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sábado, 23 de maio de 2015

Prefeito do PSOL recorre à justiça contra greve de professores e funcionários municipais

Prefeito do PSOL recorre à justiça contra greve de professores e funcionários municipais

O prefeito Clécio (PSOL-AP), de Macapá (AP), acionou a justiça do seu estado contra a mobilização de professores em greve desde a segunda semana de abril e funcionários públicos que, diante da intransigência em atender as justas reivindicações, não tiveram outro meio que não fosse ocupar a sede da prefeitura no dia 15 passado para pressionar por negociações sérias.

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O prefeito Clécio (PSOL-AP), de Macapá (AP), acionou a justiça do seu estado contra a mobilização de professores e funcionários públicos em greve desde a segunda semana de abril que, diante da intransigência em atender as justas reivindicações, não tiveram outro meio que não fosse ocupar a sede da prefeitura no dia 15 passado para pressionar por negociações sérias e, como diz a professora Iara Marques, fazer o prefeito do PSOL respeitar a Lei do Piso Salarial estabelecida pelo MEC.
Da mesma forma que o governo federal do PT e os governos dos diversos partidos burgueses, o prefeito do PSOL impetrou um pedido de interdito proibitório, recurso que os banqueiros, empresários e governantes costumam utilizar contra os grevistas, os legítimos piquetes ou outros métodos combativos de luta. O prefeito Clécio intimida os grevistas de Macapá com medidas de criminalização da luta e do legítimo direito de greve.
Os dirigentes do sindicato dos professores recuaram e desocuparam a prefeitura no mesmo dia. Agora decidiram apresentar ao prefeito uma “contraproposta” rebaixando o índice reivindicado de 13% para 8%. A ação intimidatória do prefeito Clécio contra os grevistas está surtindo efeito, ao menos entre os dirigentes sindicais, pois não sabemos ainda como reagirão os professores em greve.
O uso de expedientes intimidatórios contra os grevistas da parte de um prefeito de um partido que se reivindica socialista mostra como esta prefeitura caminha para ser mais parecida aos governos do PT e dos demais partidos, quando se trata de enfrentar os grevistas e os lutadores sociais. Ao contrário, tem servido para que a direita tucana se aproveite para igualar o PSOL e os “socialistas” ao PT, que mente, trai e ataca os trabalhadores e o povo, como vimos fazer o deputado estadual Barros Munhoz, do PSDB paulista em vídeo na Assembleia Legislativa.
Diante desta situação a Direção Nacional do PSOL, reunida no último fim de semana em Brasília, aprovou por maioria uma resoluçãocom “considerações a respeito da greve dos professores municipais de Macapá”, justificando o prefeito não atender as reivindicações pois Macapá seria “uma capital com poucos recursos” e não poderia garantir “salários dignos”.
Exatamente isso, “considerações”, “justificativas” e não uma taxativa decisão que obrigasse o prefeito Clécio a atender as reivindicações dos professores e funcionários públicos, tomando medidas econômicas e financeiras que taxassem os ricos, empresários e a casta política (vereadores, secretários, altos funcionários políticos etc.) para encontrar os recursos necessários.
