Perspicácia
PSTU descobre o golpe do Egito, dois anos depois
Se estivessem no Egito, morenistas teriam levado sua análise penetrante para o cemitério ou para trás das grades, sem nenhuma influência no curso dos acontecimentos
No dia 3 de julho de 2013, o então presidente do Egito, Mohamed Morsi, foi derrubado por um golpe militar a serviço do imperialismo. Um dia antes, em 2 de julho daquele ano, a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional), a internacional do PSTU, publicou em seu sítio na internet uma declaração com o seguinte título: “Fora Morsi! Fora militares!” Uma palavra de ordem imaginária, sem nenhuma base na correlação de forças que estava colocada no Egito naquele momento. Na prática, significava “Fora, Morsi!” O texto foi reproduzido no sítio do PSTU.
Papagaio do imperialismo
Na declaração, a internacional do PSTU reproduzia a farsa do imperialismo de no dia 30 de junho 14 milhões de pessoas teriam protestado contra o governo Morsi. E isso segundo “fontes do próprio Exército”. Como se o “próprio” exército tivesse alguma intenção de “esconder” a manifestação que serviria de pretexto para o golpe militar. Como se a PM de São Paulo quisesse esconder o coxinhato de 15 de março na Av. Paulista, e não inflar o número real de pessoas na manifestação umas cinco vezes. Assim o PSTU repetia servilmente uma mentira imperialista para travestir de legitimidade um golpe militar.
A declaração acrescentava uma série de reivindicações ao movimento golpista que estava em curso no Egito, alimentando a fantasia de que se tratava de uma mobilização revolucionária. Dizia a LIT-QI/PSTU:“Mais do que nunca é fundamental manter os eixos da mobilização: Fora Morsi! Pela queda do regime militar! Fora militares do poder!”
A “vitória do povo”
No dia seguinte, Morsi caía. Em uma declaração publicada no dia 4 de julho no sítio da LIT-QI, um dia depois do golpe militar, os morenistas comemoravam: “Morsi caiu! Grande vitória da mobilização do povo egípcio!” Já no título a internacional do PSTU saudava um golpe militar como vitória popular. Na declaração, o golpe era chamado de “uma nova página da história de sua [do povo egípcio] revolução”. O texto encerrava com uma saudação entusiasmada: “Viva a revolução egípcia!” A declaração foireproduzida no sítio do PSTU.
A declaração da LIT trazia uma teoria bastante original para explicar por que um golpe militar colocou no poder os militares: “Esta vitória é parcial e tem como principal contradição o fato de que as massas egípcias continuam confiando nas Forças Armadas.” Na verdade, foi a vitória de quem planejou o golpe e tomou o poder. Uma vitória completa… da direita pró-imperialista que deu o golpe contra o governo.
Vitória do povo ou golpe?
De repente, depois de um longo silêncio sobre a questão, a LIT voltou a publicar um texto sobre o Egito. Dessa vez assinado por Gabriel Huland. O PSTU ainda não reproduziu as linhas desse texto, intitulado “Dois anos do massacre de Rabaa”. Como se nada tivesse acontecido, somos apresentados, dentro do sítio da LIT, sem mais nem menos, à seguinte frase:
“Em 14 de agosto de 2015 é celebrado o segundo aniversário do massacre de Rabaa, ocorrido nas praças de Rabaa Al-Adaweya e Al-Nahda, no Cairo, quando as forças de segurança atacaram, por diversas vezes, um acampamento de manifestantes convocado pela Irmandade Muçulmana contra o golpe de Estado liderado por Abd al-Fattah al-Sisi cerca de um mês e meio antes (03/07/2013).”
E a revolução?
De que “golpe de Estado” estão falando? E a “vitória do povo”? E a “nova página na história da revolução”? Depois de ficar dois anos defendendo que o golpe militar foi uma vitória do povo, que os militares já estavam no poder da mesma forma e que a derrubada de Morsi não passava de uma “troca de fusível”, a internacional do PSTU apresenta um texto falando em um “golpe militar” que teria havido no Egito sem dar nenhuma explicação.
Ironicamente, a guinada sem nenhuma explicação dos morenistas aparece justamente em um texto sobre um massacre contra pessoas que foram protestar em um ato em defesa da Irmandade Muçulmana, organização à qual pertence o presidente deposto. Vejamos o que dizia a LIT, em 26 de julho de 2013, em outra declaração, sobre esses protestos: “Essa mobilização, portanto, não tem nada de progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam, erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um ‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de mobilização que só serve à contrarrevolução.”
O golpe estava entre aspas, e as mobilizações em defesa da Irmandade Muçulmana precisavam ser derrotadas pela revolução. Como é possível que agora a LIT apareça falando em “golpe de Estado” no Egito e na brutalidade da ditadura militar egípcia? (Essa declaração também foi reproduzida pelo PSTU).
Isso só é possível porque o PSTU está longe dos acontecimentos. A defesa do golpe militar lá no Egito, teria consequências bastante adversas para um partido como o PSTU, que apresenta um discurso esquerdista nas eleições e participa de lutas sindicais.
E se fosse no Brasil?
No Brasil o PSTU ainda não descobriu a política golpista da direita. Continua falando em “terceiro campo”. No dia 18 de setembro, demonstrou na prática, com sua pequena manifestação em São Paulo, que esse terceiro campo é uma fantasia que não corresponde a nenhuma força real dentro da presente situação.
