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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Domenico Losurdo: 'Se repudiamos nosso passado de esquerda, desistimos do nosso futuro' - Carta Maior

26/10/2015 - Copyleft

Domenico Losurdo: 'Se repudiamos nosso passado de esquerda, desistimos do nosso futuro'

O mesmo sistema de pensamento e práxis que gerou a crise está encarregado de explicá-la, graças a essa 'ausência' da esquerda.


Marcelo Justo

Wikimedia Commons
Autor de uma dúzia de livros essenciais, entre eles “A esquerda ausente – crise, sociedade do espetáculo, guerra”, recém apresentado em Barcelona, Domenico Losurdo é uma referência da esquerda italiana e europeia, capaz de questionar não só as limitações analíticas de um marxismo vulgar como também o eurocentrismo que domina com frequência a reflexão europeia. Em diálogo com a Carta Maior, o filósofo italiano vinculou seu último livro com um dos grandes mistérios da história dos nossos dias: o impacto político do colapso financeiro de 2007-2008.
 
A quebra do banco Lehman Brothers e a crise do sistema financeiro internacional gerou um debate sobre o capitalismo como não se via desde a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Na cúpula do G20 de abril de 2009, em Londres, o então presidente estadunidense Barack Obama criticou os excessos de Wall Street, enquanto seu colega francês Nicolas Sarkozy falou da necessidade de refundar o capitalismo e acabar com a era dos paraísos fiscais.
 
Hoje, esse discurso parece uma alucinação de uma memória com febre. A recuperação liderada pela China, com o gigantesco investimento estatal que ativou sua economia e insuflou a demanda mundial, criou a ilusão de um capitalismo capaz de ressurgir eternamente das cinzas. A esquerda, que ainda não havia se recuperado da desorientação deixada pela queda do muro de Berlim, não pode ou não soube aproveitar aquele momento. “Mas a crise não acabou. Não é questão de pensar em paralelos simples, mas recordemos que a de 29 só terminou com a segunda guerra mundial. Hoje, vemos também que a crise não é só econômica, mas também política, como se vê com a União Europeia. Além disso, há um estado de guerra, como vemos na Síria e na Líbia, que tem levado muitos observadores a pensar que existe um grande perigo bélico. A esquerda tem que lidar com todas essas situações ao mesmo tempo: a econômica e social, a política e a bélica”, comentou Losurdo à Carta Maior.


Por quê a esquerda está “ausente”?


O grande problema é que, como diz Losurdo já no título do seu último livro, a esquerda está “ausente”, ou seja, que fugiu do debate público, deixando em seu lugar “o pensamento único neoliberal e neocolonialista”. Em outras palavras, o mesmo sistema de pensamento e práxis que gerou a crise está encarregado de explicá-la, graças a essa “ausência” da esquerda.
 
Losurdo reconhece que, nos últimos anos, essa esquerda “ausente” começou a despertar na Europa. O Syriza na Grécia, o Podemos na Espanha e Jeremy Corbyn no Reino Unido são expressões desse primeiro despertar. “Mas acho que, em todos os casos, ainda não compreenderam a fortaleza do ataque contra o Estado de bem-estar. É um ataque furibundo, que requer uma resposta coordenada”, afirmou ele.
 
Em sua análise, o bem-estar se tornou o equivalente a um bastão essencial numa guerra, a praça que não pode se render, porque levaria à queda de todas as outras. “É paradoxal, porque o bem-estar surgiu como resultado de uma situação nacional e internacional, como uma tentativa de frear as forças de esquerda. No final da Segunda Guerra Mundial, tínhamos uma União Soviética muito prestigiada e forças de esquerda com muito poder em diversos países europeus. O Estado de bem-estar foi a resposta capitalista a esses dois fenômenos. A situação atual é outra. Não existe União Soviética, a esquerda está ausente e a burguesia não tem nenhuma razão para manter esta instituição, por isso a está desmantelando”.
 
Diferente de outros pensadores da esquerda europeia, Losurdo é muito consciente do problema neocolonial. Em seus textos, qualificou a luta anticolonial como uma “luta de classes” e reclamou do fato de a própria esquerda não prestar a devida atenção ao tema. “Necessitamos um novo bloco histórico que lute contra o neocolonialismo que vemos nas guerras que estão acontecendo no Oriente Médio. Uma união de forças, da classe trabalhadora e de países emergentes como China, Brasil, Rússia e outras nações que devem se unir para combater o projeto capitalista-imperialista”, analisou Losurdo.


América Latina e a sociedade do espetáculo


Com relação à América Latina, que tem estado na vanguarda deste questionamento do pensamento único neoliberal no Século XXI, Losurdo vê luzes e sombras. “Há uma ofensiva imperialista na América Latina. Os Estados Unidos não quer abandonar a Doutrina Monroe, da América para os americanos. O golpe na Venezuela, em 2002, é um exemplo. Mas a esquerda latina também cometeu erros. O caso que conheço melhor é o mesmo caso venezuelano. Creio que Chávez fez algo muito importante, ao acreditar num Estado de bem-estar com o dinheiro do petróleo que antes era administrado pela oligarquia venezuelana, mas o seu limite foi ter se centrado na redistribuição, sem mudar o modelo de produção de riqueza. Nisso, a América Latina deveria olhar melhor o exemplo chinês”, afirma.
 
