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sábado, 28 de setembro de 2013

EM DEFESA DE ROBERTO KANGAIA




Chegaram- nos notícias preocupantes do Cariri, mais especificamente do Crato, acerca de uma possível expulsão dos quadros do PT, do companheiro Prof. Roberto Oliveira. Roberto Kangaia, como também é conhecido, por conta de uma alcunha de família, é militante histórico do partido e desempenhou papel fundamental  em sua criação e consolidação, assim como  também da fundação da CUT,  no Ceará e no Cariri principalmente,  onde no presente instante, exerce a coordenação da CUT  Regional. Portanto, não se trata apenas de um simples filiado ou militante de pequena expressão. Trata se de pessoa que fez ingentes esforços para erguer o que hoje são as maiores instituições políticos da classe trabalhadora na América Latina. O motivo alegado é o fato de ter apoiado candidatura diferente da do PT em 2012, no Crato, apesar do PT contar com candidatura própria.
Há de se reconhecer que incorreu em grave erro, cometendo desvio passível de punição prevista no estatuto do partido. Longe de nós, tentar justificar tal atitude e até mesmo, fazer defesa acrítica do companheiro, desconsiderando a infração cometida. Contudo, lendo os documentos produzidos no bojo dessa questão, especialmente a ata da reunião que decidiu por encaminhar à comissão de ética pedido de análise e tomada de procedimentos previstos para tal caso, alguns aspectos nos chamam atenção. Analisando se bem chega se a suspeitar de tratar se mais de vendeta do que propriamente buscar se o disciplinamento da militância no tocante à fidelidade para com o partido e o seu programa.
Em princípio, questionamos que se tome uma decisão dessa natureza com base tão somente  na letra fria da normatividade partidária. Há de se considerar a realidade do calor da luta política, a história e o tempo que ela implica, além da energia despendida em uma vida entranhada em sua maior parte, com a própria vida do PT.  Não é admissível que alguém que sacrificou horas, dias, anos, em detrimento do convívio familiar e dos amigos, do  investimento em projetos pessoais que poderiam trazer lhe maior retorno material; que nunca obteve benefícios maiores ao longo desse percurso, que poderiam legitimamente serem lhe  concedidos em forma de cargos comissionados  ou assessorias políticas, tanto no parlamento quanto nos governos que o PT exerce nas diversas esferas da República; e apesar disso, ainda não poder contar com o peso da sua história numa decisão que  toca no âmago de sua filosofia de vida e da sua consciência política. É algo que beira a crueldade. É possível que um erro apague completamente toda a luta de uma existência?
Errou de fato, mas convenhamos, naquilo em que errou não poucos já erraram.  Lamentavelmente, em vários momentos da história do PT vimos casos como esse acontecerem com certa frequência. Em algumas situações chegou a envolver pessoas em posições chave no partido. Nem sempre se dá de forma aberta e assumida publicamente. Sem dúvida que seria muito correta a iniciativa do PT cratense se fosse tão comum a aplicação de sanções sobre os que já cometeram os mesmos desvios e outros até bem piores. E aí seria o caso de ter se punido o imenso número de petistas que em Fortaleza, apoiaram e votaram em Inácio Arruda no primeiro turno das eleições de 2006, quando a candidata petista, Luiziane Lins, conquistou seu primeiro mandato.  E a se dar crédito às denuncias que o companheiro faz em seu documento de defesa, sobre militantes cratenses que agiram da mesma forma em pleitos anteriores, chegamos a um ponto situado em lugar que está bem aquém da política; se considerarmos que entre os denunciados em seu documento, estão alguns de seus acusadores ou pessoas que lhes são muito chegadas. Se for verdade o que diz, estaremos diante então,  de uma cabal demonstração de explícito e descarado cinismo.
Se estiver claro que Roberto e outros companheiros também denunciados, cujos processos desconhecemos o encaminhamento,  incorreu em erro, seria exercício de alteridade elementar buscar saber por que um militante até então zeloso de sua fidelidade ao partido que ajudou a fundar, chegou ao ponto de dar apoio a outra candidatura.  O que o moveu, segundo afirma em documentos e pela imprensa local, foi o sentimento de revolta que o invadiu ao ser tolhido no direito de lançar pré-candidatura à prefeitura do seu amado Crato. Vejam bem, não estava magoado por ter sido preterido em uma disputa interna, mas justamente pelo fato dela não ter ocorrido. E, segundo Roberto, não ocorreu por conta de manobra que o manteve alheio aos prazos e datas para registro de sua pré-candidatura. Depois disso, no encontro para definição das candidaturas, foi impedido de apelar ao plenário pelo direito de lançar seu nome.
Agindo sob o signo da emoção declarou seu apoio à candidatura de outro partido, integrante do arco de alianças do PT. Seu temperamento combativo o levou a confrontar o candidato Marcos Cunha, equivocadamente acabou confrontando o próprio partido.  Enquanto isso, outros companheiros, em  momentos eleitorais diferentes, fizeram o mesmo,  movidos unicamente pela lógica fria dos interesses eleitorais ou de retornos políticos e materiais. Além disso, não se pode desprezar o fato de que, ao apoiar candidato que logrou eleger se, não recebeu da parte dele nenhum benefício posterior. Isso denota que agiu gratuitamente, movido por incontornável revolta.
É bom recordar igualmente que se fazer uso de ardis que ferem os mais elementares princípios da democracia petista deve ser desvio igualmente passível de sanção.
