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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Cantando a pedra (por Márcio Ezequiel) - Sul 21

SE NÃO TIVESSEM FALTADO À AULA DE HISTÓRIA OU SE LIMITADO A DECORAR UNS CEM NOMES DE CELEBRIDADES, SEM DÚVIDA QUE NÃO ESTARIAM ACREDITANDO NAS LENDAS URBANAS ESTAMPADAS NA MÍDIA GOLPISTA



27/jul/2015, 8h10min

Cantando a pedra (por Márcio Ezequiel)

Um dos argumentos que mais se ouve nas redes sociais ao governo federal é o de que nunca se roubou tanto. E canta-se insistentemente a tal pedra. Revisitando a história do país, percebemos que não é bem por aí. Aliás, tampouco é de ontem ou de anteontem. Veio de caravela e lançou âncoras em tempos longínquos. Leiamos e releiamos o que pesquisaram e apuraram trabalhos de relevo como Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro,As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano e A arte de furtar, com suposta autoria do padre Manuel da Costa. Este último seria quase um wikileaks português do século XVII, dadas as polêmicas de sua narrativa.
Desde antes do período Colonial, quando o Brasil nem era Brasil, a extração retumbante da madeira cor de brasa atraía levas de piratas dos reinos concorrentes a Portugal. Contrabando, pilhagens e sonegação (perdoem o anacronismo) de impostos e taxas devidos à insaciável Coroa estavam na (des)ordem daqueles dias. A despeito de haver já um solo explorado e dos filhos desse solo serem tratados de modo nada gentil, (o que independe da verificação de reciprocidade, pois dominados não dominam e sim resistem), a rapinagem vem de berço e nada há de esplêndido nisso, desde que não se caia na repetida assertiva do senso comum.
Voltando aos trilhos da história, deparamo-nos com a desenfreada corrida pelo ouro (assim como rolava com a prata latino-americana), que geravam toda sorte (ou azar) de corrupções e desvios por agentes de uma burocracia distante das vistas da Metrópole, bem como por colonos ávidos por uma riqueza fácil. Ou seja, atentemos para a dobradinha corrupto-corruptor, válida hoje tanto quanto naqueles áureos tempos.
Tais exemplos, ainda que nos chovam no molhado, caem aos cântaros, como no período Imperial, quando se pagou alta indenização a Portugal pela Independência, originando nossa dívida externa com recursos tomados de empréstimo da Inglaterra, a nação mais amiga de todas desde que investira na fuga estratégia da família real em 1808. Os primeiros donos do poder foram, por assim dizer, primeiro os portugueses e depois os ingleses. Logo, fariam fila os da terra, oligarcas paulistas e mineiros. Era o café com leite e corrupção.
Roubavam-se riquezas e roubavam-se votos. Ou o chamado voto de cabresto do coronelismo seria menos corrupto? O revide veio com o golpe da Revolução burguesa de 30. E se por um lado, Vargas amarrou seu cavalo no obelisco da corrupção, logo apeou e marchou sobre um mar de lama denunciado pelo borra-botas Carlos Lacerda. Com suas denúncias puxou-se o gatilho não apenas contra o peito do presidente, mas contra o coração das investigações da época e o velho acabou entrando para a história como o pai dos pobres e a mãe dos ricos.
As empreiteiras que construíram Brasília tiveram seus 15 minutos de fama e fortuna dentro dos 50 anos em 5 de JK. Segundo a tese de Pedro Henrique Pedreira Campos, A ditadura das empreiteiras, foi quando se alicerçaram os grandes conglomerados das construtoras. E tal casamento teria a lua de mel gozada no período militar. As megaconstruções como a Rio-Niterói, as hidrelétricas e a interrompida Transamazônica geraram muito dinheiro a estes grupos. E citam-se os mesmos nomes de empreiteiras que aparecem no repetitivo noticioso da Lava-jato. Ou seja, seria muita ingenuidade achar que só agora ocorrem os desvios de percurso na perniciosa relação capital-poder. A diferença é que, até a história mais recente do Brasil, não se falava em corrupção sem retaliação. Hoje há liberdade e maior autonomia para investigação e se assim não o fosse não haveria tanto pano pra manga aos que reduzem as averiguações a caça às bruxas ou a meros argumentos golpistas.
O país precisa avançar no enfrentamento à roubalheira sem ignorar ou esquecer as origens do que deva ser investigado na contemporaneidade. Não é privilégio de nosso tempo, nem criação do governo atual – mérito não analisado aqui, posto que ainda em processo. Nosso dever cidadão consiste, entretanto, na defesa da manutenção e amadurecimento das instituições democráticas, sem nos tornarmos reprodutores de um denuncismo alienado. Cobre-se antes todo o empenho na apuração das irregularidades para que se cantem todas, da primeira até a última pedra.
.oOo.


