Denuncia se por todos os cantos do país o recrudescimento da
violência. Nossa capital foi indicada como uma das mais violentas do mundo
segundo pesquisa feita por um instituto mexicano, posteriormente confirmada pela ONU. Os programas policiais
germinam nas TVs como larva em carniça, contribuindo para o bom funcionamento do
processo digestivo na hora sagrada da ceia regada a uma caudalosa cabidela humana, para em seguida dar lugar a tranquilizadora sesta. Atinge também espaços que, em tese, deveriam estar
imunes a ela, principalmente por conterem o antídoto que neutraliza, ou deveria neutralizar, manifestações
dos instintos humanos mais primitivos, como é o caso das escolas. Tornaram se
freqüentes o registro de eventos violentos perpetrados dentro dos recintos
escolares, desde a agressão entre alunos ou de alunos contra professores, sendo
bem mais raros os casos em que esse atua como agressor, assaltos, assassinatos,
invasões por grupos facinorosos e uma série de outros tipos de ações que
traumatizam e contribui para tornar ainda mais penosa a tarefa de educadores
que cotidianamente pelejam em confronto perpétuo contra a ignorância e o
obscurantismo.
Até aí, tudo já vai bem mal. Mas como se diz jocosamente,
nada é tão ruim que não possa piorar. Extrapolando os muros das escolas, em
momentos e espaços onde reúnem se profissionais da educação, mais especificamente
professores, está se tornando muito comum e até banal, alguns grupos políticos
e indivíduos, lançarem mão de recursos violentos para solucionarem divergências e
fazer valer pelo grito e pela força, aquilo que não conseguem fazer valer pelo
convencimento. E se não procuram o convencimento, não é porque lhes seja negado o direito à palavra. Pelo contrário,
negam esse direito àquele que não comunga com sua opinião. E ao fazê-lo ainda
queixam se de terem sido tolhidos em seu direito de manifestar se. De modo que, com a catimba típica do jogador que forja a falta, tentam passar a impressão de que são eles as vítimas de manobras e
impedimentos. Talvez por não terem nenhum conteúdo a mostrar, ocupam os microfones de uma assembleia justamente para denunciar o impedimento de um direito que naquele exato momento exerce, e muito mal, diga se de passagem. Nem precisa ser um observador muito atento para perceber que se trata
de uma tática, aplicada por quem não tem nada a apresentar e com ela pretende impedir que dirigentes sindicais e colegas que não se alinham com suas
concepções comuniquem se com os demais membros da categoria.
Tudo isso já é bastante lamentável e digno de repúdio; mas
como foi dito, nesse campo as coisas parecem estar piorando. Ainda estão vivos em nossa
lembrança os acontecimentos que se deram na última assembléia da campanha de
2011, quando ao seu final, desataram um festival de violência, fazendo uso
inclusive, de alunos que trouxeram após envenená-los com intensa doutrinação
contra quem certamente mal conheciam.
Não foi nenhuma
reação espontânea como quiseram dar a entender. Era algo anunciado abertamente
nas redes sociais, muito antes de acontecer. Em outros instantes daquela
campanha chegaram a fazer ensaios, tentando intimidar a direção do sindicato, esperando talvez que, por efeito do medo, ela recuasse de suas prerrogativas, cedendo
lhes a direção do movimento. Não lograram êxito. Empenharam se então, em derrotar a
greve visando a desmoralização do sindicato. Após se verem frustrados nesse
intento, passaram a disseminar dúvidas sobre o cumprimento do que fora
acordado na mesa de negociação. Aí também sofreram uma acachapante derrota. É
bom recordar que já haviam feito o mesmo com relação aos resultados obtidos nas
negociações que antecederam à greve, quando limpamos o terreno das pautas menores para
concentrar todo o esforço da greve naquilo que mais interessava, o plano de
carreira. Em face de tanta frustração em seu esforço de diminuir as vitórias
obtidas pela categoria sob a condução do sindicato, partem para a chacota, a
zombaria e o baixo nível. Além disso, cada vez mais despidos de argumentos, intensificam
a agressividade, passando a fazer ameaças de caráter pessoal, do tipo “te pego
lá fora”, convertido agora em “te mato lá fora”!
O que está acontecendo é a introdução do “gangsterismo” no
interior do movimento sindical dos profissionais em educação no Ceará. Agrava
se na presente conjuntura em que assistimos ao renascimento dos pregadores de
uma nova ditadura e de movimentos de caráter fascista, latentes desde antes mesmo
da queda da ditadura civil militar nos 80.
Deveria ser a escola o espaço privilegiado de disseminação
de uma cultura de paz em oposição a uma possível escalada de violência em nossa
sociedade. Assim como também dos valores que possibilitam a convivência
democrática e que implicam no respeito à opinião e conseqüentemente, ao direito de divergir! É de se estranhar que
educadores assistam indiferentes ao que acontece em nossas assembleias e redes
sociais. Ao nos resignarmos diante de posturas intolerantes e violentas,
contribuímos com a reprodução do medo e do monstro que arrisca um dia devorar a
cada um de nós e quando o indiferente de hoje, um dia olhar ao redor em busca de quem o socorra, perceberá
que aqueles com quem poderia contar nesse instante já tinham sido devorados, nos momentos em que preferiu comodamente fingir que não tinha nada a ver com isso.
Primeiro levaram os comunistas,
A Indiferença
Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afetou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde
Maiakovisky
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