Mas não é apenas esse aspecto que nos chama atenção nessa querela.  Na verdade, o que nos causa mais espécie é a fala de um membro da executiva do Crato, na ata  da  reunião do dia 15 de Outubro de 2012, em que se decidiu pelo processo disciplinar que hora se move contra Kangaia.  Trata se exatamente de quem sagrou se candidato à prefeitura do Crato pelo PT no encontro em que Roberto se viu impedido de lançar sua pré-candidatura. Diz o dirigente petista: “não me surpreendo com um partido em que após o processo do Mensalão, readmitiu o Delúbio como filiado, que fez acordo com o Maluf em São Paulo”. Ora, afinal o que temos aqui? Dá vontade de perguntar: que m. é essa? Parece-nos que deveria ser outra a pessoa a sentar no banco dos réus. E essa pessoa deveria ser justamente o autor dessa frase lapidar. Atentem para o fato de se tratar de um dirigente petista e ex candidato a cargo majoritário. No entanto, suas palavras mais parecem ter saído da boca de um militante do PSOL, partido no qual, o companheiro confessa ter votado no primeiro turno das eleições de 2006, para só em seguida votar em Lula no segundo turno. Afirma ainda que as “pessoas de esquerda” votaram em Heloísa Helena naquele momento, o que nos faz deduzir que,  para ele, os petistas que votaram em Lula no primeiro turno, não eram de esquerda.  Confessa inclusive que na época não estava filiado ao PT. . Não esclarece se não estava porque nunca fora filiado ou se saíra em função da crise golpista do Mensalão.  Não seria problema se ao retornar, ou aderir ao PT, fizesse auto crítica da posição anterior. Mas não foi o caso. Pelo contrário, com essa fala demonstra portar a mesma opinião dos que romperam com o partido para fundar o PSOL. Com isso, demonstra concordar com os resultados do julgamento da AP 470, apesar de toda a campanha de denuncias feitas acerca dos seus procedimentos, em que se viu sacrificado o princípio da presunção de inocência dos réus,  a limitação do seu direito de defesa, além do apelo a teorias concebidas para serem aplicadas em situações extraordinárias, como a do Domínio do Fato, para acomodar uma condenação de quem contra ele nada foi provado.  Uma aberração jurídica que marcará a história política brasileira. 
Mas, o companheiro Marcos Cunha, o dirigente de quem falamos,  desconhece tudo isso e se mostra indignado pelo fato do PT,  não corroborar com as teses do PSOL,  do PSDB, DEM, PIG em geral, e toda sorte de inimigos do PT, que não aceitam o reconhecimento de culpa do PT, por cometer a infração que realmente existiu, o caixa 2 de campanha, e não assumir culpa de um crime existente apenas na retórica de seus poderosos adversários.
Demonstra severa indignação com a refiliação de Delúbio  Soares, certamente por crer piamente na fábula reacionária do “Mensalão” . Deve igualmente, estar indignado com Zé Dirceu e José Genoíno, que sequer saíram do partido, nele mantendo incólumes seu prestígio e autoridade. Inclusive alguns, como Genoíno e João Paulo Cunha, reelegeram se com votação bem mais expressiva do que as de muitas “ vestais da moralidade da hora”. Heloísa Helena, por exemplo, reduziu sua atuação nacional como Senadora, exercendo segundo mandato como vereadora em Maceió.  O companheiro deve ter ficado bastante aborrecido com a absolvição do deputado José Guimarães pela Assembleia Legislativa do Ceará, quando foi envolvido em um dos episódios mais grotescos na sequencia de denuncias feitas a época:  o “Cuecão”.  Isso torna sua posição mais estranha ainda, uma vez que contou com o apoio do deputado para a sagração de sua candidatura.  Deve ser mais fácil e mais cômodo citar Delúbio,  talvez por ser réu confesso, despido da história e da dimensão política e da proximidade que os demais apresentam.
 Por que afinal, filiou se ou refiliou se ao PT, o companheiro?   O que está por trás da opção por um partido contra o qual parece apresentar tanta reserva e indignação?  E como o PT, além de acolhê-lo, o projeta como um dirigente regional e candidato à prefeitura de uma importante cidade de nosso estado? É estranho para alguém com esse histórico e com tal percepção daqueles fatos que quase levaram ao desancamento de Lula da presidência da República e à marginalização do Partido dos Trabalhadores, fazer parte de uma organização política que não se enquadra nos moldes da sua moralidade. Na crítica de apenas supostas imoralidades acaba se caindo em postura efetivamente imoral.   
Mas que se tocou no apoio dado por Guimarães a Marcos Cunha, não podemos deixar de nos referir à prosaica situação em que a DR (Democracia Radical), corrente à qual pertence o comp. deputado, e a DS(Democracia Socialista), que tem na ex prefeita de Fortaleza, Luiziane Lins, seu maior expoente, parecem estar juntas contra Kangaia. Ora, é de espantar como o companheiro conseguiu realizar tal proeza. Afinal, as duas correntes ocupam hoje polos opostos no interior do PT cearense, no duro debate que se trava sobre a manutenção ou rompimento da aliança política com os Ferreira Gomes, agora sem partido. Mas como é isso? Não se unem para que se tome posição conjunta sobre um fator externo ao partido que arrisca empurrá-lo na direção de um possível processo de desagregação interna, mas conseguem estar unidos para protagonizar o expurgo de um militante da qualidade e com a história de Roberto? Em nome de quem ou de que? De “adesionismos” sem princípios daqueles que permanecem ou adentram o partido apenas por se mostrar promissor, estando no poder, mas demonstra partilhar das mesmas opiniões dos que tentam a todo custo criminalizar o PT e os movimentos sociais?   