Márcio Ezequiel é escritor e historiador. Mestre em História/UFRGS, publicou Alfândega de Porto Alegre: 200 anos de História (2007); Leia antes de jogar fora (crônicas, 2011); Agenda, o livro dos dias (crônicas, 2013) e Receita Federal: História da administração tributária no Brasil (2014). www.marcioezequiel.com.br
Cantando a pedra (por Márcio Ezequiel) - Sul 21

Financial Times: um jornal vendido - Carta Maior

Disseram que o Brasil vivia um filme de terror, mas aterrorizados estavam eles.



27/07/2015 - Copyleft

Financial Times: um jornal vendido

O Financial Times é mais uma vítima da internet - e também da queda de credibilidade da imprensa tradicional.


Altamiro Borges

reprodução
O jornal britânico “Financial Times”, considerado a bíblia do capitalismo, acaba de ser vendido ao grupo japonês Nikkei, o maior conglomerado de mídia da Ásia. A Editora Pearson, responsável pela publicação, há muito tempo já dava sinais da decadência do diário econômico. A transação comercial, anunciada na quinta-feira (23), foi efetuada por £ 844 milhões (R$ 4,32 bilhões). O negócio também envolve o site "FT.com" e a revista “The Banker”, mas não inclui a luxuosa sede do Financial Times na beira do Tâmisa, em Londres, nem os 50% de ações que a editora tem no Economist Group, que edita a revista “The Economist”. O futuro dos jornalistas do diário ainda é uma incógnita.
 
Segundo relato da Folha, “a divulgação do acordo interrompeu os trabalhos na redação do jornal. Por volta das 16 horas (12h, horário de Brasília), pouco depois de o mercado ser informado do negócio, o editor-chefe, Lionel Barber, reuniu a equipe para comunicar a venda. ‘O FT é um ativo de nível mundial. Estou confiante de que vamos trabalhar juntos com nosso novo proprietário para garantir que assim permaneça’, afirmou. No cargo desde 2013, o presidente da Pearson, John Fallon, disse que o grupo decidiu vender o jornal, do qual era dono desde 1957, para priorizar o setor educacional, responsável por 90% da receita”. A queda constante dos lucros é a razão principal da transação.
 
O Financial Times é mais uma vítima da internet – e também da queda de credibilidade da imprensa tradicional. “Atingimos um ponto de inflexão na mídia, levado pelo crescimento explosivo do mobile e das redes sociais. Nesse novo ambiente, a melhor formar de assegurar o sucesso comercial e jornalístico do FT é ser parte de uma companhia digital global”, argumentou John Fallon. Lançado em 1888, o Financial Times possui uma equipe de cerca de 500 jornalistas. Já o grupo Nikkei, criado em 1876, tem 3.000 funcionários e é a maior corporação de mídia da Ásia. Edita um jornal que leva o mesmo nome, concentrado em economia e negócios, com tiragem diária de 3 milhões de exemplares.
 