A resolução de maioria da direção nacional “considera legítima a greve dos professores”, mas justifica e defende o prefeito Clécio afirmando que “o governo municipal tem encontrado dificuldades, de ordem econômica, para negociar a pauta dos trabalhadores”. Aconselha o prefeito a “manter o diálogo” com o sindicato dos grevistas e para que “busque soluções possíveis” para a volta à “normalidade”.
Inusitadamente, mesmo reconhecendo a espantosa desculpa da prefeitura de Clécio, que menciona os "poucos recursos e a difícil gestão dentro dos marcos legais" para impor um reajuste abaixo da inflação, o Diretório Nacional do PSOL descarrega a maior responsabilidade sobre "os ajustes de Dilma e Levy" e não de Clécio. Como se estivesse esperando que Dilma e o PT "parassem" de atacar os trabalhadores para poder governar de maneira "legitimamente socialista"... respeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A solução “possível” para o prefeito foi o recurso à justiça para impor o interdito proibitório, e essa atitude antigreve mereceu da direção nacional uma mera “crítica” e não uma condenação contundente e firme. A direção nacional, no afã de agradar o prefeito, chega a “saudar a posição política” do prefeito “que não impetrou ações jurídicas contra a legalidade da greve”, como se fosse razoável um prefeito do PSOL ir à justiça exigir a ilegalidade de uma greve.
As tendências de esquerda no PSOL apresentaram outra resolução – derrotada – apoiando a greve dos professores e dos funcionários municipais, “solicitando” a “manutenção dos canais de negociação entre o governo e os grevistas”, “condenando a adoção de medidas repressivas que visam criminalizar o movimento (como o interdito proibitório e outros)“ e defendendo o “atendimento de suas justas demandas”.
Propunham que a direção nacional formasse “comissão para apoiar a greve e interceder nas negociações”, o que não difere muito das declarações do próprio Clécio que disse estar em busca deste "canal de diálogo", mas pelo que se pode extrair da resolução aprovada por maioria sequer essa mínima medida básica foi aprovada para ser implementada.
Não se pode deixar de surpreender por não encontrar em nenhuma das duas propostas de resolução – da maioria e das tendências de esquerda – uma condenação cabal da atitude do prefeito Clécio que em mais de um mês de greve continua intransigente oferecendo apenas 4% de reajuste diante da reivindicação de 13% dos grevistas e dos conhecidos índices de inflação em tendência de crescimento, além da desvalorização da moeda e queda do poder aquisitivo dos que vivem de salário.
Surpreendente, também, é não ver sequer da parte das tendências de esquerda quaisquer propostas efetivas para que o prefeito garanta as reivindicações dos grevistas, além de um plano de recomposição salarial que acompanhe a inflação, e “ajuste” as finanças das prefeitura, por exemplo, com impostos progressivos sobre as grandes fortunas e grandes proprietários, isenção de impostos para os trabalhadores e o povo pobre, um projeto de lei que corte os altos salários do prefeito, dos secretários e funcionários políticos e comissionados e institua que todos esses cargos políticos devem ganhar o mesmo que um professor, agitando por todos os meios a necessidade de mobilização dos trabalhadores e o povo pobre da cidade para impor que se eliminem todas as mordomias, carros oficiais e verbas de representação para os vereadores e os funcionários políticos da Câmara Municipal e que todos ganhem o mesmo salário de um professor.

