Chegaram- nos notícias preocupantes do Cariri, mais especificamente do Crato, acerca de uma possível expulsão dos quadros do PT, do companheiro Prof. Roberto Oliveira. Roberto Kangaia, como também é conhecido, por conta de uma alcunha de família, é militante histórico do partido e desempenhou papel fundamental em sua criação e consolidação, assim como também da fundação da CUT, no Ceará e no Cariri principalmente, onde no presente instante, exerce a coordenação da CUT Regional. Portanto, não se trata apenas de um simples filiado ou militante de pequena expressão. Trata se de pessoa que fez ingentes esforços para erguer o que hoje são as maiores instituições políticos da classe trabalhadora na América Latina. O motivo alegado é o fato de ter apoiado candidatura diferente da do PT em 2012, no Crato, apesar do PT contar com candidatura própria.
Há de se reconhecer que incorreu
em grave erro, cometendo desvio passível de punição prevista no estatuto do
partido. Longe de nós, tentar justificar tal atitude e até mesmo, fazer defesa
acrítica do companheiro, desconsiderando a infração cometida. Contudo, lendo os
documentos produzidos no bojo dessa questão, especialmente a ata da reunião que
decidiu por encaminhar à comissão de ética pedido de análise e tomada de
procedimentos previstos para tal caso, alguns aspectos nos chamam atenção.
Analisando se bem chega se a suspeitar de tratar se mais de vendeta do que propriamente
buscar se o disciplinamento da militância no tocante à fidelidade para com o
partido e o seu programa.
Em princípio, questionamos que se
tome uma decisão dessa natureza com base tão somente na letra fria da normatividade partidária. Há
de se considerar a realidade do calor da luta política, a história e o tempo que
ela implica, além da energia despendida em uma vida entranhada em sua maior
parte, com a própria vida do PT. Não é
admissível que alguém que sacrificou horas, dias, anos, em detrimento do
convívio familiar e dos amigos, do
investimento em projetos pessoais que poderiam trazer lhe maior retorno
material; que nunca obteve benefícios maiores ao longo desse percurso, que
poderiam legitimamente serem lhe
concedidos em forma de cargos comissionados ou assessorias políticas, tanto no parlamento
quanto nos governos que o PT exerce nas diversas esferas da República; e apesar
disso, ainda não poder contar com o peso da sua história numa decisão que toca no âmago de sua filosofia de vida e da
sua consciência política. É algo que beira a crueldade. É possível que um erro
apague completamente toda a luta de uma existência?
Errou de fato, mas convenhamos,
naquilo em que errou não poucos já erraram. Lamentavelmente, em vários momentos da
história do PT vimos casos como esse acontecerem com certa frequência. Em
algumas situações chegou a envolver pessoas em posições chave no partido. Nem
sempre se dá de forma aberta e assumida publicamente. Sem dúvida que seria
muito correta a iniciativa do PT cratense se fosse tão comum a aplicação de sanções
sobre os que já cometeram os mesmos desvios e outros até bem piores. E aí seria
o caso de ter se punido o imenso número de petistas que em Fortaleza, apoiaram
e votaram em Inácio Arruda no primeiro turno das eleições de 2006, quando a
candidata petista, Luiziane Lins, conquistou seu primeiro mandato. E a se dar crédito às denuncias que o
companheiro faz em seu documento de defesa, sobre militantes cratenses que
agiram da mesma forma em pleitos anteriores, chegamos a um ponto situado em
lugar que está bem aquém da política; se considerarmos que entre os denunciados
em seu documento, estão alguns de seus acusadores ou pessoas que lhes são muito
chegadas. Se for verdade o que diz, estaremos diante então, de uma cabal demonstração de explícito e
descarado cinismo.
Se estiver claro que Roberto e
outros companheiros também denunciados, cujos processos desconhecemos o encaminhamento,
incorreu em erro, seria exercício de
alteridade elementar buscar saber por que um militante até então zeloso de sua
fidelidade ao partido que ajudou a fundar, chegou ao ponto de dar apoio a outra
candidatura. O que o moveu, segundo
afirma em documentos e pela imprensa local, foi o sentimento de revolta que o
invadiu ao ser tolhido no direito de lançar pré-candidatura à prefeitura do seu
amado Crato. Vejam bem, não estava magoado por ter sido preterido em uma
disputa interna, mas justamente pelo fato dela não ter ocorrido. E, segundo
Roberto, não ocorreu por conta de manobra que o manteve alheio aos prazos e
datas para registro de sua pré-candidatura. Depois disso, no encontro para
definição das candidaturas, foi impedido de apelar ao plenário pelo direito de lançar
seu nome.