Além do mais, pelas falas na ata se vê que Roberto não foi o único a se rebelar e dar as costas para a candidatura “petista” naquele ano. Foram vários, conforme nos mostra a ATA,  o que parece demonstrar que o candidato não era popular entre muitos militantes petistas que, pareciam  manifestar apoio formal e protocolar mas demonstrando  na prática, estar indiferentes à sua campanha. O candidato ao cargo majoritário parece não ter empolgado muita gente. Talvez por não transmitir a energia e a clareza que só a sinceridade de quem oPTou  com integridade e  força de compromisso, como militantes da estirpe de Roberto Oliveira Kangaia,  são capazes de fazer manifestar.
Interessante também a posição da Comissão de Ética que fez retornar aos acusadores a decisão sobre a punição de Roberto Kangaia. Ora, essa comissão deveria ser, isso sim, submetida a uma comissão de ética de verdade, pois como Pôncio Pilatos, lavou as mãos e não cumpriu com o papel que estatutariamente lhe é destinado cumprir. Por que? . Que respondam os Pilatos.
http://www.youtube.com/watch?v=ZxGNSwj3350

2 comentários :

  1. È, companheiro, muitas vezes as pessoas esquecem o que significa lutar.Mas atitudes iguais a essa não mudam em nada nosso propósito pois fomos gerados na nata do partido e nada pode nos fazer parar.A luta continua mesmo que seja contra nossos próprios"companheiros".Conte comigo.Você como eu, fundamos o PT no Crato.Acredito que em alguma coisa nós contribuímos.
    Emanuel Nunes Cavalcante

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  2. Importante que numa DEMOCRACIA, todos tenham direito a disputar um lugar para mostrar sua capacidade....

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