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domingo, 28 de agosto de 2011

UM PASSO ATRÁS, DOIS PASSOS A FRENTE!

Aparentemente estamos  diante de um dilema . O AURÉLIO define dilema como “argumento composto de duas proposições contraditórias. Situação embaraçosa que apresenta somente duas soluções, ambas difíceis ou inconvenientes,  o que gera perplexidade para uma opção.” É exatamente o que parece estar acontecendo com os professores no presente momento da greve que deflagramos em defesa do nosso plano de carreira. No caso, temos diante de nós duas opções: retomar as negociações com o governo do Estado, condicionado por ele com a suspensão da greve ou, rechaçarmos essa possibilidade dando continuidade ao movimento paredista na forma como está sendo conduzido.
Será de fato um dilema? Se não, vejamos.
É  a maior greve  já realizada na história do movimento sindical dos trabalhadores em educação do Ceará. No caso, apenas de um segmento significativo da categoria, os professores.  Uma greve que transcendeu suas motivações economicistas, uma vez que até mesmo nossos companheiros temporários que, mesmo com as vantagens conquistadas ainda na fase anterior de negociações com o governo, mesmo assim aderiram ao movimento  quando aparentemente tinham fortes motivos para não fazê-lo.  Nossos colegas em estágio probatório, obtiveram vantagens salariais imediatas, e mesmo isso não impediu  a percepção de que tais vantagens eram momentâneas e em breve futuro estariam surrupiadas pelos movimentos da economia e pelo achatamento da carreira, promovido pela proposta de PCCS apresentada pelo governo. Alunos e pais apóiam a luta dos professores participando efetivamente das ações promovidas pela APEOC e muitas vezes pela categoria de forma espontânea, sem a presença física dos dirigentes sindicais que, nessa situação ficam sobrecarregados e impossibilitados de estar em todos os lugares onde a greve está se realizando.  Diga-se de passagem, que desde 2006, quando tiramos do papel a Progressão Horizontal que  por  13 longos anos dormitou sem regulamentação em nosso atual Plano de Carreira, a categoria resgatou todo seu poder de mobilização, amofinado por largo período, devido ao divisionismo que afetou nosso movimento.
 Se estivéssemos fazendo a greve pela greve ou, o que  ao menos seria uma motivação mais razoável, tentando restabelecer a confiança da categoria em suas instituições organizativas e seu poder de mobilização, seria compreensível e até, como no último caso, justificável decidir -se pela continuidade, sem recuo, da greve. Mas essa opção deve ser ponderada pela observação das experiências recentes das greves promovidas em função da implantação da lei do piso salarial em nível nacional. Exemplo que tivemos bem aqui perto de nós, na capital de Estado. Quase todas elas foram postas na ilegalidade. Por mais que se argumente em favor de algum recurso jurídico que venha a nos proteger dessa  situação ou mesmo permitir a prorrogação da greve por via de liminares, como se cogita em alguns momentos, não deixa de acontecer que nessa situação perde-se o foco  e o motivo gerador da greve, empurrando a pauta para um patamar rebaixado. A quem interessaria chegar a esse ponto? Por óbvio que ao próprio governador. A nós é que não deve interessar.
Por outro lado, a alternativa da retomada das negociações com o governo impõe a readequação de nossa estratégia. É bem verdade que pode colocar-nos ao sabor das manobras do governo e vai exigir grande esforço de nossa parte para  manter o ânimo da categoria  e adequar  as estruturas organizativas do movimento. Embora não seja inédita uma ação desse tipo, com o  retorno  à rotina da escola e, no caso de não se alcançar entendimento, retorno à greve; pelo tamanho do agrupamento de pessoas posto em movimento, reconhecemos que teremos que despender esforço hercúleo e  fazer uso de toda a criatividade que tem marcado a presente greve, para lograrmos isso.
Enfim, estamos naquela situação de fazer a escolha entre o certo e o duvidoso. A não aceitação da retomada das negociações implicará fatalmente na decretação da ilegalidade da greve. Querer enfrentar e afrontar abertamente  a draconiana legislação antigreve  imposta aos servidores pelo STF, contra a qual o movimento sindical em seu conjunto ainda não se articulou suficientemente para impor a  sua supressão, vai nos levar ao ponto onde chegaram as demais fazendo-nos reescrever a crônica da derrota anunciada. Essa é a opção de resultado certo.
A  retomada da negociação não significa nenhuma garantia de vitória. Até porque Isso de fato, não existe em qualquer circunstância. Apenas deixa-nos em aberto o campo das possibilidades. Essas até podem ser duvidosas, mas possíveis de acontecerem!Daí dizermos que  esse é um  dilema aparente, pois estão bem claras as conseqüências de cada uma dessas opções.
Adentramos um terreno íngreme e perigoso em nossa jornada, mas ainda pisamos sobre o chão. Terrível será se nos faltar a terra sob os pés. Cabe à categoria decidir e ao sindicato orientar. Mas só se consegue orientar  àqueles que mantêm olhos, ouvidos e mente aberta. Mentes fechadas e dogmáticas não aceitam orientação e sequer qualquer opinião diferente da sua, pra não falar das divergentes. Afinal, parecem achar que já nasceram falando!

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