As palavras de ordem ecoam as fanfarronices que os morenistas apresentavam em relação à situação no Egito. Antes eles diziam: “Fora, Morsi! Fora, militares!” Agora eles dizem: “Fora, Dilma! Fora, Temer! Fora, Cunha! Fora, Renan! Fora, Aécio!” Na prática, não importa quantos nomes o PSTU coloque nas faixas de suas pequenas manifestações, essa palavra de ordem significa apenas “Fora Dilma!”
O Egito fica longe do Brasil. Que o PSTU apoie o golpe militar e dois anos depois deixe escapar um texto dizendo que o golpe não foi uma “vitória do povo”, mas apenas um golpe, não muda nada na situação egípcia. No Brasil, os morenistas contribuem para confundir e obscurecer a atual situação. Em caso de vitória da direita golpista, o PSTU pode demorar dois anos para perceber que houve um golpe.
Veja também:
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Papagaio do imperialismo
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A declaração acrescentava uma série de reivindicações ao movimento golpista que estava em curso no Egito, alimentando a fantasia de que se tratava de uma mobilização revolucionária. Dizia a LIT-QI/PSTU:“Mais do que nunca é fundamental manter os eixos da mobilização: Fora Morsi! Pela queda do regime militar! Fora militares do poder!”
A “vitória do povo”
No dia seguinte, Morsi caía. Em uma declaração publicada no dia 4 de julho no sítio da LIT-QI, um dia depois do golpe militar, os morenistas comemoravam: “Morsi caiu! Grande vitória da mobilização do povo egípcio!” Já no título a internacional do PSTU saudava um golpe militar como vitória popular. Na declaração, o golpe era chamado de “uma nova página da história de sua [do povo egípcio] revolução”. O texto encerrava com uma saudação entusiasmada: “Viva a revolução egípcia!” A declaração foireproduzida no sítio do PSTU.
A declaração da LIT trazia uma teoria bastante original para explicar por que um golpe militar colocou no poder os militares: “Esta vitória é parcial e tem como principal contradição o fato de que as massas egípcias continuam confiando nas Forças Armadas.” Na verdade, foi a vitória de quem planejou o golpe e tomou o poder. Uma vitória completa… da direita pró-imperialista que deu o golpe contra o governo.
Vitória do povo ou golpe?
De repente, depois de um longo silêncio sobre a questão, a LIT voltou a publicar um texto sobre o Egito. Dessa vez assinado por Gabriel Huland. O PSTU ainda não reproduziu as linhas desse texto, intitulado “Dois anos do massacre de Rabaa”. Como se nada tivesse acontecido, somos apresentados, dentro do sítio da LIT, sem mais nem menos, à seguinte frase:
“Em 14 de agosto de 2015 é celebrado o segundo aniversário do massacre de Rabaa, ocorrido nas praças de Rabaa Al-Adaweya e Al-Nahda, no Cairo, quando as forças de segurança atacaram, por diversas vezes, um acampamento de manifestantes convocado pela Irmandade Muçulmana contra o golpe de Estado liderado por Abd al-Fattah al-Sisi cerca de um mês e meio antes (03/07/2013).”
E a revolução?
De que “golpe de Estado” estão falando? E a “vitória do povo”? E a “nova página na história da revolução”? Depois de ficar dois anos defendendo que o golpe militar foi uma vitória do povo, que os militares já estavam no poder da mesma forma e que a derrubada de Morsi não passava de uma “troca de fusível”, a internacional do PSTU apresenta um texto falando em um “golpe militar” que teria havido no Egito sem dar nenhuma explicação.
Ironicamente, a guinada sem nenhuma explicação dos morenistas aparece justamente em um texto sobre um massacre contra pessoas que foram protestar em um ato em defesa da Irmandade Muçulmana, organização à qual pertence o presidente deposto. Vejamos o que dizia a LIT, em 26 de julho de 2013, em outra declaração, sobre esses protestos: “Essa mobilização, portanto, não tem nada de progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam, erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um ‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de mobilização que só serve à contrarrevolução.”
O golpe estava entre aspas, e as mobilizações em defesa da Irmandade Muçulmana precisavam ser derrotadas pela revolução. Como é possível que agora a LIT apareça falando em “golpe de Estado” no Egito e na brutalidade da ditadura militar egípcia? (Essa declaração também foi reproduzida pelo PSTU).
Isso só é possível porque o PSTU está longe dos acontecimentos. A defesa do golpe militar lá no Egito, teria consequências bastante adversas para um partido como o PSTU, que apresenta um discurso esquerdista nas eleições e participa de lutas sindicais.
E se fosse no Brasil?
No Brasil o PSTU ainda não descobriu a política golpista da direita. Continua falando em “terceiro campo”. No dia 18 de setembro, demonstrou na prática, com sua pequena manifestação em São Paulo, que esse terceiro campo é uma fantasia que não corresponde a nenhuma força real dentro da presente situação.
As palavras de ordem ecoam as fanfarronices que os morenistas apresentavam em relação à situação no Egito. Antes eles diziam: “Fora, Morsi! Fora, militares!” Agora eles dizem: “Fora, Dilma! Fora, Temer! Fora, Cunha! Fora, Renan! Fora, Aécio!” Na prática, não importa quantos nomes o PSTU coloque nas faixas de suas pequenas manifestações, essa palavra de ordem significa apenas “Fora Dilma!”
O Egito fica longe do Brasil. Que o PSTU apoie o golpe militar e dois anos depois deixe escapar um texto dizendo que o golpe não foi uma “vitória do povo”, mas apenas um golpe, não muda nada na situação egípcia. No Brasil, os morenistas contribuem para confundir e obscurecer a atual situação. Em caso de vitória da direita golpista, o PSTU pode demorar dois anos para perceber que houve um golpe.
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