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domingo, 24 de maio de 2015

Moro quer delação de Pascowitch contra Dirceu | Brasil 24/7



QUANDO ESSE JUIZ, AMIGO DO DOLEIRO YOUSSEF, SERÁ POSTO NO SEU LUGAR?



Moro quer delação de Pascowitch contra Dirceu | Brasil 24/7

A nova disputa pelo Pré-Sal

150121-Pré-Sal
Por que são falsos os argumentos segundo os quais empresa “tornou-se incapaz” de explorar reservas que descobriu. A estranha lógica que tornaria companhias estrangeiras “eficientes”
Mauro Santayana, em seu blog
Os jornais voltam a anunciar que se discute, dentro e fora do governo, o fim da atuação da Petrobras como operadora exclusiva do pré-sal, com fatia mínima de 30%.
Alegam, entre outras coisas, seus adversários que seria inviável para a Petrobras continuar a explorar o petróleo do pré-sal com a baixa cotação atual do barril no mercado global, quando a produção oriunda dessa área cresceu 70% em março e se aproxima de 500 mil barris por dia.
Ora, se a Petrobras, que acaba de ganhar (pela terceira vez) o maior prêmio da indústria internacional de exploração de petróleo em águas marinhas, o OTC Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, nos EUA, justamente pelo desenvolvimento de tecnologia própria para a extração do óleo do pré-sal em condições extremas de profundidade e pressão, estaria tendo prejuízo na exploração desse óleo, porque as empresas estrangeiras, a quem se quer entregar o negócio, conseguiriam ter lucro como operadoras, se não dispõem da mesma tecnologia?
Se a Petrobras explora petróleo até nos Estados Unidos, em campos como Cascade, Chinook e Hadrian South, onde acaba de descobrir reservas de 700 milhões de barris, em águas territoriais norte-americanas do Golfo do México, porque tem competência para fazer isso, qual é a lógica de abandonar a operação do pré-sal em seu próprio país, onde pode gerar mais empregos e renda com a contratação de serviços e produtos locais, e o petróleo é de melhor qualidade?
A falta de sustentação dessa tese não consegue ocultar seus principais objetivos. Se quer aproveitar uma “crise” da qual a empresa sairá em poucos meses (as ações com direito a voto já se valorizaram 60% desde janeiro; o balanço foi apresentado com enormes provisões para perdas por desvios de R$ 6 bilhões, que delatores “premiados”, cuja palavra foi considerada sagrada em outros casos, já negaram que tenham ocorrido; a produção e as vendas estão em franco crescimento) para fazer com que o país recue no regime de partilha de produção, de conteúdo nacional mínimo, e na presença de uma empresa nacional na operação de todos os poços, para promover a entrega da maior reserva de petróleo descoberta neste século para empresas ocidentais, como a Exxon, por exemplo, que acaba de perder, justamente para a Petrobras, o título de maior produtora de petróleo do mundo de capital aberto.
Como ocorreu na década de 1990, cria-se um clima de terror para promover a entrega de uma das últimas empresas sob controle nacional ao estrangeiro.
Enquanto isso não for possível, procura-se diminuir sua dimensão e importância, impedindo sua operação na exploração de reservas que são suas, por direito, situadas em uma área que ela descobriu, sozinha, graças ao desenvolvimento de tecnologia própria e inédita e à capacidade de realização da nossa gente.

A nova disputa pelo Pré-Sal

A mídia de Shrödinger - Carta Maior

22/05/2015 - Copyleft

A mídia de Shrödinger

É como no paradoxo da física quântica. Se tiver ligação com o PT, é automaticamente culpado. Se for de oposição, é tratado com a presunção de inocência.


Tadeu Porto

physicsworld.com
Confesso que já subestimei a inteligência da imprensa nacional. Bom, depois de ver boa parte dela agir como se não soubesse sequer os nomes dos presidentes de países da América Latina, acabei desdenhando um pouco mesmo. Sei que boa parte dos leitores me entende e peço desculpas aos demais por uma posição tão esnobe. Não se repetirá, prometo!

Até mesmo porque melhorei meu juízo sobre a mídia brasileira nos últimos dias, afinal descobri que ela parece ter aplicado conceitos de física quântica em seu jornalismo, e isso não é para qualquer um!