O presidente-executivo do grupo Nikkei, Tsuneo Kita, garante que manterá a linha editorial “independente” do Financial Times. “Juntos, vamos lutar para contribuir para o desenvolvimento da economia global”, afirma. Nas três últimas décadas, o FT virou a bíblia do neoliberalismo, com suas teses regressivas e destrutivas do “Estado mínimo” e da precarização do trabalho. Como aparelho ideológico do capital, o jornal contribuiu para a atual tragédia da economia mundial, na mais prolongada e sistêmica crise do capitalismo. O diário também virou um instrumento venal do imperialismo no combate aos governos antineoliberais no planeta, principalmente da América Latina.
 
Nesta semana mesmo, quando já era vendido, o Financial Times publicou um duro editorial contra o governo Dilma, intitulado “Recessão e corrupção: a podridão no Brasil”, comparando o país “a um filme de terror sem fim”. A mídia colonizada nativa, com o seu complexo de vira-lata, repercutiu o artigo partidarizado, que chegou a afirmar que os problemas econômicos e políticos brasileiros seriam “suficientes para o impeachment” da presidenta. Na ocasião, o ministro Jaques Wagner, da Defesa, rebateu a ingerência indevida. “Esse jornal nunca olhou para o Brasil com bons olhos. A adjetivação deles eu prefiro que eles guardem com eles”, afirmou. De fato, o FT é um jornal vendido!


Créditos da foto: reprodução
Financial Times: um jornal vendido - Carta Maior

Brasil atingiu metas de redução de pobreza da ONU - Carta Maior



27/07/2015 - Copyleft

Brasil atingiu metas de redução de pobreza da ONU

Especialista afirma que o Brasil não só conseguiu atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio como buscou metas 'bem mais ambiciosas'.


Edgard Júnior - EBC (via Revista Fórum)

EBC
A especialista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, Renata Rubian, afirmou que o Brasil conseguiu atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, ODMs, em relação à pobreza e à fome.
 
Em Nova York, Rubian disse em entrevista à Rádio ONU que o país buscou metas bem mais ambiciosas do que as determinadas pelas ODMs.
 
Erradicação 
 
"Por exemplo, a meta de redução da pobreza no Brasil não é de 50%, a meta de redução do Brasil que o governo adotou é de reduzir a 25% a incidência da pobreza extrema. A meta de redução da fome no Brasil também não é de redução de incidência de 50%. É uma meta de erradicação da fome".
 
Em relação aos países de língua portuguesa, ela citou resultados mistos. Rubian falou sobre a situação em Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e Timor-Leste, que registrou avanços no setor de saúde.
 
"O Timor-Leste ainda não atingiu a meta de redução de pobreza, mas a genete vê que o Timor é um sucesso, na verdade, na redução da mortalidade infantil e na melhoria da saúde materna. No caso dos países africanos, é uma situação complexa. A gente vê, por exemplo, Angola e Moçambique que têm um crescimento econômico astronômico. Angola, a gente sabe muito bem de todas as riquezas naturais, como diamantes e petróleo. Mas infelizmente, no caso de Angola e Moçambique, esse crescimento econômico não se traduziu numa redução da pobreza."
 
No caso da Guiné-Bissau, Rubian disse que o país enfrentou mais desafios devido a instabilidade política e acabou não registrando avanços na redução da pobreza.
 
No geral, a especialista do Pnud afirmou que o mundo conseguiu reduzir a taxa de pobreza de 36% em 1990, para 15% atualmente.
 
Segundo ela, os grupos mais afetados pela pobreza extrema são as mulheres, os idosos, as pessoas com deficiências e as minorias étnicas.
 
Dados
 
Rubian disse que houve um avanço no plano global, em termos absolutos, mas quando analisados os dados agregados, os desafios continuam em várias áreas.
 
No caso do objetivo 8, da parceria para o desenvolvimento global, Rubian explica que ele propõe mudanças em vários setores como o financeiro, principalmente no comércio internacional.
 
Ainda na lista estão negociações para o perdão da dívida externa de países, acesso a medicamentos e à tecnologia.
 
"Em termos de tecnologia a gente pode dizer que essa é uma área de tremendo sucesso. A gente até compara… em vários países uma pessoa pobre tem acesso a um telefone celular mas não tem acesso a um banheiro, a um vaso sanitário. É um dado estatístico triste mas é a realidade. Em relação à telefonia celular foi um momento enorme e temos 95% da população, a gente calcula, com acesso a um telefone celular."
 