O livro de Losurdo tem como subtítulo “crise, sociedade do espetáculo, guerra”. O conceito de “sociedade do espetáculo” vem de um pensador francês, Guy Debord – que, em 1967, captou o surgimento de um fenômeno que nasceu com a televisão e o consumo, que começava a transformar a realidade na representação-espetáculo. Debord não sabia da internet e mal podia suspeitar do predomínio brutal que o mundo da imagem alcançaria sobre o da palavra décadas mais tarde. “É um obstáculo que a esquerda tem que superar para manter a solidariedade e o Estado de bem-estar. É algo que analiso em meu livro. A classe dominante conquistou não só o monopólio da riqueza e das ideias, mas também o das emoções. Nesse aspecto, creio que esta sociedade do espetáculo é ao mesmo tempo a sociedade da guerra em que se manipula a opinião pública. A situação do Oriente Médio deve ser entendida neste sentido”.
 
Na longa conversa telefônica com a Carta Maior, fica claro, porém, que o centro da reflexão de Losurdo é esta misteriosa “ausência” da esquerda, capaz de convertê-la num “fantasma” que, longe de percorrer a Europa para mudá-la como na frase inicial do “Manifesto Comunista” de Marx e Engels, busca se acomodar no interior da União Europeia neoliberal para não ficar de fora. Segundo o intelectual italiano, esse é o grande desafio. “Um dos problemas do Podemos na Espanha é quando se colocam como algo além da esquerda e da direita. Não dizem algo novo. Mas dizem algo perigoso. Se repudiamos nosso passado de esquerda, desistimos do nosso futuro. Quando o pensamento dominante busca que a esquerda tenha a mesma visão do Século XX que eles, essa esquerda deve perceber que isso se trata de uma grave capitulação histórica e ideológica, que prepara uma capitulação política para a transformação do presente”, disse ele à Carta Maior.
 
Tradução: Victor Farinelli


Créditos da foto: Wikimedia Commons
Domenico Losurdo: 'Se repudiamos nosso passado de esquerda, desistimos do nosso futuro' - Carta Maior

O Enem e a falácia da “doutrinação”. | Gazeta do Povo

Enviado por danielmedeiros, 25/10/15 12:47:25 PM

O Enem e a falácia da “doutrinação”.

Lembrou na edição desse domingo, 25 de outubro, a insuspeita jornalista econômica Miriam Leitão, que nesses 30 anos, avançamos em três áreas importantes: democracia, estabilidade e inclusão. E que voltar atrás é inaceitável.
No sábado, dia 24, a prova de Ciências Humanas do Enem, cujas questões são formuladas por um pool de professores das 57 universidades públicas do país, deu um banho de democracia, estabilidade e inclusão, elencando para os jovens postulantes a uma vaga no ensino superior, questões sobre a terceira revolução industrial e a desterritorialização da produção ( o que lembra o quanto é bem vinda a multietnicidade dos produtos ao mesmo tempo em que renascem os discursos racistas quanto a pessoas), sobre a moda dos selfies e o narcisismo epidêmico das sociedades urbanas contemporâneas, sobre o desencantamento e a racionalização em Max Weber, sobre a precaução necessária com o transgênicos, sobre a luta histórica pela igualdade de gêneros, sobre os condicionamentos sociais em Mannheim, sobre as guerras e os riscos aos patrimônio material, sobre a proteção ao meio ambiente, sobre a crise da água, sobre a superação da visão mítica do mundo nos pré-socráticos, sobre a alteridade ( em uma bela questão lembrando a importância de se colocar no lugar do outro para avaliar nossas convicções), sobre os excessos do Estado nos regimes ditatoriais, sobre os riscos da espionagem via internet, sobre a multiperspectividade do passado ( ao apresentar dois textos sobre o mesmo fato, a Guerra de Canudos, mostrando a importância do cotejamento das fontes), sobre o papel simbólico e a extensão social da Abolição, sobre o papel de apoio ( aparentemente controverso) das colônias africanas às suas metrópoles na segunda guerra mundial, sobre o papel dos movimentos sociais no aprofundamento da democracia brasileira, levando-a para além da mera participação eleitoral, sobre o conceito de Estado em Hobbes, sobre a importância das imagens no cenário político brasileiro, sobre o papel dos intelectuais na formação do mundo ocidental, sobre a ágora ateniense, sobre a globalização e sua crítica, sobre o problema da erosão nos rios, sobre a concentração urbana no Brasil, sobre o Código eleitoral brasileiro de 1932 e seus avanços, sobre o endividamento brasileiro no regime militar que fundamentou o chamado “milagre brasileiro”, sobre o pan-africanismo, sobre a construção da memória por meio da arte ( e como ela pode servir a propósitos que não são a verdade dos fatos), sobre os sofistas gregos, sobre o conceito de “homem cordial” em Sérgio Buarque de Holanda, sobre as novas formas sustentáveis de explorar a Amazônia, sobre os biomas brasileiros e os problemas que apresentam, sobre as relações entre trabalho e avanço tecnológico, sobre o conceito de Maioridade em Kant ( por meio de uma bela citação de Paulo Freire), sobre os riscos dos agrotóxicos nos alimentos, sobre a dificuldade de os europeus aceitarem a cultura ameríndia ao longo da colonização, sobre o confronto do conceito de socialismo e o capitalismo de Estado da China contemporânea e, finalmente, sobre a crise financeira mundial.
Como se pode ver, a prova de Ciências Humanas do Enem abordou, com largo espectro, temas políticos, econômicos, sociais, culturais, tecnológicos, filosóficos, educacionais, regionais, nacionais e globais, com competência e precisão, utilizando textos e imagens de autoridades e/ou personalidades conhecidas e respeitadas em suas áreas de atuação.
A opção da prova do Enem é claramente a de uma prova cidadã, preocupada com a seleção de jovens capazes de ler, interpretar e se posicionar sobre temas fundamentais, relevantes e urgentes da contemporaneidade.
E a pergunta que resta é: onde está a “doutrinação?” Onde está o viés de “esquerda”? Por acaso os temas tratados na prova não se coadunam com as importantes questões da nossa democracia? Por acaso não é importante que jovens conheçam e debatam essas questões?
O que fica cada vez mais claro é que a falácia da “doutrinação” esconde o desejo da censura e do autoritarismo, travestido de peroração voltado para os que não cuidam de ver com seus próprios olhos e escutar com seus próprios ouvidos.
Que este artigo funcione como um convite para que os leitores e leitoras leiam a prova, analisem suas questões, avaliem as alternativas e só depois formulem seus julgamentos. Não ver e não gostar, não ler e condenar é o caminho mais rápido e fácil para o retrocesso. E quem REALMENTE quer o retrocesso?
O Enem e a falácia da “doutrinação”. | Gazeta do Povo