Em 1935, o físico Erwin Schrödinger criou um exercício mental para demonstrar o paradoxo que era abstrair com elementos cotidianos a teoria referente à mecânica quântica. O experimento consistia em considerar um gato vivo preso dentro de uma caixa fechada e opaca, com um frasco de veneno intacto, um martelo, um recipiente com material radioativo e um detector de radiação.

Com tal configuração, haveria duas possibilidades: (1) o detector identificar o material radioativo que aciona o martelo, quebra o frasco e libera o veneno matando o gato; ou (2) o detector não identificar o material radioativo, e os demais itens ficam no mesmo estado inicial e o gato continua vivo.

O interessante dessa proposta é que, segundo a física quântica, o gato pode estar vivo ou morto no mesmíssimo instante (considerado estado vivo morto) uma vez que a partícula radioativa subatômica pode assumir as duas posições – detectada ou não – ao mesmo tempo.

Sem a pretensão de querer ser um novo Nobel de física, proponho aqui também um experimento para mostrar o quão dúbio é o comportamento dos nossos grandes meios de comunicação que, assim como partículas subatômicas, podem assumir duas posições diferentes no mesmo instante, numa incrível contradição no tempo e espaço!

O exercício mental consiste em imaginar um esquema qualquer de corrupção. Na investigação do crime, existe um delator numa sala, depondo para uma instituição pública qualquer (um conjunto de legisladores ou policiais, por exemplo). No mesmo recinto tem um repórter da grande mídia que irá publicar certa notícia. As duas possibilidades existentes são: (1) o delator insinua a participação de alguém do PT em algum esquema ilícito; ou (2) o delator insinua uma outra participação, semelhante ou até igual, de alguém que não é do Partido dos Trabalhadores.

Dentro desses dois estados, a mídia conseguiu criar um paradoxo chamado sujeito inocente culpado. Se a pessoa tiver alguma ligação com o PT é automaticamente tratada como culpada pela imprensa. Todavia, com os mesmos sujeitos e na mesma situação, se for um indivíduo de oposição ao governo logo é tratado com a presunção de inocência (como se deve ser, diga-se de passagem).

Vamos a dois exemplos práticos.

Primeiro, o delator Alberto Youssef insinua que o governo sabia dos esquemas de corrupção da Lava Jato. Logo, o “fato” vira capa da revista de maior circulação nacional às vésperas da eleição, com direito a grande divulgação por parte de outros veículos e um jargão exaltando a culpabilidade que perdura até os tempos de hoje. Eis o sujeito culpado.

Agora analisemos o mesmo delator, conversando com a mesma polícia acerca do senador Aécio Neves, oposição ao governo e adversário derrotado ao planalto em 2014. Youssef afirmou que o mineiro dividia uma mesada de aproximadamente 100 mil dólares com outro político. Apesar da informação ter muito mais riqueza de detalhes, diferente da primeira, a mídia se comportou de maneira muito mais cautelosa: nos títulos das matérias não tem mais afirmativa mas sim a palavra “suposto”; a revista que tinha dado capa à outra delação sequer escreveu sobre o ocorrido (confesso que não achei na pesquisa do Google) e o assunto morreu atualmente. Esse é o sujeito inocente.

Então, se houver uma delação de alguém, para uma instituição qualquer, sobre fulano de tal, este estará num estado antagônico inocente culpado até que a mídia descubra se o mesmo é petista ou não.

O segundo exemplo é parecido e ainda mais pontual. Em declarações recentes à CPI da Petrobrás, o mesmo Youssef realizou, entre outras, duas afirmações: que o planalto possivelmente sabia do ocorrido (ele afirmou não ter como provar, e frisou que era apenas uma opinião) e que havia mandado remessas de dinheiro em nome do PMDB com envolvimento do Eduardo Cunha.

Sobre o envolvimento do planalto, novamente as principais mídias deram grande destaque à notícia (que além de antiga é uma suposição), como pode ser visto aquiaquiaquiaqui eaqui (5 mesmo, não perca a conta).