Agenda Pós-2015
 
Renata Rubian falou também sobre como a luta contra a pobreza e a fome e os esforços para o desenvolvimento se encaixam na nova agenda sustentável pós-2015, que será aprovada em setembro.
 
A especialista do Pnud chamou a atenção para os princípios de sustentabilidade que vão estar incluídos no novo documento.
 
Ela citou o princípio da integração entre os fatores sociais, econômicos e ambientais e também o da universalidade, que tem duas dimensões.
 
Rubian explicou que a agenda será aplicada a todos os países: desenvolvidos e em desenvolvimento e trará metas universais, como por exemplo, acabar mundialmente com a pobreza e a fome até 2030.


Créditos da foto: EBC
Brasil atingiu metas de redução de pobreza da ONU - Carta Maior

Agronegócio tem 10 vezes mais verba que a agricultura familiar em SP - Carta Maior

Não é de causar admiração em se tratando de PSDB



Agronegócio tem 10 vezes mais verba que a agricultura familiar em SP - Carta Maior

Globo 1989 2015: 26 anos de campanhas sujas contra Lula - Carta Maior

Globo 1989-2015: 26 anos de campanhas sujas contra Lula

Um promotor com folha de serviços judiciais que destacam 245 advertências por desempenho negligente protocolou uma acusação contra Lula em tempo recorde


Dario Pignotti

reprodução
Brasília - Pastas vazias. Em dezembro de 1989, as intenções de voto do candidato Luiz Inácio Lula da Silva cresciam em ritmo constante, enquanto o favorito Fernando Collor de Melo ficava estacionado, e para que esse quadro se revertesse e Collor pudesse finalmente ser eleito presidente, seria necessária uma importante ajuda da Rede Globo de Televisão. Era preciso desconstruir a imagem de Lula, ou melhor, a sua legitimidade, através de notícias negativas e da famosa montagem no debate final, em um estúdio de televisão, quando Collor chegou com uma volumosa pasta, na que assegurava conter provas irrefutáveis dos ilícitos cometidos por seu rival. Vinte anos depois, um ex-diretor da Globo, José Bonifacio Sobrino, o Boni, admitiu ter planejado o espetáculo de Collor posando como justiceiro, diante das câmeras, com um portfólio cheio de papéis em branco.
 
Estudos posteriores demonstraram que essa fraude eletrônica, complementada pela reedição igualmente tendenciosa dos melhores momentos do debate entre os candidatos, reverteu a curva de aprovação ascendente de Lula. Três dias depois, no dia 17 de dezembro de 1989, o petista sofreria sua primeira derrota presidencial contra a Globo, a única força política que sobreviveu impune aos 21 anos de ditadura, que obstruiu a transição democrática (censurando as mobilizações massivas por eleições diretas), e vem prolongando seu status de partido hegemônico até hoje.
 
Há duas semanas, um fiscal substituto, com currículo acadêmico mediano e uma folha de serviços judiciais na que se destacam 245 advertências por desempenho negligente e/ou demorado, protocolou uma acusação contra o ex-presidente e líder histórico do PT em tempo recorde, segundo ele, porque suspeitava do delito de “tráfico de influências internacional”.
 
O funcionário suplente, conhecido na comarca judicial de Brasília (integrada por vários procuradores e juízes anti-lulistas) por sua velocidade de tartaruga, iniciou o procedimento investigativo atropelando o prazo previsto pela promotora titular, que expirava em setembro.
 
Fez isso baseado nos artigos publicados pelo grupo Globo, nos que se associavam as viagens de Lula ao exterior, entre 2011 e 2014 com supostas manobras dolosas a favor da construtora Odebrecht – que atua em vários países e se beneficia há décadas das gestões de governantes civis e militares.
 