Prefeito do PSOL recorre à justiça contra greve de professores e funcionários municipais

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Defendi quem eu acreditava, diz secretário do DF que foi escudo de Gaddafi - Notícias - Internacional

Defendi quem eu acreditava, diz secretário do DF que foi escudo de Gaddafi

Bruna Borges
Do UOL, em Brasília
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ditador líbio Muammar Gaddafi, morto em 2011, tinha um amigo fiel no Brasil. O subsecretário de Movimentos Sociais e Participação Popular do Distrito Federal, Acilino Ribeiro, tem no currículo o histórico de ter pertencido à guarda pessoal de segurança de Gaddafi. Na década de 1970, Ribeiro foi treinado na Líbia e chegou a ser escudo humano do ditador.
O subsecretário inclusive descreve Gaddafi como um "humanista". Ele também conta que integrou um grupo patrocinado pelo ditador, a operação Galaxy, que tentou evitar mortes de guerrilheiros exilados perseguidos pela operação Condor (ação conjunta de ditaduras da América do Sul para assassinar opositores aos regimes ditatoriais).
Na ditadura, Ribeiro foi preso aos 15 anos após reunir colegas para protestar contra a falta de água no colégio. Mas ele não ficou na cadeia muito tempo. Ao saber da prisão, sua mãe invadiu a delegacia armada e vestindo uma camisola, rendeu os policiais e o libertou.
O subsecretário é advogado, professor de geopolítica e ativista de esquerda. É piauiense e a vida toda lutou pelos direitos sociais. Seu trabalho na equipe do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) é desenvolver estratégias e articular o diálogo entre Executivo e manifestantes em constante atrito com falido governo do DF, que atrasou salários e enfrentou greves e protestos.
Confira os principais trechos da entrevista:
UOL - Como o senhor virou segurança de Gaddafi?
Acilino Ribeiro: A segurança dele era a tribo dele, que fazia o primeiro ciclo de segurança. O segundo ciclo de segurança eram as Forças Armadas e o serviço secreto. E você tem o terceiro ciclo, que são os guerrilheiros do mundo todo. Eu fazia parte desse terceiro ciclo. Eu cheguei a ficar muito próximo e ser o próprio escudo humano em determinados eventos que ele fazia. Durante o tempo que você ficava na segurança dele, você não podia ter contato com o mundo exterior. Porque, se saísse, você era ameaçado: "Se não matar Gaddafi, nós vamos pegar alguém da sua família".
Houve algum momento mais tenso na segurança dele?
Eu estava em Benghazi [Líbia] e ia acontecer a inauguração das comportas de um rio para a água do [mar] Mediterrâneo entrar no deserto. Duas horas antes, vêm os agentes do serviço secreto dizendo que tinham a informação que poderia ter um atentado contra ele. Aí foi uma [coisa] pavorosa. Nessas horas ninguém quer fazer a segurança dele. Disseram para ele não ir, mas ele disse: "Eu vou e eu sei quem vai comigo"' e olhou para mim. Eu fui porque naquele momento eu estava defendendo um homem em quem acreditava. Ele estava gastando US$ 25 bilhões para levar água a uma população que morria de sede no deserto. [Gaddafi era] um homem com quem eu conversava e ele me falava sobre Maomé e eu falava sobre Jesus Cristo. Ele conversava comigo sobre religião, conhecia mais a Bíblia do que eu. Ele me disse que Maria é citada mais no Corão do que na Bíblia, na Bíblia só seis vezes e no Corão são 11. E que os muçulmanos respeitam Maria tanto quanto nós cristãos. Um homem que dedicou a vida pela luta pela paz, pelos direitos humanos e pelo meio ambiente.
O senhor lembra de Gaddafi como um humanista e o mundo o via como um ditador. Pode comentar isso?