Já sobre a participação do atual presidente da Câmara dos Deputados, que afirma fingir ser governo, a mídia tradicional deu pouquíssimo destaque, com ênfase no jornal mineiro que conseguiu dar um viés positivo à declaração envolvendo o deputado carioca (imaginem uma manchete “Youssef diz à CPI que não pode confirmar envolvimento do governo”).

Vale ressaltar que na proposição do gato de Schrödinger, o observador faz a diferença: uma vez que a caixa é aberta, a posição vivomorto do felino se desfaz e ele aparecerá em apenas um estado. Portanto, da mesma maneira, cabe aos leitores, ouvintes ou telespectadores das mídias tradicionais assumirem a posição de observadores críticos e tentarem enxergar o estado verdadeiro das acusações.

Afinal de contas, se os pitbulls do ódio conseguirem vencer os debates sociais com seus discursos irracionais, a tendência é que eles matem qualquer gato, com caixa e tudo. No fim, não sobrará nem a teoria para análise.
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Tadeu Porto é mestre em Engenharia Elétrica pelo Cefet-MG. Petroleiro, dirige o departamento de formação do Sindipetro-NF.
Créditos da foto: physicsworld.com
A mídia de Shrödinger - Carta Maior

Cientistas brasileiros desenvolvem remédio contra o câncer

Pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, estão otimistas com a possibilidade de o Brasil produzir medicamento feito a partir de uma molécula extraída da saliva do carrapato-estrela e que pode ajudar no tratamento e na cura contra alguns tipos de câncer.


De acordo com a bioquímica, farmacêutica e diretora do Laboratório de Bioquímica do Instituto Butantan, Ana Marisa Chussinsky-Tavassi, a nova descoberta aconteceu por acaso. Há mais de uma década, o grupo vinha buscando novas formas para inibir a coagulação sanguínea, e, assim como já tinha feito testes com outros animais hematófagos (que se alimentam de sangue), começou a estudar também o carrapato-estrela, responsável pela transmissão da febre maculosa, doença comum na zona rural, pois, como o parasita também se alimenta de sangue, ele provavelmente poderia ser eficiente nos resultados da pesquisa.

“O carrapato-estrela é um hematófago, que se alimenta de sangue para sobreviver e precisa manter o sangue incoagulável. Nós buscamos elementos em glândulas salivares desses animais hematófagos para atuar na coagulação da trombose. Essa foi nossa primeira procura, e a ideia da pesquisa era encontrar um novo antitrombótico, porém, ao analisarmos em culturas de células normais e tumorais a proteína extraída do carrapato-estrela, descobrimos uma atividade que matava as células tumorais.”

A Dra. Ana Marisa conta que a partir da descoberta a pesquisa mudou o foco e os cientistas passaram a analisar a ação especificamente contra os tumores considerados mais agressivos, como o de pele, pâncreas e renal. “A estratégia do nosso estudo foi trabalhar com tumores de difícil tratamento ou tumores de grande representatividade, que são bastante agressivos, pois são metastáticos e de difícil tratamento. Para esses tumores que avaliamos, nós estamos tendo muita esperança de estar próximos a chegar a algum medicamento.”
Segundo a bioquímica, os pesquisadores do Instituto Butantan já realizaram diversos testes não clínicos em animais, porém agora é preciso ser aprovada a fase de testes em humanos para confirmar a eficácia da descoberta. O Instituto vai solicitar agora a autorização à Anvisa, órgão regulador brasileiro, para dar início à testagem humana.“A nova etapa é uma pesquisa que pode demorar até 4 anos em teste clínico, exige muito rigor, para saber se realmente isso vai funcionar em seres humanos, pois o resultado tem que ser estatisticamente comprovado para ser aprovado pela Anvisa.”
Até agora, de acordo com a Dra. Ana Marisa, a pesquisa custou cerca de R$ 20 milhões, com recursos totalmente brasileiros, vindos de parceiros como a Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, o CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e principalmente o BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, além da empresa farmacêutica União Química Nacional.




Cientistas brasileiros desenvolvem remédio contra o câncer

Education International - Apoyo a los docentes en la declaración previa al Foro Mundial sobre la Educación

Apoyo a los docentes en la declaración previa al Foro Mundial sobre la Educación (19 de mayo 2015)

Más de 130 ONG han presionado para reforzar el papel de la sociedad civil y por el reconocimiento de los docentes dentro del proceso post-2015, a dos días del Foro Mundial sobre la Educación que acordará una nueva agenda mundial de educación.