Em artigo ilustrado com a imagem de Lula com um gesto intrigante, a revista Época, das Organizações Globo, o define como um “operador” das empresas construtoras, e associa, sem nexo documental nem testemunhal, sua agenda internacional com o tráfico de influências.
 
O semanário global mostra mensagens de fax que confirmam as viagens, o que é redundante, porque os eventos no qual participou foram públicos, e se insinua que o grosso desses encontros não se realizaram com a participação da Odebrecht. Para completar a desinformação, a nota evita explicar devidamente que várias dessas viagens internacionais foram para receber prêmios e títulos de doutorados honoris causa, na Espanha, Estados Unidos e México, ou para manter reuniões com ex-presidentes, como as duas que teve com Bill Clinton.
 
Quem leu os quase 20 mil caracteres da reportagem principal, publicada no dia 30 de abril – a que foi citada pelo promotor para fundamentar suas suspeitas – chegará à conclusão de que contém tantos indícios contra Lula como os que guardavam as pastas em branco que levaram Collor à presidência em 1989, com cumplicidade da mesma Globo.
 
O vazio informativo da Globo nessa e em outras matérias similares, se transformou em escândalo mundial em questão de horas: agências internacionais e cadeias televisivas do mundo inteiro replicaram a notícia de que Lula estaria envolvido numa trama suspeita. A bola de neve se tornou gigante com o passar das semanas, e aquela notícia oca conseguiu inspirar análises mal-intencionados, especialmente da imprensa anglo-saxônica, e mais ainda dos meios financeiros como o Financial Times, que escreveu na semana passada um editorial sobre o “filme de terror” de um Brasil que se afunda na corrupção, e que só se salvaria com um plano de ajuste exemplar. Seria, por acaso, um plano como o imposto à Grécia? Possivelmente sim.
 
Aliás, as teses extremamente neoliberais do Financial Times costumam ser tomadas como próprias pela Globo, para o que imagina ser um futuro próximo pós-Lula e pós-Dilma Rousseff – também a querem fora do Planalto, apesar das políticas ortodoxas de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um ex-funcionário do FMI e do banco privado Bradesco.
 
A urgência do grupo midiático mais concentrado da América Latina em virar a página da era “lulopetista” foi bem resumido na semana passada, num artigo de opinião cujo título – “Sem tempo” – não deixa lugar a dúvidas, trazendo argumentos a favor de uma saída antecipada de Dilma e a continuidade do ortodoxo ministro Levy numa gestão de transição, após um hipotético golpe institucional.
 
Como os nazistas
 
Poucos jornalistas conhecem a lógica política da Globo como Tereza Cruvinel, que trabalhou durante mais de uma década como colunista política para os meios da empresa, antes de seguir sua carreira em outros veículos. Cruvinel assegura que o plano editorial para acabar com o capital simbólico e político de Lula tem um capítulo crucial com sua chegada ao poder, em 2003.
 
"O enredo que vem sendo rabiscado desde 2003 agora começa a tomar forma. No epílogo desejado por seus autores, o ex-presidente Lula sai da História, do lugar assegurado por sua trajetória e por oito anos de governo que mudaram o Brasil, tomba como réu em um processo desonroso, torna-se inelegível e o povo brasileiro não repete a ousadia de colocar na Presidência alguém saído de onde ele saiu: da pobreza, do Nordeste, da classe operária, do compromisso com os mais pobres e com um Brasil de todos", analisa Cruvinel.
 
De sua parte, Lula respondeu aos ataques nesta sexta-feira (24/7): “tenho a impressão de que o que vemos na televisão se parece com o que os nazistas faziam, criminalizando o povo judeu, ou o que os romanos faziam, criminalizando os cristãos. Estou cansado de ver esse tipo de criminalização contra as esquerdas”.
 
Em encontro com sindicalistas da região industrial de São Paulo, o ex-presidente reforçou sua indignação enaltecendo a honestidade de Dilma, caluniada diariamente com insinuações sem provas. Vestido com o velho macacão de militante, o ex-presidente viaja pelo Brasil denunciando a tentativa de golpe branco contra Dilma, reivindicando a política econômica distribucionista dos governos petistas, assim como da continuidade da política externa voltada à América Latina.
 
