para o monitor, o dito cujo dava respostas evasivas,  além de considerar como fato consumado a precarização de sua situação na escola, de modo que deviam encontrar uma solução que não considerava a integralidade da carga horária nela. Irritou-se com a presença do sindicato.  Confirmou ser prerrogativa do diretor indicar o regente do multi meios e em face do fato de pessoas inabilitadas ocuparem sua disciplina, alegou que as escolas recorrem a esse subterfúgio para fechar os horários.  Embora se trate de um procedimento irregular, justificasse apenas na medida em que não haja profissional habilitado disponível na rede...O que não é o caso. Havia o professor habilitado, e ela estava em atividade na própria escola. O mais incrível era saber que mesmo contando ainda ser uma das professoras mais antigas em exercício, justamente ela tivesse sacrificada sua lotação. E mais, havia uma solução disponível  que evitaria todos aqueles embaraços, e não era adotada por conta da clara disposição do diretor em excluir a professora.
Nada disso serviu para convencer o coordenador da justeza do seu pleito , ficando a impressão de que agia em comum acordo com o diretor...
De modo que, o  que parecia ser  uma simples querela em torno de lotação, os fatos, as atitudes e os interesses ocultos em jogo, demonstram de forma contundente que a professora é alvo de um ato covarde e repugnante de assédio moral.
Para África a briga começa agora...  !
Baseado em fatos reais.




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