La delegación de la Internacional de la Educación (IE) en el Foro Mundial sobre la Educación (WEF) de Incheon, Corea del Sur, ha alzado su voz en favor de una educación pública de calidad para todos durante el foro de ONG previo al WEF que ha reunido a más de 130 organizaciones de la sociedad civil. El objetivo del foro, celebrado el 18 y 19 de mayo, era definir una visión común de la sociedad civil en torno a la agenda de educación post-2015 y el marco de acción, así como reforzar la participación de estas organizaciones a lo largo del proceso.
Rasheda K. Choudhury, Directora Ejecutiva de la Campaña para la Educación Popular, Bangladesh, que presidió la sesión de inauguración, recordó a los asistentes las dificultades a las que se enfrentaron las organizaciones de la sociedad civil en foros anteriores, y acogió positivamente el cambio de actitud de los gobiernos y las instituciones en este sentido.
Política: de las palabras a la acción
Dennis Sinyolo, Coordinador Principal de la IE, participó en uno de los grupos de expertos con una presentación detallada sobre el proceso post-2015, y pidió a los participantes del foro que defendiesen la visión de la sociedad civil con respecto de la educación, que debe ser "fuerte y ambiciosa". La Presidenta Susan Hopgood intervino con una firme declaración en la que exigía que el nuevo marco de acción incluya la educación preescolar, primaria y secundaria gratuitas y de calidad, con docentes altamente formados y una mayor financiación de la educación, con una inversión mínima en educación del 6 % del PIB.
El foro de ONG se mostró de acuerdo sobre el hecho de que los futuros retos a los que se enfrenta la educación deben afrontarse con voluntad política y convirtiendo las promesas en acciones: en última instancia, son los Estados y los Gobiernos los que deben garantizar el derecho a la educación.
Los asistentes también se mostraron de acuerdo sobre la importancia de las políticas que verdaderamente valoran a los docentes a través de la formación, la remuneración, la participación en la toma de decisiones y la libertad académica.
Declaración de las ONG en el foro
Con el título "Hacia el derecho a una educación pública de calidad inclusiva y el aprendizaje a lo largo de la vida más allá de 2015", la declaración del foro de ONG no da lugar a malentendidos. Incluye una audaz declaración en favor de los docentes, que defiende que deberían ser valorados y tener una remuneración decente. "Las organizaciones de docentes necesitan respeto y reconocimiento como actores independientes y legítimos, (...) involucrados plenamente en cualquier diálogo social en torno a las políticas educativas, los salarios y las condiciones de trabajo, y todo ello debería garantizarse en la legislación".

Education International - Apoyo a los docentes en la declaración previa al Foro Mundial sobre la Educación