Apesar das campanhas negativas contra si, Lula mantém uma agenda de encontros internacionais que, nos últimos meses, incluiu eventos com os presidentes Evo Morales e Cristina Fernández, o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, e o presidente do Parlamento venezuelano Diosdado Cabello, encontro que ocorreu pouco antes da missão de senadores opositores brasileiros, que viajaram à Venezuela para se encontrar com os referentes golpistas.
 
Lula é o único sobrevivente da troica sul-americana formada por ele, Néstor Kirchner e Hugo Chávez – a que, em 2005, acabou com o projeto de “anexação” da ALCA, na cara de George Walker Bush, que foi àquela Cúpula das Américas de Mar del Plata com a certeza de que ninguém se atreveria. Tinha como aliado o corpulento presidente mexicano Vicente Fox, que mostrou ser um anão político de incapacidade diplomática singular.
 
O eventual retorno do líder petista nas eleições de 2018 é uma hipótese contra a qual a família Marinho, dona da Rede Globo, trabalha determinada, junto com seus sócios políticos locais. Esse bloco contrário ao regresso de Lula conta, possivelmente, com o aval dos grupos de interesse estrangeiros, “provavelmente norte-americanos”, comprometidos com a restauração de um projeto de livre mercado hemisférico, comentou a este diário o chefe do bloco de deputados do PT, Sibá Machado.
 
Tradução: Victor Farinelli
Globo 1989 2015: 26 anos de campanhas sujas contra Lula - Carta Maior

Catta Preta subiu no telhado. Por quê? - Carta Maior

27/07/2015 - Copyleft

Catta Preta subiu no telhado. Por quê?

No escritório de advocacia dos Catta Preta militam ativos membros da confraria digital dos apoiadores de Aécio e militantes anti-Dilma


Redação

reprodução do Jornal I9
A saída abrupta da advogada Beatriz Catta Preta da Lava Jato, e a sua anunciada intenção de morar em Miami, gerou inúmeras interrogações pouco ou nada contempladas pelo furor investigativo da mídia isenta.
 
Catta Preta ocupou papel decisivo na trama, tendo sido parceira e braço direito do juiz Moro na condução das delações premiadas --que alguns preferem denominar de delações chantageadas. O rumo do processo responsável por alvejar  a Petrobras, fragilizar o pré-sal e alimentar o cerco golpista ao governo Dilma possivelmente não seria o mesmo sem a sua azeitada parceria com o juiz Moro, que saiu em sua defesa contra a tentativa de integrantes da CPI da Petrobras de convocá-la a depor.
 
A nebulosa motivação da renúncia, repita-se,pouco investigada pela mídia sempre tão operosa em outras pautas, envolveria uma mudança no depoimento de um de seus clientes no caso, Júlio Camargo. A contragosto da Catta Preta e de suas orientações, Camargo teria mudado a delação ao juiz Moro, para acrescentar a denúncia do achaque de US$ 5 milhões de Eduardo Campos, presidente da Câmara e assumido operador do cerco para a derrubada do governo Dilma.
 
A decisão da advogada, tudo indica, envolve portanto mais do que a determinação de desfrutar uma vida de fastígio, sombra e água fresca em Miami, flutuando nos R$ 22 milhões que faturou na Lava Jato como responsável por nove das 18 delações consumadas na operação.
 
Sejam quais forem as suas razões, Beatriz Catta Preta é uma pauta quente da República  e o fato de não ser tratada assim nas redações do dispositivo conservador apenas reforça essa percepção.
 
Um pouco do que se sabe dela, para além do semblante contido pelo aro de óculos de secretária-executiva, foi publicado no site do jornal i9 , em novembro do ano passado. A advogada pertence a uma família influente em Minas Gerais, tendo um primo nomeado desembargador pelo governo do PSDB. No escritório de advocacia dos Catta Preta, em Belo Horizonte, militam ativos membros da confraria digital dos apoiadores de Aécio e militantes anti-Dilma e anti-PT. É um direito legítimo. Assim também como é legítimo arguir o que isso tem a ver com as induções, manipulações, vazamentos e, sobretudo, com a seletividade das denúncias e delações na Lava Jato.