Agindo sob o signo da emoção
declarou seu apoio à candidatura de outro partido, integrante do arco de
alianças do PT. Seu temperamento combativo o levou a confrontar o candidato
Marcos Cunha, equivocadamente acabou confrontando o próprio partido. Enquanto isso, outros companheiros, em momentos eleitorais diferentes, fizeram o
mesmo, movidos unicamente pela lógica
fria dos interesses eleitorais ou de retornos políticos e materiais. Além
disso, não se pode desprezar o fato de que, ao apoiar candidato que logrou
eleger se, não recebeu da parte dele nenhum benefício posterior. Isso denota
que agiu gratuitamente, movido por incontornável revolta.
É bom recordar igualmente que se fazer
uso de ardis que ferem os mais elementares princípios da democracia petista deve
ser desvio igualmente passível de sanção.
Mas não é apenas esse aspecto que
nos chama atenção nessa querela. Na
verdade, o que nos causa mais espécie é a fala de um membro da executiva do
Crato, na ata da reunião do dia 15 de Outubro de 2012, em que
se decidiu pelo processo disciplinar que hora se move contra Kangaia. Trata se exatamente de quem sagrou se
candidato à prefeitura do Crato pelo PT no encontro em que Roberto se viu impedido
de lançar sua pré-candidatura. Diz o dirigente petista: “não me surpreendo com
um partido em que após o processo do Mensalão, readmitiu o Delúbio como
filiado, que fez acordo com o Maluf em São Paulo”. Ora, afinal o que temos
aqui? Dá vontade de perguntar: que m. é essa? Parece-nos que deveria ser outra
a pessoa a sentar no banco dos réus. E essa pessoa deveria ser justamente o autor
dessa frase lapidar. Atentem para o fato de se tratar de um dirigente petista e
ex candidato a cargo majoritário. No entanto, suas palavras mais parecem ter
saído da boca de um militante do PSOL, partido no qual, o companheiro confessa
ter votado no primeiro turno das eleições de 2006, para só em seguida votar em
Lula no segundo turno. Afirma ainda que as “pessoas de esquerda” votaram em
Heloísa Helena naquele momento, o que nos faz deduzir que, para ele, os petistas que votaram em Lula no
primeiro turno, não eram de esquerda. Confessa
inclusive que na época não estava filiado ao PT. . Não esclarece se não estava
porque nunca fora filiado ou se saíra em função da crise golpista do
Mensalão. Não seria problema se ao
retornar, ou aderir ao PT, fizesse auto crítica da posição anterior. Mas não
foi o caso. Pelo contrário, com essa fala demonstra portar a mesma opinião dos
que romperam com o partido para fundar o PSOL. Com isso, demonstra concordar
com os resultados do julgamento da AP 470, apesar de toda a campanha de
denuncias feitas acerca dos seus procedimentos, em que se viu sacrificado o
princípio da presunção de inocência dos réus, a limitação do seu direito de defesa, além do
apelo a teorias concebidas para serem aplicadas em situações extraordinárias,
como a do Domínio do Fato, para acomodar uma condenação de quem contra ele nada
foi provado. Uma aberração jurídica que
marcará a história política brasileira.
Mas, o companheiro Marcos Cunha,
o dirigente de quem falamos, desconhece
tudo isso e se mostra indignado pelo fato do PT, não corroborar com as teses do PSOL, do PSDB, DEM, PIG em geral, e toda sorte de
inimigos do PT, que não aceitam o reconhecimento de culpa do PT, por cometer a
infração que realmente existiu, o caixa 2 de campanha, e não assumir culpa de
um crime existente apenas na retórica de seus poderosos adversários.
Demonstra severa indignação com a
refiliação de Delúbio Soares, certamente
por crer piamente na fábula reacionária do “Mensalão” . Deve igualmente, estar
indignado com Zé Dirceu e José Genoíno, que sequer saíram do partido, nele mantendo
incólumes seu prestígio e autoridade. Inclusive alguns, como Genoíno e João
Paulo Cunha, reelegeram se com votação bem mais expressiva do que as de muitas “
vestais da moralidade da hora”. Heloísa Helena, por exemplo, reduziu sua
atuação nacional como Senadora, exercendo segundo mandato como vereadora em
Maceió. O companheiro deve ter ficado
bastante aborrecido com a absolvição do deputado José Guimarães pela Assembleia
Legislativa do Ceará, quando foi envolvido em um dos episódios mais grotescos
na sequencia de denuncias feitas a época:
o “Cuecão”. Isso torna sua
posição mais estranha ainda, uma vez que contou com o apoio do deputado para a
sagração de sua candidatura. Deve ser
mais fácil e mais cômodo citar Delúbio, talvez por ser réu confesso, despido da
história e da dimensão política e da proximidade que os demais apresentam.