Ronald Reagan e George W. Bush [cometeram] crimes por invadir o Iraque ou mesmo o próprio Barack Obama, que deveria estar na cadeia pelos assassinatos que tem cometido no Oriente Médio. Isso é um absurdo. É esse tipo de coisa que a mídia mundial esconde. Os Estados Unidos vivem uma falsa democracia. Outro exemplo é o que está acontecendo agora na Síria. Os Estados Unidos pagam a mídia para demonizar o Bashar al-Assad, mas a mídia é proibida de falar que é ele quem protege os cristãos que estão lá. O Assad protege os cristãos e combate o Estado Islâmico. A Al-Qaeda foi criada e patrocinada por quem? Pelo imperialismo norte-americano. Mas a mídia não pode dizer isso. Eles demonizaram Gaddafi dizendo que ele financiava o terrorismo. Como que ele financiava o terrorismo se quem praticava isso eram os Estados Unidos? É a manipulação feita pela mídia. A mídia americana estimulou a opinião pública contra Gaddafi porque ele lutava pela paz mundial e pelos direitos humanos e isso não interessava ao imperialismo capitalista. Ele montou a operação Galaxy para se contrapor à operação Condor.
De onde surgiu a operação Galaxy?
Por volta de 1978, acontecia uma operação secreta [na América do Sul]. Nós não sabíamos o motivo de tantos companheiros [guerrilheiros exilados] estarem desaparecendo, era a operação Condor. Prendia brasileiros na Argentina, matava no Chile e enterrava no Uruguai para não deixar vestígios. E o Brasil foi responsável por isso também. Surge então uma outra operação contra a Condor, a operação Galaxy, que foi financiada por Gaddafi. Ele chamou guerrilheiros de todo o mundo. Eles passaram três meses [nos] treinando na Líbia. O objetivo era lutar contra os braços do Condor.
O senhor pode citar uma ação da Galaxy?
Na ditadura, o serviço secreto das ditaduras latino-americanas e a CIA [agência de inteligência norte-americana] infiltraram pessoas no escritório do Acnur [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados] da Argentina, conseguiram pegar uma lista com nome e endereço de 26 pessoas refugiadas em outros países e entregaram para a operação Condor. Três dias depois todos esses exilados sumiram. Foram presos, mortos, assassinados pelo serviço de inteligência dos países. Inclusive tinha brasileiros mortos. Depois, descobriu-se que havia uma outra lista com 54 pessoas que a Condor estava atrás para pegá-las em Buenos Aires. Foi quando a Galaxy monta uma operação para não permitir que a Condor não consiga pegar a lista. A lista estava em um cofre em um dos escritórios do Acnur. Não podia explodir a sede do Acnur, então tentaram roubar o cofre, mas não se conseguiu e se tentou explodir o cofre lá dentro mesmo. O resultado final da operação é que a gente deu sumiço na lista. E a CIA e o serviço de inteligência desses países não conseguiram pegar a lista. Os 54 que estavam naquela lista sobreviveram.
Quando foi a última vez que o senhor se encontrou com Gaddafi?
Foi em 2009. Eu fui levar a seleção brasileira de futsal para Líbia. Eu disse a ele: "Coronel, posso lhe dar uma sugestão? O senhor está vendo que Fidel Castro deixou o poder, entregou a Raúl Castro. O senhor vai fazer a revolução da revolução. Eu acho que o senhor deveria se afastar de toda e qualquer função política desse país. Só quem tem menos de 40 anos assume o poder. O senhor entrega o poder e vai fazer uma revolução, como efeito dominó vão cair todos os governos do Oriente Médio". Ele me perguntou: "Eu vou entregar o poder para quem?". Eu disse: "O senhor entrega para a Ayesha, sua filha". Uma mulher que na época era embaixadora da ONU [Organização das Nações Unidas] pela paz, uma pacificadora. E ele me disse: "A Líbia são 500 tribos, quando eu deixar de ser o elo entre o elas, nós vamos nos matar". Está aí o resultado, a Líbia continua essa briga entre as tribos. Gaddafi não ocupava cargo de chefe de Estado, lá tinha um primeiro-ministro e ele era um líder espiritual de uma revolução.
