“Entre os estudantes, Larissa Gotardo, de 14 anos, não imaginava que a decisão de faltar à aula ontem seria boa. Aluna da 7.ª série, ela foi à escola assim que soube da tragédia. ‘Vim para saber dos meus amigos’, disse. 'A única coisa que eles contaram é que as professoras salvaram as vidas deles, pois trancaram as portas das salas até que o tiroteio terminasse." ( O Estado de São Paulo. 08/04/2011)
Mal pudemos comemorar a vitória obtida pela educação no Supremo Tribunal Federal, quando a lei do piso dos professores teve finalmente sua constitucionalidade reconhecida e, logo na manhã seguinte, levantamo-nos sob o impacto da tragédia que se abateu sobre a escola Tasso da Silveira em Realengo, Rio de Janeiro. O país de repente se confrontou com imagens já vistas na TV, em situações ocorridas para além de nossas fronteiras. Quis o destino que um dos episódios mais violentos da nossa história, se perpetrasse justamente no lugar que deveria estar vedado ao ingresso das bestialidades humanas. Onde, pelo menos sejam neutralizados, por efeito da educação dos sentidos, dos sentimentos e das mentes. Sendo que esse processo em si mesmo já traz implícito certa violência, de outro caráter e intensidade.
Educação e violência tem sido uma pauta combinada e constante nas páginas e programas policiais. Nos dias de hoje já constitui um dos fatores mais fortes a contribuir para que jovens talentosos não admitam a possibilidade de assumir o magistério como opção profissional, por maior que seja sua vocação. Já não bastassem os baixos salários, os equipamentos sucateados, a auto estima rebaixada, associados aos bourn outs e bullyings, ainda se ver obrigado a conviver com diversas modalidades de violência dentro das escolas, naturalmente que, quem tem juízo, não vai querer isso para si. Algumas práticas já se tornaram corriqueiras. Hora, escolas são violadas por grupos de delinqüentes a procura de qualquer coisa de mínimo valor que sirva de moeda de troca no mercado do crack; Hora, o menino ou menina se arma com um estilete ou uma nove mm, e vai concretizar uma vendeta particular, por conta de um olhar mal interpretado, um apelido inaceitável ou a honra ferida pela rejeição do ou da coleguinha com quem ficara na véspera. Acontece também do aluno ficar inconformado com uma avaliação negativa ou simples repreensão, e vai retaliar os professores, agredindo-os ou, como já aconteceu, matando-os. Por sua vez, tanto docentes quanto discentes são freqüentemente vitimados pelos chefes do tráfico nas comunidades Enfim, poderíamos encher nossas telas e tardes inteiras diante do monitor, desenrolando o rosário de mazelas violentas que afetam a escola brasileira.
Educação e violência tem sido uma pauta combinada e constante nas páginas e programas policiais. Nos dias de hoje já constitui um dos fatores mais fortes a contribuir para que jovens talentosos não admitam a possibilidade de assumir o magistério como opção profissional, por maior que seja sua vocação. Já não bastassem os baixos salários, os equipamentos sucateados, a auto estima rebaixada, associados aos bourn outs e bullyings, ainda se ver obrigado a conviver com diversas modalidades de violência dentro das escolas, naturalmente que, quem tem juízo, não vai querer isso para si. Algumas práticas já se tornaram corriqueiras. Hora, escolas são violadas por grupos de delinqüentes a procura de qualquer coisa de mínimo valor que sirva de moeda de troca no mercado do crack; Hora, o menino ou menina se arma com um estilete ou uma nove mm, e vai concretizar uma vendeta particular, por conta de um olhar mal interpretado, um apelido inaceitável ou a honra ferida pela rejeição do ou da coleguinha com quem ficara na véspera. Acontece também do aluno ficar inconformado com uma avaliação negativa ou simples repreensão, e vai retaliar os professores, agredindo-os ou, como já aconteceu, matando-os. Por sua vez, tanto docentes quanto discentes são freqüentemente vitimados pelos chefes do tráfico nas comunidades Enfim, poderíamos encher nossas telas e tardes inteiras diante do monitor, desenrolando o rosário de mazelas violentas que afetam a escola brasileira.