Uma justiça para a família Vaccari. Outra para a família Cunha - Carta Maior

O JUIZ FARSANTE

26/10/2015 - Copyleft

Uma justiça para a família Vaccari. Outra para a família Cunha

Por que Sérgio Moro pediu a prisão da cunhada do petista com base em uma falsa imagem e mantém livre a esposa de Cunha, titular de contas ilegais na Suíça?


Najla Passos

ABr e internet
Coordenadora financeira do Centro Sindical das Américas, Marice Corrêa de Lima estava no Panamá, participando de um congresso da entidade, no dia 15 de abril deste ano, quando tomou ciência de que sua prisão temporária havia sido decretada pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. Foi quando ela soube também que seu cunhado, o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, havia sido preso e sua irmã e esposa dele, Giselda de Lima, cumprira mandado de condução coercitiva. 
 
Dada como foragida, Marice só soube das provas que pesavam contra ela dois dias depois, quando retornou ao país e se apresentou espontaneamente à Polícia Federal: o Ministério Público Federal (MPF) a identificou como a mulher que aparecia em imagens cedidas pelo Banco Itaú efetuando depósitos na conta de sua irmã, Giselda, em duas agências da capital paulista. Foi o suficiente para o juiz Sérgio Moro acatar a tese de que ela estaria ajudando Vaccari a lavar o dinheiro oriundo da corrupção.  
 
No dia 20, o MPF chegou a pedir a conversão da sua prisão temporária em preventiva, para que ela ficasse detida por tempo indeterminado. "Tudo indica que Giselda [mulher de Vaccari] recebe uma espécie de 'mesada' de fonte ilícita paga pela investigada Marice, sendo que os pagamentos continuam sendo feitos até março de 2015. Nesse contexto, a prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração delitiva", sustentaram os procuradores.
 
Marice negava. Mas o juiz Sérgio Moro estendeu a prisão temporária dela, que vencia no dia 20, por mais cinco dias. Ele teve que voltar atrás no dia 23, liberar a investigada e reconhecer o erro primário: uma perícia feita pela PF comprovou que não era Marice que aparecia nas imagens, mas a própria Giselda. A frágil prova jurídica apresentada pelo MPF, acatada pelo juiz e amplamente divulgada pela imprensa caíra por terra. “Elas são muito parecidas”, desculparam-se procuradores e juiz. 
 
Dois pesos e uma medida
 
Situação bem diversa vive a família do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também acusado de envolvimento no mesmo esquema da Petrobrás, investigado pela mesma Operação Lava Jato. No dia 20 de agosto, a Procuradoria Geral da República (PGR) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de abertura de investigação contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de receber pelo menos US$ 5 milhões em propinas de uma empresa contratada pela estatal. 
 
Na denúncia, a PGR pede que ele seja condenado por dois crimes de corrupção passiva e 60 operações de lavagem de dinheiro. Isso mesmo: 60 operações de lavagem de dinheiro.  E não se tratam de depósitos fracionados em agências bancárias do Itaú, aqui mesmo no Brasil, mas de um esquema sofisticado que envolve contas em paraísos fiscais, empresas offshores e até a utilização de doações à igreja Assembleia de Deus de Madureira, no Rio de Janeiro, frequentada por Cunha. 
 
Quatro das contas utilizadas por Cunha e seus familiares estão registradas no banco suíço Julius Baer. Três delas em nome de empresas offshores ligadas diretamente ao presidente da Câmara. Uma quarta aparece com o nome fantasia KOEK, mas um dossiê encaminhado pelo Ministério Público Suíço às autoridades brasileiras comprova que sua titular é a ex-apresentadora da TV Globo, Cláudia Cruz, esposa de Cunha. Uma das filhas do casal é registrada como dependente. Conforme o MP suíço, as quatro contas registraram entrada de cerca de R$ 31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões, entre 2007 e 2015, em valores corrigidos.
 