Créditos da foto: reprodução do Jornal I9



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A variável Lula - Carta Maior

A variável Lula

É Lula que pode ser o eixo da recomposição das forças de esquerda, democráticas e populares, recomposição que deve ser feita com novas plataformas.

por Emir Sader em 27/07/2015 às 07:12





Emir Sader
Lula foi situado no centro da vida política brasileira. Todos os holofotes se concentram sobre ele: ou será abatido no voo pela direita, tirando-o, no tapetão, da vida política, ou exercerá seu papel de eixo da recomposição da esquerda brasileira e conseguirá dar continuidade ao processo iniciado em 2002, com todas as adequações necessárias.

Em um marco de crise de credibilidade das instituições, das forças políticas e sociais, das lideranças, a exceção fica com Lula. Não fosse assim, ele não seria alvo dos ataques concentrados da direita. Se acreditasse nas suas pesquisas, bastaria a direita esperar até 2018 e derrota-lo com qualquer um dos seus candidatos.

O destino da direita depende de conseguir inviabilizar juridicamente a candidatura do Lula e ter assim o caminho aberto para reconquistar a presidência da república. Caso contrario, teria que se consolar com um novo mandato do Lula, limitando-o pela revogação da reeleição.

Do lado do campo popular, Lula também é a referência, é o grande patrimônio, com ele pode contar. O maior líder popular da história do Brasil, Lula mantém vínculos profundos com a massa da população, seus governos ficaram marcados na consciência e na memoria das pessoas, Lula representa a auto estima dos brasileiros. Por tudo isso, apesar da brutal campanha contra sua imagem, ela permanece arraigada no seio do povo.
 
Mas ele não se limita a estar na memória do povo, ele representa também sua esperança. Ninguém tem o carisma e a mística que a liderança de Lula possui.

Desde a crise de 2005, quando a imagem do PT passou a ser afetada negativamente, a imagem do Lula foi se descolando do partido, conforme o governo foi ganhando prestigio, com o sucesso das politicas sociais. Mesmo quando a imagem do governo de Dilma e a do PT sofrem com a mais dura das campanhas da oposição, a imagem de Lula resiste e as próprias pesquisas que dão resultados muito ruins para o PT e Dilma, tem que revelar que Lula teria pelo menos 33% de apoio.

Mas o Lula de agora precisa propor ao país novas utopias, novos objetivos, continuidade e aprofundamento do que foi feito a partir do seu governo, precisa diálogo com novos setores sociais, especialmente os jovens, tanto os da periferia quanto os da classe média, precisa surgir como quem reivindica não só a visibilização desses setores, como os espaços das mulheres, rejeitadas nas suas reivindicações. Em suma, Lula tem que representar, ao mesmo tempo, a retomada do que foram seus governos, da forma de fazer política que unifique as forças que apoiem os programas propostos nos seus governos, como também renovador. Nas reivindicações, na linguagem, na interpelação e integração de setores até aqui marginalizados.

É Lula que pode ser o eixo da recomposição das forças de esquerda, das forças democráticas e populares, recomposição que tem que ser feita com novas plataformas, novos programas, que deem vida a um amplo movimento social, político, econômico, cultural, que consolide os avanços, altere profundamente as relações de poder que resistem a esses avanços e aponte para o Brasil a que Lula abriu o caminho com seus governos e sua liderança.
 
Qualquer especulação política sobre o futuro do Brasil que não leve em consideração a variável Lula, está equivocada, está fora da realidade, não considera o fator determinante do futuro político do país. Candidatos tucanos já conhecidos, nomes sem nenhuma viabilidade popular do PMDB ou outros nomes que aventuras políticas apontam, se chocam com essa realidade incontornável. Uma vez mais, quem não decifra o enigma Lula é devorado por ele, como tem acontecido reiteradamente. 


Tags: Política 

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