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domingo, 7 de julho de 2013

DAS RUAS RETRO REVOLUCIONÁRIAS


  • Peço um pouco de paciência aos mais jovens, mas vou me repetir.Quando disse que as manifestações estavam levando a agenda da grande imprensa para as ruas muitos me contestaram. Outros, por entusiasmo ingênuo ou oportunismo mesmo, replicavam afirmando que o movimento era horizontal e que, com a Internet, a capacidade de manipulação da mídia teria acabado. Será? Peço que leiam o texto de Sérgio Dávila, colunista da Folha de São Paulo e tirem suas próprias conclusões. Um abraço.

    SÃO PAULO - Há mais de uma contradição entre meio e mensagem nas manifestações que tomaram o país. Uma delas foi revelada por reportagem da Folha na última quinta.

    Nela, levantamento mostra que 80% dos links compartilhados no Twitter com "hashtags" ligadas aos protestos durante o auge do movimento tinham origem na mídia dita tradicional --quer dizer, era conteúdo produzido pela imprensa profissional, levando em conta os preceitos do bom jornalismo.

    Ainda de acordo com a pesquisa, páginas ligadas à imprensa no Facebook tiveram o compartilhamento de seu conteúdo pelo menos triplicado.

    Ou seja, antes e depois de sair para as ruas para criticar, entre outras centenas de bandeiras, a grande mídia, os manifestantes se informavam por ela, utilizando o trabalho produzido pelo jornalismo profissional para validar ou rejeitar os vários rumores que surgem nas redes sociais.

    Outra contradição foi o uso principalmente do Facebook para ajudar na formação e na divulgação dos eventos, o que muita gente boa chamou de "mídia direta", fruto da "liderança horizontal". Nós --jornalistas incluídos-- gostamos de pensar em Apple, Facebook, Google e Twitter como organizações etéreas sem fins lucrativos, em vez de empresas bilionárias que visam o lucro, que é o que são. É preciso desvestir a fantasia.

    Para ficar apenas no Facebook, o "terceiro país do mundo", com seu 1,1 bilhão de usuários, não fica nada a dever a seu "vizinho" China na falta de transparência de suas práticas (vide caso NSA), no controle da vida de seus "cidadãos" (por algoritmos e política de privacidade obscuros) e na remuneração aviltante de sua mão de obra (nós e nossos posts, pelos quais ganhamos zero e em cima dos quais faturam bilhões).

    Se a geração MPL quer fazer a revolução anticapitalista, fazê-la no Facebook é como se rebelar contra o imperialismo ianque morando na Disneylândia.

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    Sérgio Dávila é editor-executivo da Folha de São Paulo.

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