A conta movimentada por Cláudia vem sendo usada para sustentar, com o dinheiro da corrupção, alguns luxos pouco comuns à imensa maioria dos brasileiros. De janeiro de 2013 a abril de 2015, ela cobriu US$ 525 mil em débitos de um cartão de crédito. Outros US$ 316,5 mil foram destinados ao pagamento de um segundo cartão, em quatro anos. Uma famosa academia de tênis da Flórida, a IMG Academies, recebeu US$ 59,7 mil do montante. A família destinou US$ 8.400 à escola inglesa Malvern College e transferiu US$ 119,7 mil para a Fundacion Esade, da Espanha.  
 
O processo contra Cunha foi parar no STF porque ele tem direito a foro privilegiado, o que não é o caso de Cláudia. As investigações contra ela, se é que já foram transformadas em denúncia, continuam na justiça comum, ou seja, nas mãos de Sérgio Moro, aquele rápido o suficiente para mandar prender a cunhada de Vaccari antes de saber se era ela, de fato, nas imagens que sustentavam a decisão. 
 
O curioso é que mesmo com todas as provas enviadas ao Brasil pelas autoridades da Suíça, não se tem notícia de que ele sequer a tenha convocado para depor. Antes da PGR receber o dossiê do MP suíço sobre o casal, nenhuma acusação contra ela foi vazada para a imprensa. Será que o juiz que decretou a prisão da cunhada de Vaccari no afogadilho, com base em imagens que nem eram delas, não quer se arriscar a incomodar a mulher do poderoso chefe da Câmara?
 
Debate jurídico
 
Os erros, atropelos e excessos cometidos no âmbito da Operação Lava Jato têm suscitado um amplo debate jurídico no país. Há quem aplauda e quem condene o estilo do juiz Sérgio Moro de conduzir o processo. O que ninguém discorda é que - para usar um termo que se tornou bastante usual no mundo jurídico desde o chamado mensalão – ele esteja “inovando” em matéria legal. E o caráter seletivo de suas ações é, sem dúvida alguma, parte fundamental desta “inovação”. 
 
Em palestra na capital norte-americana, no último dia 19, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, declarou que a Lava Jato é uma “revolução” no país. “As investigações têm sido muito bem conduzidas. Nós temos algumas sentenças, sentenças muito duras, alguns dos altos executivos do Brasil já foram condenados a passar 15 ou 20 anos na cadeia. É realmente algo novo", disse ele. 
 
Mas há também quem conteste o estilo Moro. No dia 10 de outubro, em seminário promovido pela OAB, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Sebastião Reis, criticou duramente a banalização de uma das principais “inovações” introduzidas pela operação: a utilização da delação premiada como jamais visto antes no país. “A delação está sendo banalizada. Tem mais colaborador do que réus na ‘lava jato’”, afirmou.
 
Ele também destacou que o instrumento gera seletividade nas condenações. “O Estado está abrindo mão do direito de punir em troca da condenação de três, quatro pessoas”, ressaltou. E condenou o vazamento seletivo das delações para a imprensa que, segundo ele, prejudica a defesa dos citados e pressiona os juízes que atuam no caso a condenarem os acusados.
 
Uma pesquisa realizada pela revista Consultor Jurídico e divulgada no último dia 15 mostrou que todas as delações firmadas no âmbito da Lava Jato violam a Constituição e as leis penais. A revista analisou 23 acordos homologados por Moro e descobriu que eles preveem, por exemplo, que nem mesmo os advogados de defesa tenham acesso às transcrições dos depoimentos do delator, que ficam restritas ao Ministério Público Federal e ao juiz, o que viola o principio do contraditório e o direito à ampla defesa. 
 
O estudo também mostra que os acordos impedem os delatores contestarem suas sentenças judicialmente, o que viola o direito de ação (artigo 5º, XXXV), que assegura que nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser excluída da apreciação do Judiciário. E ainda que, tal como o Ato Institucional nº 5, editado durante a ditadura militar, os acordos da Lava Jato vedam completamente aos réus a possibilidade de impetração de habeas corpus, entre outras críticas apontadas.
 
Operadores do direito têm criticado também a mão pesada e seletiva do juiz Sérgio Moro para determinar prisões, ainda que de forma diferente para os diferentes envolvidos,  no país que vive o dilema de possuir a quarta maior população carcerária do mundo e desrespeita com frequência as garantias individuais previstas pela própria Constituição. Não por acaso, por conta da sua atuação na Lava Jato, Moro virou o garoto-propaganda de um projeto de lei apresentado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) ao Senado que prevê a prisão de réus condenados em 2ª instância antes mesmo da conclusão do devido processo legal. 
 
Em audiência pública realizada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para debater a proposta, ele foi rechaçado por seus pares, que defenderam é possível avançar no combate à corrupção sem reduzir as garantias individuais previstas na Constituição. No debate, o juiz Rubens Casara, especialista em direito processual penal, que citou diretamente a Lava Jato ao operar suas críticas ao projeto defendido por Moro, lembrou que tanto no fascismo clássico italiano, quanto no nazismo alemão e no stalinismo soviético, a presunção de inocência foi relativizada. 
 