Como o senhor descreve a queda de Gaddafi?
A Líbia foi o único país que não teve Primavera Árabe. Ali, o que houve foi uma ocupação militar. Como Gaddafi tinha apoio de 99,9% da população, a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] mandou um recado para Gaddafi para que ele entregasse os postos de petróleo para as empresas americanas, francesas e inglesas e assinasse a concessão de sua exploração. Isso ele me disse. Ele já tinha desistido do programa nuclear por esta característica pacifista que ele tinha. E como Gaddafi não assinou, mataram ele. Usaram a Otan, que se acha xerife do mundo para decidir quem é que deve ou não morrer. Mataram 15 mil crianças inocentes. Morreram 150 mil pessoas nessa guerra maluca.
O senhor foi preso adolescente. Como foi isso?
Com 15 anos eu morava em Brasília e passei a fazer parte do movimento estudantil. Faltou água do colégio e o diretor, em vez de chamar o pedreiro para botar as torneiras, chamou a polícia. Eu estava lá na manifestação e a polícia levou todo mundo. Minha mãe soube que eu estava sendo preso e invadiu uma delegacia da ditadura militar e me tirou. Ela entrou na prisão armada, rendeu os policiais e me levou para a rodoviária. Ela me mandou para o Piauí. Estava com um medo danado. Atravessei a região da guerrilha do Araguaia e me recordo que passei numa barreira policial. Como eu era um menino, nem me pediram documento nem nada. Tinha uma senhora do meu lado e eles pensavam que eu era filho dela. Minha mãe ficou respondendo o processo no meu lugar e eu fiquei um ano clandestino no Piauí, sendo protegido pela minha família.
E o que o senhor fez ao retornar ao Brasil após o exílio da ditadura?
[Depois da operação Galaxy] eu volto ao Piauí e vou ser advogado das prostitutas, dos favelados, dos mendigos, dos sem-teto e dos sem-terra. Eu não cobrava de ninguém. Eles me pagavam com rapadura, com farinha. Era assim que eu advogava. Para eu comer, se eles não me dessem comida, eu não comia, porque eu não cobrava. A gente assinava o contrato só para assinar mesmo. Mas não tinham dinheiro para me pagar. Eu me candidato a vereador, mas só para divulgar as ideias e dá uma zebra e eu sou eleito. Depois passo a ser superintendente do Incra [Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária]. Eu estava fazendo a reforma agrária pacífica e acalmando o campo. Em 2006, eu volto para Brasília e reencontro velhos amigos históricos como Carlos Siqueira, que hoje é o presidente do PSB, e Miguel Arraes, velho companheiro de luta. E venho para o PSB.
Você é subsecretário de Movimentos Sociais. Como é dialogar com tantos grevistas em um Estado falido como o DF?
O governador Rodrigo Rollemberg é um homem profundamente preocupado com a coisa pública, que tem a perspectiva de tirar o GDF dessa falência. E quer criar mecanismos de participação social que permitam a população ter uma vida participativa de seu próprio destino. Eu prefiro errar com o povo do que acertar sem ele. A orientação que recebo é de diálogo permanente e a prevenção para evitar conflitos. A população do DF está compreendendo que é um Estado falido, sem perspectiva imediata, mas a médio prazo de recuperação. Como responsável pela articulação com os movimentos sociais nesses cem primeiros dias, nós estamos com uma agenda reativa, porque nós estávamos com uma demanda reprimida do governo anterior, que deixou muito problemas. A cada dia tenho que fazer essas negociações com grevistas, passeatas, obstruções de vias. Todo tipo de manifestação. E como eu compreendo esse tipo de manifestação, porque vim desse movimento.
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Relembre a trajetória de Muammar Gaddafi40 fotos