Em casos como esse da escola no Realengo, a violência transborda convertendo-se na sua dimensão mais intensa e apavorante: O HORROR. A sociedade, ainda abalada, tenta entender o que aconteceu. O fato não obedeceu aos padrões usuais. A escola do Realengo contava com alguns equipamentos convencionais de segurança que, em muitos lugares são comuns a qualquer instituição de ensino. Alguns até que nem tão comuns, pois não são todas as escolas que contam com câmaras filmadoras, muito embora não sejam suficientes para garantir a segurança, como foi o caso.Era um dia como outro qualquer, um ex-aluno que procura sua antiga escola em busca de um histórico escolar, com certeza não despertaria a menor suspeita. Portanto, não cabe tentar enquadrar o acontecimento naquelas modalidades já banalizadas de violência escolar.. Nem tentar acusar gestores e governos por conta de uma situação absolutamente atípica. Acreditamos que as famílias deverão contar com a devida cobertura jurídica com relação às possíveis responsabilidades do estado; afinal, as crianças estavam sob seus cuidados. Tentar fazer da tragédia objeto de discursos políticos para denegrir um governo ou outro, é desrespeitar a memória das vítimas e magoar as feridas dos parentes enlutados. Além de não contribuir em nada para que se possa atuar sobre aquilo em que os governos podem e devem fazer para modificar aquele quadro.
O que se tinha era um indivíduo de mente transtornada, despido de travas morais e psíquicas, se permitindo dar vazão a um turbilhão de sentimentos desencontrados que explodiram em um dia de fúria, vitimando pessoas que lhe cruzaram o caminho, por estarem, paradoxalmente, no lugar certo e na hora certa. Ouseja, na escola, cumprindo sua jornada de estudos. Foi por lá onde ele estivera em outros tempos. Provavelmente tenha sido por lá também, onde com mais intensidade se deparou com seus demônios. É a parte da história que ficará sepultada com Wellington. Mas não pode deixar de evocar a importância que a escola tem sobre o processo de formação dos indivíduos.
O que se tinha era um indivíduo de mente transtornada, despido de travas morais e psíquicas, se permitindo dar vazão a um turbilhão de sentimentos desencontrados que explodiram em um dia de fúria, vitimando pessoas que lhe cruzaram o caminho, por estarem, paradoxalmente, no lugar certo e na hora certa. Ouseja, na escola, cumprindo sua jornada de estudos. Foi por lá onde ele estivera em outros tempos. Provavelmente tenha sido por lá também, onde com mais intensidade se deparou com seus demônios. É a parte da história que ficará sepultada com Wellington. Mas não pode deixar de evocar a importância que a escola tem sobre o processo de formação dos indivíduos.
A tragédia em Realengo não é inédita no mundo. Tem ocorrido com freqüência que obedece a intervalos cada vez mais curtos. De Columbine , nos Estados Unidos, onde aconteceram a maior parte dos casos, ao Realengo, muitos eventos dessa natureza ocorreram em diversos países, sendo que na América Latina fomos precedidos apenas pela Argentina , onde um garoto de 15 anos matou outros 3 colegas de sua escola.
Causas diversas, em geral associadas ao fenômeno Bullying, agora fartamente discutido e exposto em nossas mídias cotidianamente. Intriga o fato de ser a escola o palco privilegiado onde se desenrolam essas tragédias. Por quê? Intriga também porque, em nosso caso, tende a fugir dos parâmetros usuais com que em geral identificamos os problemas que afetam essa instituição. Particularmente as nossas, onde lhes falta as mais elementares condições para o exercício do fazer pedagógico. Some-se a isso a verdadeira guerra social em que estão inseridas, apesar dos tímidos avanços no sentido de sua amenização, mas longe ainda, de solução mais consistente.