O magistrado não tocou no episódio que envolveu Marice e nem em nenhum outro, mas sustentou que a presunção da inocência é importante porque os juízes erram muito e por motivos diversos. Entre eles, citou, inclusive, a pressão da mídia e o medo de serem tarimbados como “petralhas”. “Falta coragem para decidir contra a opinião pública, que muitas vezes não passa da opinião publicada pela imprensa”, ressaltou. 
 
Elmir Duclerc Ramalho Junior, promotor na Bahia e professor de direito processual penal, reforçou que o projeto - inspirado na atuação de Moro na Lava Jato – está impregnado pelo autoritarismo. “Há uma tendência autoritária perigosa que lembra, sim, períodos autoritários da história da humanidade”, afirmou. Ele destacou que a população carcerária brasileira cresceu 16 vezes mais do que a população do país. “Não há malabarismo hermenêutico possível para dizer que não há a incorporação de um pensamento autoritário neste projeto”, disse. 
 
Professor de Criminologia da Faculdade de Direito da USP, Maurício Stegemann Dieter fez uma das críticas mais agressivas ao projeto e ao seu garoto-propaganda. De acordo com ele, o projeto está centrado em uma espécie de “populismo midiático”, que dispensa o conhecimento científico para se calcar no senso comum. Ele lembrou que nunca se prendeu tanta gente na história do país, inclusive gente do andar de cima, como políticos e donos de empreiteiras. Por isso, ele classifica como delírio a premissa que embasa o projeto e o discurso de  Moro: a de que o “Brasil é o país da impunidade”.  
 
Um quase epílogo
 
No dia 20 de setembro passado, João Vaccari Neto foi condenado por Moro a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa, pelo recebimento de pelo menos R$ 4,26 milhões em propina de contratos da Petrobras. Mas como os processos da Lava Jato correm em segredo de justiça e a imprensa só tem acesso ao que convém para seus condutores, ainda é difícil saber se há, de fato, provas contra Marice e Giselda, como sustentava o MPF em abril deste ano. 
 
Pode ser que sim. A revista Veja, um dos veículos presenteados com vazamentos seletivos do processo, diz que, entre 2008 e 2014, entraram R$ 322,9 mil na conta de Giselda, em vários depósitos parcelados. Segundo O Estado de S. Paulo, outro destinatário dos vazamentos seletivos, Marice teria recebido, em dezembro de 2013, propina da empreiteira OAS, alvo da investigação sobre corrupção e desvios na Petrobrás. Mas ambos os veículos também disseram que Marice era a mulher que aparecia fazendo depósitos nas agências do Itaú. Então, fica difícil ter certeza de qualquer coisa.
 
Mesmo atolado em denúncias de corrupção, manobras e desmandos de todo tipo, Cunha continua presidindo a Câmara dos Deputados do país. É o segundo na linha de sucessão da presidenta Dilma Rousseff e o homem que irá decidir se o parlamento acolherá ou não seu pedido de impeachment, como pleiteia a oposição.  O processo contra ele continua a tramitar no STF, agora sob sigilo. Partidos como o PSOL, Rede, PT e PSB já pediram a cassação do seu mandato, mas ele se recusa, inclusive, a deixar a presidência da Câmara. De Cláudia Cruz, não se tem nenhuma noticia. Continua livre, leve e solta.
 


Créditos da foto: ABr e internet




Uma justiça para a família Vaccari. Outra para a família Cunha - Carta Maior

STAR WARS e o Despertar da Força… Conservadora e Autoritária ‹ Leitor — WordPress.com

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Por que cervejeiro é empresário e dono de “boca de fumo” é traficante?

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SUS faz mais e melhor com menos recursos que a saúde privada