Por que afinal, filiou se ou refiliou se ao PT,
o companheiro? O que está por trás da opção por um partido
contra o qual parece apresentar tanta reserva e indignação? E como o PT, além de acolhê-lo, o projeta como
um dirigente regional e candidato à prefeitura de uma importante cidade de
nosso estado? É estranho para alguém com esse histórico e com tal percepção daqueles
fatos que quase levaram ao desancamento de Lula da presidência da República e à
marginalização do Partido dos Trabalhadores, fazer parte de uma organização política
que não se enquadra nos moldes da sua moralidade. Na crítica de apenas supostas
imoralidades acaba se caindo em postura efetivamente imoral.
Mas que se tocou no apoio dado
por Guimarães a Marcos Cunha, não podemos deixar de nos referir à prosaica situação
em que a DR (Democracia Radical), corrente à qual pertence o comp. deputado, e
a DS(Democracia Socialista), que tem na ex prefeita de Fortaleza, Luiziane
Lins, seu maior expoente, parecem estar juntas contra Kangaia. Ora, é de
espantar como o companheiro conseguiu realizar tal proeza. Afinal, as duas
correntes ocupam hoje polos opostos no interior do PT cearense, no duro debate
que se trava sobre a manutenção ou rompimento da aliança política com os
Ferreira Gomes, agora sem partido. Mas como é isso? Não se unem para que se
tome posição conjunta sobre um fator externo ao partido que arrisca empurrá-lo na
direção de um possível processo de desagregação interna, mas conseguem estar
unidos para protagonizar o expurgo de um militante da qualidade e com a
história de Roberto? Em nome de quem ou de que? De “adesionismos” sem
princípios daqueles que permanecem ou adentram o partido apenas por se mostrar
promissor, estando no poder, mas demonstra partilhar das mesmas opiniões dos
que tentam a todo custo criminalizar o PT e os movimentos sociais?
Além do mais, pelas falas na ata
se vê que Roberto não foi o único a se rebelar e dar as costas para a
candidatura “petista” naquele ano. Foram vários, conforme nos mostra a ATA, o que parece demonstrar que o candidato não
era popular entre muitos militantes petistas que, pareciam manifestar apoio formal e protocolar mas
demonstrando na prática, estar
indiferentes à sua campanha. O candidato ao cargo majoritário parece não ter
empolgado muita gente. Talvez por não transmitir a energia e a clareza que só a
sinceridade de quem oPTou com integridade
e força de compromisso, como militantes
da estirpe de Roberto Oliveira Kangaia, são capazes de fazer manifestar.
Interessante também a posição da Comissão de Ética que fez retornar aos acusadores a decisão sobre a punição de Roberto Kangaia. Ora, essa comissão deveria ser, isso sim, submetida a uma comissão de ética de verdade, pois como Pôncio Pilatos, lavou as mãos e não cumpriu com o papel que estatutariamente lhe é destinado cumprir. Por que? . Que respondam os Pilatos.
http://www.youtube.com/watch?v=ZxGNSwj3350
Interessante também a posição da Comissão de Ética que fez retornar aos acusadores a decisão sobre a punição de Roberto Kangaia. Ora, essa comissão deveria ser, isso sim, submetida a uma comissão de ética de verdade, pois como Pôncio Pilatos, lavou as mãos e não cumpriu com o papel que estatutariamente lhe é destinado cumprir. Por que? . Que respondam os Pilatos.
http://www.youtube.com/watch?v=ZxGNSwj3350
È, companheiro, muitas vezes as pessoas esquecem o que significa lutar.Mas atitudes iguais a essa não mudam em nada nosso propósito pois fomos gerados na nata do partido e nada pode nos fazer parar.A luta continua mesmo que seja contra nossos próprios"companheiros".Conte comigo.Você como eu, fundamos o PT no Crato.Acredito que em alguma coisa nós contribuímos.
ResponderExcluirEmanuel Nunes Cavalcante
Importante que numa DEMOCRACIA, todos tenham direito a disputar um lugar para mostrar sua capacidade....
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