TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR
Talvez nunca antes nessa categoria se tenha empregado com tanta freqüência, embora nem sempre com muita propriedade, a palavra estratégia. É muito positivo, demonstrando que se eleva o nível e a qualidade da condução de nossas lutas. Afinal, sem estratégia, luta-se com os olhos vendados
A ciência ou arte da estratégia é bem antiga nas sociedades humanas. Não existe agrupamento de nossa espécie que não tenha enfrentado situações que exigiram planejamento das ações visando atingir determinado objetivo. Na maior parte do tempo isso se deu com base apenas na experiência empírica, onde o talento de um ou outro indivíduo se destacava e, através da confiança depositada nele por seus comandados, consegue levar uma luta à vitória, mesmo sem ter conhecimento teóricos ou histórico de experiências anteriores. Mas, à medida que as sociedades se tornam mais complexas e as inovações tecnológicas vão impondo mudanças paradigmáticas fica cada dia mais difícil se empreender um grande movimento sem contar com a análise das possibilidades e cenários que condicionam o andamento da luta e de seus objetivos. Análise que não pode prescindir do conhecimento das experiências do passado devidamente registradas e estudadas por profissionais dos mais diversos ramos de atividades que, com freqüência, sequer têm relação com ações militares. Há de se recordar que o desenrolar de uma greve ou de uma guerra ou mesmo de uma revolução implica muitas vezes em variações rápidas de movimentos, de modo que qualquer fato da realidade pode significar uma total inversão nas posições das partes em litígio. Agora mesmo em nossa greve, que certamente deixará grandes lições, assistimos a esse processo. A greve passava por um momento difícil. A categoria estava cindida em dois grupos, com vertiginoso crescimento do número de companheiros que tendiam a optar por sua suspensão em detrimento dos que permaneciam em defesa de sua continuidade. Havia, por conseguinte, forte clima de indecisão. Isso ficou bastante claro na assembléia de 23/09 no Aécio de Borba, com votação praticamente empatada.
Ao longo da greve o Gov. Cid Gomes promoveu manobras diversionistas visando confundir a categoria e a opinião pública, procurando se mostrar como aberto às negociações e provocando os professores com comentários mordazes e iniciativas jurídicas cujos resultados eram apresentados coincidentemente(!?), na véspera ou na exato momento das assembléias aprofundando o sentimento de raiva da categoria, que respondia com a continuidade da greve. Percebendo a divisão, enviou a mensagem do piso dos professores de nível médio que obedecia à lógica do plano que fora desconsiderado anteriormente por força da greve. Diante de mais uma provocação os professores em protesto, ocuparam as dependências da Assembléia Legislativa.
Apesar disso, parecia estar claro para um número cada vez maior de pessoas que se fazia necessário o recuo com a manutenção das mobilizações. Número considerável já promovia o retorno à escola sem esperar decisão de assembléia nesse sentido. Se não constituía consenso ao menos era notório a generalização desse ponto de vista.
Aconteceu então, o fato que representou um verdadeiro tiro de canhão no pé do governador. A tropa de choque da PM reprimiu com truculência desproporcional os companheiros (as), que reivindicavam acesso ao espaço da votação na “Casa do Povo”. Inclusive aqueles que promoviam greve de fome, encontrando-se deitados sobre colchonetes no chão, já apresentando sinais de debilidade, foram alvo dos policiais. Diante de cenas tão revoltantes aconteceu o inesperado, ou melhor, aconteceu o que deve acontecer em face de um ato de covardia, ilegalidade e violência gratuita da ação policial. Os professores (as), então divididos, recuperaram sua unidade e em um movimento ao mesmo tempo espontâneo e sincronizado, expressaram profunda e autentica indignação, retornando massivamente à greve. Sem dúvida que, dessa maneira fica demonstrado que é possível se retornar à greve após se ter recuado dela, ao contrário do que afirmam os céticos. Junto com os docentes, a sociedade como um todo repudiou a violência do governo, que acabou por se ver cada vez mais acuado na medida em que se espalhavam pelo mundo as imagens do fatídico dia em que a barbárie espancou a educação sem nenhuma piedade e pudor.
A partir daí os ventos passaram a soprar em nosso favor. Mas mesmo isso deve ser ponderado e relativizado. Aconteceu por conta de um fator externo à nossa estratégia, no caso, um movimento desastrado do próprio governo, gerando efeito contrário ao que pretendia. Ótimo, mas inconsistente como fator que justifique a continuidade da greve em sua forma ostensiva. Se os ventos nos são favoráveis, o são em função da justeza de nossa causa, mas não necessariamente em favor da perenidade da greve.
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