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Ricardo Rodrigues Teixeira é médico.
Prof. do Dpto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.
Nova pesquisa DataFolha indica (publicada na Folha de São Paulo do dia 13 deste mês), mais uma vez, a péssima avaliação da saúde no país. Mas há aspectos importantes dessa pesquisa que, ao apresentar e analisar os dados, o jornal Folha de São Paulo faz contorcionismos para ocultar. Por exemplo, que a saúde privada é pior avaliada que o SUS. Vejamos.
Lendo os dados divulgados notamos que seis em cada dez brasileiros (ou seja, 60%), acham a saúde péssima. Quando só se avalia apenas o SUS, o numero cai para 54% de péssimo.
Quando se avalia a “saúde em geral”, 24% dá nota zero; quando se avalia apenas o SUS, 18% dá nota zero.
A matéria evita comentar (mas pode ser lido nos dados que disponibiliza) que 2% dá nota 10 para a “saúde em geral” e 3% dá nota 10 quando se avalia só o SUS.
E a diferença mais notável: 11% dá nota maior que 7 para a “saúde em geral” e 18% dá nota maior que 7 para o SUS.
Conclusão óbvia, cuidadosamente evitada pela Folha na análise dos resultados: a saúde privada puxa significativamente a avaliação da “saúde em geral” para baixo!
Mas, excetuando o esclarecimento no primeiro parágrafo de que o levantamento envolve a rede pública e privada, no resto da matéria a expressão “saúde privada” nem é mencionada. A comparação é sempre entre a “saúde em geral” e o SUS. Afinal, o objetivo é sempre o mesmo: associar a “péssima avaliação da saúde” ao nome SUS e evitar, a todo custo, de associá-la ao setor privado, mesmo quando é ele que mais contribui para a má avaliação da saúde no país.
Se fosse um jornalismo sério e honesto, lembraria ainda o quanto o setor privado gasta para prestar um mal atendimento a 25% da população (parcela aproximada da população brasileira que tem plano de saúde privado e que gasta 52,5% de todos os recursos gastos com saúde no país, segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde; ou ainda, cerca de R$ 2.200 per capita) e o quanto o setor público tem de recursos para dar atendimento a 83% da população (percentual que referiu ter utilizado o SUS segundo dados deste levantamento do DataFolha) e garantir a saúde coletiva através de medidas que beneficiam indistintamente toda a população (vacinas, vigilância epidemiológica etc.) e, mesmo assim, conseguir ser melhor avaliado (47,5% do total de recursos gastos com saúde no país ou aproximadamente R$ 1.000 per capita).
Outro fato que se pode deduzir dos dados, e que também não é destacado pela Folha, é que se 25% têm plano de saúde e 83% utilizaram o SUS, então o SUS acaba sendo utilizado por muita gente que tem plano de saúde. E aí, se fosse um jornalismo sério e honesto, ela também faria questão de destacar o conhecido calote que os planos de saúde aplicam no SUS, referente aos atendimentos de urgência e emergência, ao tratamento de câncer, transplantes, hemodiálise, entre outros, que os planos negam cobertura e o SUS acaba assumindo (apenas 25% dos valores devidos são ressarcidos ao Sistema Único de Saúde, dessa parte 20% se perde com recursos da justiça, tramitação, prescrição etc.).
Explicitar esses dados reais daria ainda maior dramaticidade à melhor avaliação do SUS comparada à avaliação geral da saúde no país. E nesse caso, a chamada mais justa para matéria seria: “SUS faz mais e melhor com menos recursos que a saúde privada”.
Mas, aparentemente, este jornalismo não é sério nem honesto. Ele não pode ser quando tem compromissos claros com os setores que fazem da saúde um lucrativo ramo de negócios e não um bem público e um direito universal.
Fonte: Carta Maior
SUS faz mais e melhor com menos recursos que a saúde privada

Putin explica como os EUA criaram o ISIS (Estado Islâmico) « Sul21

DESMASCARA E PÕE A NU A POLÍTICA DE PROMOÇÃO DO CAOS NA SÍRIA PELOS EUA.



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Argentina: Scioli venceu o primeiro turno e enfrentará Macri no segundo - Carta Maior

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O litígio Bolívia-Chile em Haia | Mundo | O POVO Online

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Pensava que o exército sírio estava morto? Dê uma olhada agora - Carta Maior

Essa é a Rússia que à frente da URSS, garantiu por muito tempo a soberania de Cuba. Que serviu de contra peso ao Imperialismo norte americano no período que se convencionou chamar de "Guerra Fria". Sua retirada do Afeganistão  significou Pensava que o exército sírio estava morto? Dê uma olhada agora - Carta Maior

Rui Falcão, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) | RedeTV! - É Notícia

Excelente entrevista do presidente do PT Rui Falcão. la libertação dos companheiros presos arbitrariamente na Operação Lava Jato. E o José Dirceu não é um problema do José Dirceu, como deu a entender o presidente Rui Falcão.  Não sei qual o grau da relação de Dirceu com o PT. S e ainda permanece e considerasse petista. Mas se está na situação em que está, com suas atividades privadas de profissional liberal que é, profundamente abaladas e provavelmente comprometidas, foi devido à sua atividade pública. E esta se deu nesse período, integralmente no PT, do qual é um dos fundadores. A elite quer destruir Dirceu pessoalmente. Deixá-lo a míngua, depois de desmoralizá-lo e expô-lo a um Bullying coletivo. E é nessa hora que muitos que por anos a fio o trataram amigavelmente por companheiro, vão lhe dar as costas, o negarão pela terceira vez?

Rui Falcão, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) | RedeTV! - É Notícia

Uma aventura para orgulhar o Brasil - TIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”





Uma aventura para orgulhar o Brasil

desafio
Não é novo, tem quatro anos.
Mas me passou e deve ter passado a muita gente despercebido.
O documentário dirigido por Rodrigo Astiz e Marcello Bozzini, produzido pela Mixer para o Discovery Channel é algo que deve ser assistido e divulgado nestes tempos em que tentam reduzir a Petrobras a um amontoado de corruptos e ineptos.
É a prova que a nossa maior empresa vai sacudir a poeira que alguns de seus ex-integrantes atiraram sobre ela e continuar a ser a grande ferramenta de libertação econômica do Brasil.
Com narrativa técnica que não esconde a emoção dos homens e mulheres que tornaram possível descobrir e explorar em tempo recorde a maior jazida de petróleo do novo século.
Assista, chame a família para ver.
A TV brasileira não fez nada parecido, como era de seu dever.
Mas está aí, jorrando 1 milhão de petróleo por dia e crescendo a cada mês.
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domingo, 25 de outubro de 2015

Direito de resposta é aprovado na Câmara - Carta Maior

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DE TUDO UM POUCO: Um ano da reeleição de Dilma e 70 de vida de Lula

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Quem foi o terrível Amin al Husayni, a quem Netanyahu atribui o Holocausto? - Carta Maior

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Eleições na Argentina: o que é que está em disputa? - Carta Maior

23/10/2015 - Copyleft

Eleições na Argentina: o que é que está em disputa?