#SOSEducaçãopública - CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação



#SOSEducaçãopública

Publicado em Sexta, 22 Maio 2015 21:19
A CNTE realizará, dia 28 de maio, Mobilização Nacional dos/as Trabalhadores/as em Educação para chamar a atenção da sociedade para os problemas crônicos vividos pelos/as educadores/as e estudantes das redes municipais e estaduais e para pressionar os gestores públicos a atenderem as pautas de reivindicação de nossa categoria, fortalecendo a luta nacional em defesa da escola pública e pela valorização de seus trabalhadores/as.
A mobilização da CNTE acontecerá na véspera da Paralisação Nacional convocada pela CUT e outras Centrais Sindicais, que mobilizarão os/as trabalhadores/as brasileiros/as em defesa dos direitos e da democracia no país - e a educação se integrará massivamente nessa fileira de luta das Centrais.
Com início de ano letivo conturbado em muitos lugares, a mobilização da CNTE dá continuidade à luta nacional que paralisou as escolas públicas do país no último dia 30 de abril, encerrando o calendário da 16ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública.
Neste momento, estão greve os estados de São Paulo, Pará, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Sergipe, além dos municípios de Maceió/AL, Lauro de Freitas/BA, Vitória da Conquista/BA, Campo de Goytacazes/RJ, Betim/MG, Guarapari/ES, Matinhos/PR, Matupá/MT, Denise/MT, Santa Terezinha/MT, Canabrava do Norte/MT, Jaciara/MT, Santo Antônio de Leverger/MT, Dourados/MS, Campo Grande/MS e Aparecida de Goiânia/GO. E deverão paralisar as aulas, na próxima semana, as redes estaduais de Mato Grosso do Sul, Tocantins e novamente Pernambuco.
Diante desse cenário, a mobilização nacional do próximo dia 28 deve dar maior visibilidade e apoio às greves da educação, que contam com extrema repressão e falta de diálogo por parte dos gestores públicos, a exemplo do triste episódio do Paraná em que a Polícia do governador Beto Richa agrediu covardemente os/as trabalhadores/as em educação em greve.
Outra pauta de nossa mobilização diz respeito ao contingenciamento orçamentário da União, que contraria o lema Pátria Educadora do governo federal. Mesmo garantindo acréscimo nos investimentos do Ministério da Educação em relação ao ano de 2014, a medida impõe restrições a políticas importantes de expansão e qualificação das redes escolares e universitárias, devendo merecer nosso protesto.
Para as atividades do próximo dia 28 as entidades participantes deverão confeccionar faixas pretas com os dizeres “SOS Educação Pública”, para serem afixadas nas escolas, praças e ruas das cidades e outros espaços onde tenham visibilidade. Os/as trabalhadores/as em educação e as pessoas que aderirem à mobilização deverão vestir roupas pretas e postar fotos e mensagens nas redes sociais, a fim de mobilizar a sociedade pelos diferentes canais de comunicação (#soseducacaopublica).
#SOSEducaçãopública - CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

Golpes à moda do século XXI | Paulo Moreira Leite

A DITADURA PARALELA É REAL E EFETIVA



Estudo acadêmico de constitucionalista Pedro Serrano mostra as novas formas de conspirar contra a democracia em nossa época. Mesmo sem fazer nenhuma referência direta ao Brasil, é fácil entender do que ele está falando