No caso em questão não foram as drogas, pois até o momento não tivemos registros de que o rapaz fosse usuário delas. Parece estar mais relacionado ao que um filósofo classificou como outro tipo de ópio: a religião. Não podemos concordar completamente com isso também, pois, nesse caso, o que conta é a maneira como cada um se relaciona com o sagrado. Ao mesmo tempo não se pode desprezar o fato de que na pós modernidade, assistimos ao recrudescimento de toda sorte de fundamentalismos religiosos. É um processo tão forte que chega a pautar a política nacional e internacional. Afinal, na última eleição presidencial brasileira, padres e pastores tomaram a frente dos debates políticos, e por pouco não tornaram a posição dos candidatos sobre a discriminalização do aborto, o critério fundamental para a eleição do então futuro presidente da república. Nos EUA, berço dos massacres em escolas, o Tea Party, composto em sua maior parte por fanáticos religiosos de direita, assume papel central na vida política da potência declinante. Isso sem falar no sempre presente fundamentalismo islâmico, ao qual, alguns órgãos de imprensa, que pouco primam pela verdade e responsabilidade, tentaram associar o assassino do Realengo.
No Brasil a legislação tem sido especialmente bondosa com os “empresários de Deus”, que atuam fortemente nos meios de comunicação de massa. Apropriam-se de redes de TV e rádios, com uma facilidade que outros setores não têm. Afinal, quantas TVs no Brasil se dedicam exclusivamente à promoção de conteúdos culturais e educativos? Contam-se nos dedos, e muitas delas restritas aos serviços de canais a cabo, que chegam aos lares da classe média que pode pagar por eles. Entretanto, se perde a conta dos meios de comunicação em poder de grupos religiosos.Não devemos generalizar e nem pretender criar estereótipos negativos de algumas igrejas como verdadeiras indústrias produtoras de fanáticos em série. Mas com freqüência seus conteúdos e abordagens sugerem a possibilidade de estarem constituindo formas de pensamento e comportamentos que podem degenerar no puro e simples fanatismo. O que pode germinar na cabeça de pessoas cheias de frustrações, revolta e rancor, como Wellington, o matador do Realengo, quando se inebriam com sermões sobre os endemoniados que os rodeiam? Estes podem ser, o umbandista da encruzilhada ali na frente, a adúltera do apartamento ao lado, o drogado na esquina, o gay sodomita que "contraria" as regras da natureza, ou aquelas "meninas más" da escola que zombam de um fiel servo de Deus.Todos merecedores dos castigos do inferno.Gentios e impuros. Não é raro se fazer uso em algumas pregações, de farto arsenal de termos e expressões típicas da linguagem de guerra, como a vitória sobre o inimigo, a guerra santa, com exortação da força e do poder e, diga-se de passagem, também bastante utilizados nas narrações futebolísticas. O que pensar da frase bíblica das mais preferidas em camisetas e adesivos colados em automóveis: "Tudo posso, naquele que me fortalece"?! se tudo posso, então...!
É possível que, se adotando essa linha de raciocínio, encontremos alguma chave que possa abrir as portas da percepção desse caso. Além da presença dessa ostensiva atmosfera religiosa cruzadista, conta-se também com as concepções e comportamentos intolerantes que se disseminam pela sociedade. Referimo-nos ao discurso dos programas esportivos, mas pode ser o caso de certa figura pública de nosso país, com franco acesso aos meios de comunicação, pregando abertamente o racismo e a homofobia. E o pior é que não está sozinho, conta com apoiadores que já o premiaram com quatro mandatos no congresso nacional. E o que dizer do insano que faz do automóvel uma metralhadora e sai atropelando ciclistas que apenas nos mostram os benefícios de um meio de transporte ambientalmente inofensivo e saudável ao organismo humano?!
Podemos separar uma coisa da outra? Corremos o risco de estarmos fazendo associações arbitrárias e relacionando coisas que não tenham nada a ver uma com a outra. Ao menos no caso do deputado está implícito essa idéia de pureza, tão presente na carta do homicida/suicida que se ocupou mais de sua vida após a morte do que da corrente, pois essa, deveria lhe parecer impura, rodeada de sacrílegos, pecadores, “raças feias”, pederastas, e adúlteras. As mulheres, por sinal, pareciam ser o grande alvo de sua ira,uma vez que meninas foram abatidas em quantitade bem maior do que meninos.
