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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CONFORMAREMO-NOS EM ESCREVER A CRÔNICA DE UMA DERROTA ANUNCIADA?

A greve dos professores do Ceará está em movimento ascendente e acelerado. A adesão é massiva, sem contar com resistências maiores até mesmo entre  os companheiros contratados em caráter temporário. É um movimento que reflete a capacidade de organização e mobilização da categoria, que conta com um dos sindicatos mais poderosos do Ceará. Esse é um momento que gera muito otimismo e confiança em nossa capacidade de lutar e cabe ao sindicato dar um sentido positivo ao movimento indicando uma trilha diferente daquelas que foram tentadas até aqui, de modo a não resvalarmos nas mesmas situações que empurraram para a derrota outros  movimentos similares pelo país afora, inclusive em Fortaleza.
Uma característica diferente dessa greve  é que parece ser muito forte o sentimento favorável à unidade da categoria. Isso é muito positivo. Conseguiu-se estabelecer desde sua deflagração  relações mais estáveis entre a direção do sindicato e setores  que se opõem à ela e ao próprio sindicato. Isso de fato, é inédito. Em nenhuma greve convocada pela APEOC anteriormente, esses  segmentos  deram algum  fôlego à entidade. Dedicava-se mais tempo em se tentar articular algum momento de unidade mínima em reuniões e mais reuniões que, girando em torno de debates inúteis e de baixo nível,  terminavam sem que se desse direcionamento pensado e refletido ao movimento. É possível que os acontecimentos da greve de Fortaleza, que contou com o  direcionamento exclusivo  de nossos colegas, tenha lhes arrefecido a fé cega que detinham em seus métodos de enfrentamento direto, sem dar margem a qualquer questionamento.
Paralelo a esse fenômeno, surgem franjas de novos ativistas, recrutados em sua maioria entre os recém ingressos na carreira por via do último concurso público. A princípio adotaram de forma quase imediata o discurso do SINDIUTE/CONLUTAS que, cotidianamente distorciam fatos e interpretações  de modo a se criar forte animosidade contra entidade. Esses jovens companheiros e companheiras enfrentaram um dos mais difíceis concursos públicos da história da educação cearense. Amargaram um ano inteiro de avaliação, enfrentando enormes dificuldades impostas pelo governo que praticamente  mandava que pedissem  para sair. Após ultrapassar os umbrais da estreitíssima porta de entrada veio o governador  lhes indicando a da saída. Mais recentemente,  em um momento de destempero, bem típico do irmão e fundador de sua corrente política, o “Cirismo”,  disse isso de forma literal. Deveria  compor o elenco do “Bofe de Elite” do conterrâneo Tom Cavalcanti. Cairia-lhe bem. Diante disso ficou fácil serem capturados pelo discurso sectário dos que sempre pregaram o fim da APEOC.  A greve funcionou como elemento aglutinador de modo a facilitar o diálogo da entidade com esse segmento, o que pode significar um momento novo e muito rico de renovação  nos quadros do sindicalismo, contrariando certo antisindicalismo praticado até aqui.
Debeladas as oposições internas no movimento, mais por força das circunstâncias do que por qualquer ação deliberada da APEOC, agora  precisamos nos voltar com toda atenção para nosso objetivo que é a manutenção e ampliação de nossos direitos  no plano de carreira. Alias, nos concentrarmos nos procedimentos que vamos adotar daqui pra frente. A greve tende a chegar ao seu ponto alto em termos de adesão. Daí em diante tende à rotina e ao marasmo. Não se pretende realizar nenhuma revolução que possa estar na ordem do dia em  qualquer momento no futuro.  Entretanto, se o movimento continuar reduzido aos limites da categoria dificilmente conseguiremos ir além do ponto aonde chegaram os demais. Teremos de desenvolver esforço hercúleo em torno do novo e do inédito que causará surpresa e impactará as estratégias do governo, montadas em função dos passos previsíveis de nosso movimento. Seguir a receita do grevismo puro e simples como se obedecêssemos a um script de novela global, em que os primeiros capítulos denunciam toda a trama que leva ao desvelamento do que se apresentará no último, seremos presas fáceis de argumentos jurídicos falaciosos imputados às greves do funcionalismo no último período; quase todas elas jogadas na latrina da ilegalidade.
Fazer o quê exatamente? Em primeiro lugar não termos respostas prontas e acabadas, tiradas dos arquivos dos discursos feitos e repetitivos que abundam em nossas assembléias.  Se não temos essa resposta posta de imediato em nossa consciência, é importante termos ciência do que pretendemos agora. Em nosso entendimento, para  romper  o cerco que o governo tenta nos impor, temos de atingir o coração dos cidadãos, conseguir fazê-los entender que nossa luta não se limita a objetivos estritamente econômicos. Assim como um companheiro dizia em uma rede social, teremos de fazer algo que gere grande comoção. Mas ao contrário dele, que apresentava isso em uma dimensão negativa que certamente causaria efeito contrário ao  pretendido, deve ser positivo no sentido de tirar a sociedade de seu alheamento em relação à nossa causa. Trazê-la para nosso lado. E mais uma vez se baseando na fala do companheiro do Orkut, teremos de recorrer a sacrifícios. Mas não se trata do ato sacrifical autodestrutivo que insinuava, mas o sacrifício em termos de nossos esforços e investimento em uma grande atividade que marque a história das lutas sociais no Ceará e quiçá, no Brasil.
Para isso não podemos ser modestos. Transformar nossa luta em uma causa de toda a sociedade tem sido uma constante em nossas falas.  Apenas  não foram estendidas a quem interessa, ou seja, à própria sociedade.  Como fazê-lo? Não acham que é chegada a hora de se pensar nisso!? Não interessa a ninguém nos reduzirmos a escrever a crônica de uma derrota anunciada. Nosso maior inimigo agora não é mais o imobilismo, pois mobilizada a categoria está. Mas sim, outra coisa  mais sutil e quase imperceptível: o imobilismo mental.

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