Continuar com o legado de Néstor e Cristina significa continuar derrubando os mitos e crenças preparadas pelas elites e pelos tecnocratas internacionais.


Amílcar Salas Oroño e Lucio Salas Oroño

wikimedia commons
Neste domingo, 25 de outubro, acontecem as eleições presidenciais argentinas. Há boas possibilidades de que tudo seja resolvido no mesmo dia, já que sistema eleitoral determina duas alternativas de triunfo já no primeiro turno: se um candidato obtém mais de 40% dos votos, desde imponha uma diferença de mais de 10% sobre o segundo colocado – ou se um candidato consegue mais de 45%, sem depender de nenhum outro fator. Todas as pesquisas de opinião apontam que uma vitória de Daniel Scioli, candidato da Frente para a Vitória (FpV), já no primeiro turno é um cenário possível, embora a margem de erro não permita considerá-la uma certeza.
 
Scioli é um dirigente que integra a FpV desde o seu princípio. Em 2003, foi eleito vice-presidente, junto com Néstor Kirchner. Em 2007 e 2011, foi eleito e reeleito governador da Província de Buenos Aires. Ele tem outro perfil e carisma que os Kirchner. Em suas palavras e em seus atos se constata uma fidelidade à tradição do peronismo.
 
Entre os concorrentes opositores estão o conservador Mauricio Macri, um empresário neoliberal, ex-presidente do Boca Juniors e prefeito da Cidade de Buenos Aires, cujos assessores econômicos se assemelham bastante a Pedro Malan, Elena Landau e companhia, e Sergio Massa, um político cujo perfil pode ser definido como uma versão argentina do PMDB: dono de uma moral sinuosa e disposto a reivindicar todo tipo de interesses específicos.
 
Mais Estado e mais mercado
 
O que está em disputa é uma orientação geral do processo político, econômico e cultural. A continuidade do que foi feito durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner, significa administrar derrubando os mitos e crenças preparadas pelas elites e pelos tecnocratas internacionais. Por exemplo, acabar com o mito da autonomia do Banco Central permitiu regular o mercado cambial, fazer uso de suas reservas para o pagamento da dívida externa e orientar parte do crédito outorgado pela banca privada às atividades produtivas.
 
Nestes 12 anos, o Estado tem atuado na regulação dos preços relativos, promovendo as exportações industriais e principalmente o consumo interno. Essa política de “mais Estado e mais mercado” é o que permitiu que o poder de compra dos argentinos tenha aumentado, apesar da inflação. Também contribuiu para isso o estabelecimento de um salário mínimo anual – o mais alto em dólares e capacidade de compra da região –, as convenções de trabalhadores para negociações paritárias anuais de fixação dos salários – das 5 realizadas em 2003, se passou a 1,3 mil em 2015 –, no mesmo período em que o desemprego caiu de 25% a 7%.
 
A indústria argentina gerou ao menos 3 milhões de postos de trabalho nesta última década, e viu entrar em funcionamento centenas de novos parques industriais disseminados por todo o país. A expansão das pequenas e médias empresas foi fundamental para aumentar a criação de empregos, assim como a diminuição da estrangeirização, com a nacionalização de algumas das grandes empresas públicas que foram privatizadas nos Anos 90: Correios, as empresas de serviços de água e saneamento, a Aerolíneas Argentinas e, fundamentalmente, a YPF (sigla em espanhol para Jazidas Petrolíferas Fiscais).
 
Por sua parte, o que fariam Macri ou Massa? Eles mesmos disseram durante a campanha: se desprender dos ativos “ociosos” do Estado, “equilibrar as contas fiscais”, “garantir a confiança dos investidores”…
 
Durante os governos kirchneristas, foi estabelecida a Bolsa Universal por Filho (AUH, por sua sigla em espanhol), o principal programa de proteção social do país, que ajuda a desempregados e trabalhadores informais. Atualmente, o país entrega quase 3 milhões de AUHs por mês. Para dar continuidade ao programa – a bolsa é entregue desde a gravidez até os 18 anos dos filhos –, se criou o Plano Progredir, que subsidia jovens entre 18 e 25 anos, para que continuem seus estudos.
 
Também foi lançado o Plano Procriar, para que os setores médios pudessem construir ou melhorar suas casas, enquanto continuam as construções de novas moradias sociais para os setores de baixa renda. Foram construídos 2 mil escolas em todo o país e se criaram 15 universidades nacionais novas. Graças às sucessivas moratórias por falta de recursos, 97% dos argentinos maiores de 65 anos estão aposentados, recebendo mensalmente uma quantia que por lei nacional, é ajustada duas vezes por ano.
 
Foram criados ou reciclados centenas de centros culturais em todo o país – em muitos casos, velhas salas cinematográficas – as produções teatrais e cinematográficas foram apoiadas ativamente, fazendo de Buenos Aires a cidade de fala espanhola com mais apresentações. Se recuperou o conceito de turismo social, quase gratuito, e se promoveu o turismo interno – sem diminuir o turismo regional: o Brasil continua sendo o principal destino turístico dos argentinos.
 