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10.mar.1999 - O presidente líbio Muammar Gaddafi concede entrevista no Egito. Naquele ano, o país ''comemorava'' o 30º aniversário de Gaddafi no poder do país Leia mais10.mar.1999 - AFP

Relembre o ditador líbio Muammar Gaddafi


Defendi quem eu acreditava, diz secretário do DF que foi escudo de Gaddafi - Notícias - Internacional

Diário do Centro do Mundo » Por que a desigualdade de renda aumentou nos países ricos e caiu no Brasil, segundo um novo estudo

desigualdade de renda
Publicado na BBC Brasil.

A desigualdade de renda continua aumentando nos países ricos, mas caiu na América Latina na última década, afirma um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado nesta quinta-feira.
“Ao longo das últimas três décadas, a desigualdade de renda aumentou na maioria dos países da OCDE, atingindo em alguns casos altas históricas”, diz o relatório In it together – Why less inequality benefits all (Juntos nisso – Por que menos desigualdade beneficia a todos, em tradução literal).
Hoje, nos países da OCDE, os 10% mais ricos ganham 9,6 vezes mais do que os 10% mais pobres. Nos anos 80, a proporção era de sete vezes mais e, na década de 2000, de 9,1.

A partir de meados dos anos 2000, as desigualdades de renda também aumentaram em grandes economias emergentes, como China, Rússia, Indonésia e África do Sul.
Já a maioria dos países da América Latina, “particularmente o Brasil”, vem reduzindo, desde o final dos anos 90, as diferenças de renda, afirma a organização.
A OCDE, que reúne 34 países, a grande maioria economias industrializadas, ressalta, no entanto, que a queda na desigualdade de renda na América Latina desacelerou a partir de 2010.
“A trajetória da América Latina contrasta com as dos países da OCDE, onde a desigualdade de renda tem aumentado desde o início dos anos 80″, disse à BBC Brasil Horácio Levy, analista de políticas sociais da organização.

“Houve, a partir do início dos anos 2000, uma queda generalizada da desigualdade na América Latina. Essa redução não ocorreu de forma tão acentuada em outras regiões”, diz Levy.
“Dessa vez o bolo cresceu, com o crescimento econômico, e foi melhor dividido. É um fato novo na realidade latino-americana”, afirma o analista.

Gini

O atual coeficiente Gini – indicador que mede a desigualdade de renda e que vai de 0 a 1 (quanto mais alto, maior é a desigualdade) – na média dos países da OCDE é de 0,32. O do Brasil é 0,55. O do México é 0,48 e, o do Chile, 0,51.
Segundo dados da OCDE, o coeficiente Gini médio de 22 países da organização em meados dos anos 80 era de 0,29. Ou seja, houve um aumento de quase 11% no índice, o que implica crescimento da desigualdade.
No Brasil, o coeficiente Gini passou de 0,6 em meados dos anos 90 para 0,55, uma queda de cerca de 8%.

O aumento das desigualdades de renda nos países desenvolvidos já havia sido destacado pelo economista francês Thomas Piketty em seu livro O Capital no Século XXI, que se tornou um best-seller internacional.
A OCDE afirma que a desigualdade de renda nos países ricos não aumentou apenas em períodos de crise, mas também durante “bons momentos econômicos”, com crescimento.
“O aumento da desigualdade está tão profundamente incorporado em nossas estruturas econômicas que será difícil reverter isso”, afirma o estudo, o terceiro sobre o tema realizado pela organização desde 2008.

Mudanças no mercado de trabalho

Um dos principais fatores que explicam o aumento da desigualdade nos países da OCDE são as mudanças ocorridas no mercado de trabalho, decorrentes da globalização, de avanços tecnológicos e de reformas regulatórias.
Pessoas qualificadas em setores com alta demanda, como tecnologia da informação ou finanças, tiveram aumentos substanciais dos ganhos, diz o relatório.
Já os empregos com baixa qualificação, que sofreram a concorrência direta de países emergentes com mão de obra bem mais barata, não tiveram o mesmo ritmo de evolução.

“O perfil da demanda de trabalho mudou muito nos países da OCDE nos últimos 30 anos. As pessoas com maior nível de formação conseguiram se adaptar e manter a qualidade do emprego”, disse Levy à BBC Brasil.
“Os empregos pouco qualificados foram os mais penalizados. A diferença salarial entre trabalhadores mais qualificados e os com menor nível de formação aumentou muito nos países desenvolvidos”, diz o analista.
Além disso, a crise financeira a partir de 2008, seguida pela crise econômica, aumentou o desemprego em vários países. Hoje, nos países da OCDE, um terço dos empregos são temporários ou de meio período.
Na América Latina, o principal fator que explica a redução das desigualdades é justamente a diminuição das diferenças salariais entre trabalhadores com alto e baixo nível de formação, o que ocorreu, afirma o estudo, em razão do maior acesso à educação nesses países.
“Os gastos na área de saúde e educação também aumentaram, o que teve impacto importante na redução das desigualdades na região”, diz o analista da OCDE.
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