Podemos separar uma coisa da outra? Corremos o risco de estarmos fazendo associações arbitrárias e relacionando coisas que não tenham nada a ver uma com a outra. Ao menos no caso do deputado está implícito essa idéia de pureza, tão presente na carta do homicida/suicida que se ocupou mais de sua vida após a morte do que da corrente, pois essa, deveria lhe parecer impura, rodeada de sacrílegos, pecadores, “raças feias”, pederastas, e adúlteras. As mulheres, por sinal, pareciam ser o grande alvo de sua ira,uma vez que meninas foram abatidas em quantitade bem maior do que meninos.
Em casos como esses, não se trata apenas da pobreza, das ações do crime organizado com reflexos no interior das escolas, nem dos conflitos ordinários que afetam a comunidade escolar em suas rotinas. Mas se nos debruçarmos sobre o agravamento da violência no interior das ecolas, além da tendência de se copiar ou adotar comportamentos apresentados pela mídia, podemos quase dizer que essa é mais uma “crônica de uma tragédia anunciada”. Digo quase, porque pelo ineditismo da ação, somente de maneira muito remota se admitiria sua possibilidade em nosso território. Também nada nos autoriza dizer que estaríamos imunes a situações de tal natureza. A tragédia no Realengo, gera-nos forte mal estar tanto pela inconsistência e imprecisão das motivações como também das culpas. A quem acusar? A quem prender, julgar, condenar e punir, se o próprio protagonista do nefando crime, já tinha tratado de realizar todas essas operações e executar sua sentença? ! Sentença de aplicação extensa, incluindo na expiação da culpa, justo àqueles que mal tiveram tempo de constituir culpa alguma sobre qualquer coisa em suas vidas, abreviadas pelo próprio culpado.
Entretanto, se é verdade que nada poderia ser feito sobre a trama sinistra que se desenrolava em uma mente deturpada, é também verdadeiro que, muito se pode e deve ser feito para que nossas escolas voltem a ser espaços onde a criança encontre o acolhimento, a proteção e o carinho que lhe concerne nessa etapa sensível da vida humana. Pra começar, bastava que fossem encaminhadas de fato,algumas medidas recentes adotadas em forma de leis que, infelizmete alguns agentes procuram dificultar a aplicação.Mesmo assim, adotadas essas medidas, não se espere que mudanças ocorram imediatamente, pois em educação tudo parece acontecer muito lentamente. Mas, se tornam bem mais lentas na medida em que se lhes põem mais pedras no caminho, além das já existentes..
O que não pode continuar acontecendo é que a escola continue a ser um lugar em que os pais se vejam tomados de apreensão ao ver seu filho se dirigindo para ela e, lhes sinta tremer a espinha, ao pensar que poderá ser a última visão do ente amado. Não... Definitivamente não. Não é para isso que elas existem. A tragédia em Realengo é apenas a parte mais visível e chocante de uma escalada que associa de maneira macabra a educação com a violência. Não podemos sucumbir a isso. A escola tem que ser o campo fértil para o cultivo da esperança e não o deserto desolado onde prosperam apenas as ervas daninhas do medo.
Quanto à escola Tasso da Silveira, esperamos que não tenha sido ela também mortalmente ferida por Wellington.Como uma reação natural diante do fatídico acontecimento, pais e alunos provavelmente resistirão a freqüentar aquele espaço outra vez. As autoridades terão de desenvolver um esforço hercúleo no sentido do restabelecimento da normalidade, se é que isso será possível. Resta-nos desejar que seus pequenos mártires repousem em paz, que os sobreviventes recuperem-se em corpo e alma, retornando à vida cotidiana com força e saúde para enfrentar o trauma deixado pela tragédia e, juntamente com os demais viventes, venham reafirmar a alegria de viver nas salas e corredores da Escola Tasso da Silveira em Realengo, Rio de Janeiro..
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