Integração ou dependência
 
Desde o começo do seu projeto, a FpV promoveu a ideia da integração entre seus líderes e militantes de origem não peronista. Entre os candidatos que se apresentam nesta eleição pela FpV há dirigentes vindos da União Cívica Radical (UCR), socialistas, comunistas, independentes e das diferentes variantes do próprio peronismo.
 
Neste 12 anos, a liberdade de imprensa foi respeitada como de forma paciente na Argentina – apesar da disputa contra as corporações midiáticas, que se transformaram na verdadeira oposição política do país. Não houve intervenção do Poder Executivo em nenhuma província. As decisões parlamentárias sempre foram respeitadas, mesmo nos tempos em que a FpV ficou em minoria. Também se garantiu a autonomia do Poder Judicial, que, em muitas oportunidades foi abertamente hostil ao kirchnerismo.
 
Houve uma integração política e territorial, com uma visão federal do processo histórico: dezenas de milhares de quilômetros de estradas construídas, o dobro das pistas existentes até 2003, a reparação de vias e a compra de material para as ferrovias – que estavam totalmente abandonadas –, além da recuperação da Aerolíneas Argentinas, que agora voa diariamente a todas as capitais de províncias – estabelecendo entre elas pontes aéreas que já não passam pela cidade de Buenos Aires. A integração nacional permitiu o florescimento saudável da identidade nacional. Como disse o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, durante o funeral de Néstor Kirchner: “ele foi quem devolveu a autoestima aos argentinos”.
 
A integração econômica regional é de ainda maior importância estratégica. A FpV e seu candidato estipularam que a relação com o Brasil e os países do Mercosul é vital para o seu próprio destino. A poucos dias do aniversário da histórica decisão tomada em conjunto por Hugo Chávez, Lula e Néstor Kirchner, de terminar com a ALCA – em Mar del Plata, em novembro de 2005 –, Scioli reafirmou essa orientação fundamental, sustentando que só a partir de um Mercosul fortalecido se poderá, eventualmente, serem desenvolvidas relações frutíferas com a União Europeia. O candidato da FpV estabeleceu relações pessoais com todos os líderes regionais e já recebeu o apoio do governo venezuelano, dos ex-presidentes Lula e Pepe Mujica, da presidenta Dilma Rousseff e do mandatário equatoriano Rafael Correa.
 
O que se pode dizer a respeito de Mauricio Macri e Sergio Massa? Os telegramas do Wikileaks revelam que ambos são visitantes habituais da Embaixada dos Estados Unidos, bastante habituais, além de serem abertamente partidários de uma aproximação com a Aliança do Pacífico, e de uma economia argentina que deve “se abrir ao mundo” – o que deve ser lido também como se fechar para a região.
 
No fim das contas, os termos das disputas eleitorais na América Latina continuam sendo bastante similares desde que Hugo Chávez deu o pontapé inicial do novo ciclo político, em 1998. Neste domingo, a Argentina não será uma excepção.
 
Amílcar Salas Oroño é um cientista político argentino.
 
Lucio Salas Oroño é escritor argentino.
 
Tradução: Victor Farinelli



Créditos da foto: wikimedia commons
Eleições na Argentina: o que é que está em disputa? - Carta Maior

Conheça as diferenças entre monografia, dissertação e tese | Canal do Ensino | Guia Gratuito de Educação

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sábado, 24 de outubro de 2015

Lula, a estudantes do Piauí: a educação é a maior herança

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Não dá pra ver ladrão chamar o PT de ladrão, critica Lula

Uma grande verdade o que diz Lula. Não dá mesmo. Mas já faz tempo que não. Embora retardada, é o início de uma reação. No entanto, temos de nos perguntar, foi correto silenciar por tanto tempo? Foi correto, deixar  os companheiros largados á própria sorte e assistir passivamente ao seu suplício na jaula dos leões?

Não foi tanto culpa de Lula, talvez não tão diretamente como se pode pensar, dado a posição sensível que ocupava e continua ocupando. Mesmo assim, arriscou em alguns momentos após o mandato, tecer críticas à AP 470. Mais do que a Lula ou a Dilma, cabe ao partido defender seus militantes, dirigentes ou não, diante de qualquer situação até onde sejam defensáveis. Não se chegou nem perto dessa situação e o PT, refiro me à direção principalmente,  jogou pra escanteio todo o sentido da palavra COMPANHEIRO.





Não dá pra ver ladrão chamar o PT de ladrão, critica Lula

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Não foi tanto culpa de Lula, talvez não tão diretamente como se pode pensar, dado a posição sensível que ocupava e continua ocupando. Mesmo assim, arriscou em alguns momentos após o mandato, tecer críticas à AP 470. Mais do que a Lula ou a Dilma, cabe ao partido defender seus militantes, dirigentes ou não, diante de qualquer situação até onde sejam defensáveis. Não se chegou nem perto dessa situação e o PT, refiro me à direção principalmente,  jogou pra escanteio todo o sentido da palavra COMPANHEIRO.





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Ciddad de São Paulo: Prefeito Haddad eleva piso e abre 3,5 mil vagas de professor | bloglimpinhoecheiroso

Coerente com a capacidade de pagamento da maior capital do país. Alckimin não considera isso em sua política educacional.



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