O conceito de pessoa humana talvez tenha sido o mais revolucionário da história do homem na Terra, traduzindo-se como imensa contribuição da cristandade para nossa sociabilidade. Ao divorciar o homem de sua apropriação como coisa para tratá-lo como filho de Deus, membro de uma imensa família humana, aliou-se a noção de homem à de igualdade e justiça. Todos essencialmente iguais, porque nascidos do mesmo Pai.”
Encontrei as palavras acima no mais recente trabalho acadêmico do advogado Pedro Serrano. Professor de Direito Constitucional na PUC-SP, na semana passada Serrano foi a Portugal apresentar uma tese de pós-doutorado na Universidade de Lisboa. Num trabalho em profundidade sobre direitos e garantias individuais, Serrano debate a Idade Média, explica a queda do absolutismo e a revolução francesa para discutir noções sobre Estado de Direito, Estado Policial e Estado de Exceção. O texto debate os golpes de Estado recentes na América Latina, como a queda de Eduardo Lugo, no Paraguai, e a de Manoel Zelada, em Honduras.
Embora seja um crítico frequente de determinadas sentenças e decisões da Justiça, na AP 470 e também na Operação Lava Jato, em sua tese acadêmica o professor evita maiores considerações a respeito. Não faz referências explícitas a situação brasileira, ainda que o Brasil seja, obviamente, o sujeito mais ou menos oculto de seu trabalho.
Mais do que entrar num debate de assuntos da conjuntura imediata, Serrano procura fixar conceitos — o que também é uma forma de contribuir para a compreensão do momento que o país atravesssa, como você poderá comprovar nos parágrafos finais deste artigo.
Ao estabelecer a conexão entre os direitos individuais e os Estados Democráticos de Direito, Serrano constrói um método que mostra que os regimes de exceção começam a ser formados quando se constrói um inimigo interno, categoria social que define os cidadãos que não têm os mesmos direitos que os outros — e podem ser tratados por medidas de exceção. A construção do inimigo é essencial pois a partir dela é possível estabelecer diferenças “no interior da espécie humana. Onde há o inimigo, não há o ser humano, mas um ser desprovido da condição de humanidade,” explica, recordando o universo político em que se moveu o nazismo de Adolf Hitler, o fascismo de Benito Mussolini e também a ditadura militar que governou o Brasil por duas décadas. De uma forma ou outra , esclarece, eram regimes que possuiam cidadãos desprovidos dos mesmos direitos que os demais — como judeus, comunistas, estrangeiros — e a partir daí se construíu uma ordem que envolvia o conjunto da sociedade.
Explicando o nascimentoi das ditaduras, o professor lembra que “em geral a decisão jurisdicional de exceção não se declara como tal”. Pelo contrário, costuma justificar-se como um esforço para defender o próprio Estado democrático de Direito e é “envolvida em fundamentações e justificativas compatíveis com a ordem posta. ” Foi assim que a suspensão de garantias democráticas sob o regime de Hitler foi apresentada como uma resposta ao incêndio do Reichstag, o Parlamento alemão, atribuído ao Partido Comunista. Da mesma forma, o fantasma do comunismo nos anos de Guerra-Fria serviu de suporte ideológico ao ciclo militar da América Latina, inclusive o Brasil.
Depois de analisar as ditaduras do século XX, onde havia um “Estado autoritário claro, um Estado de polícia inequívoco, um poder exercido de forma bruta,” Pedro Serrano entra no século XXI, o nosso período histórico.
A NOVA NATUREZA DO ESTADO DE EXCEÇÃO
De saída, o professor registra uma mudança clara e importante: “o Estado de exceção muda de natureza. Não há mais a interrupção do Estado democrático para a instauração de um Estado de exceção, mas os mecanismos do autoritarismo típico passam a existir e conviver dentro da rotina democrática.
Assim, naquele que costuma ser considerado o mais antigo Estado Democrático de Direito do planeta, os Estados Unidos, na primeira década do século XXI nasceu o Patriotic Act. No ambiente de grande emoção e pânico produzidos pelos ataques de 11 de setembro, um decreto assinado por George W Bush “autoriza a prática de atos de tortura como método de investigação (…) bem como o sequestro de qualquer ser humano suspeito de inimigo em qualquer lugar do planeta, sem qualquer respeito a soberania dos Estados do mundo.” Os mesmos métos se espalham, em grau maior ou menor, pelos países europeus, “com cadastros esepciais de controle da intimidade, campos de confinamento, etc.”
Aquele conjunto de medidas que em outros momentos provocariam a indignação da consciência democrática , passam a ser vistas “como uma verdadeira técnica de governo.”
Assim — o exemplo aqui é meu — um jornalista como Julian Assange permanece há três anos como prisioneiro na embaixada do Equador em Londres. Isso porque divulgou segredos diplomáticos através do Wikileaks, num tratamento sem paralelo com o recebido por Daniel Ellsberg em 1971, na divulgação de documentos secretos e comprometedores do Pentágono sobre a guerra do Vietnã.
Serrano avalia que na América Latina, a era dos golpes militares e ditaduras de longa duração, com desfile de tanques pelas ruas e Congressos fechados será substituída por intervenções rápidas para garantir a derrubada de um governo considerado indesejável — ainda que “regime democráticos sejam inconstitucionalmente interrompidos, golpeando presidentes legitimamente eleitos.” Analisando os dois casos concretos deste período, a deposição de Fernando Lugo e o golpe contra Manoel Zelaya, Serrano sustenta que o Judiciário desempenha um papel essencial para a construção da nova ordem.
Em vez de assumir uma postura de resistência em nome da antiga ordem, postura que, no passado, levou até à cassação de magistrados comprometidos com os princípios democráticos, os tribunais superiores assumem outra função — dar legitimidade a medidas que atropelam a soberania popular. Escreve Serrano: “é a jurisdição funcionando como fonte de exceção e não do direito.”
Outra novidade no século XXI é o inimigo interno, indispensável para iniciativas anti-democráticas. Serrano aponta que, nos países desenvolvidos, esse lugar é ocupado pelo “inimigo muçulmano fundamentalista.”
Muitos analistas sustentam que essa situação é obra do 11 de setembro, o que seria uma forma de dizer que, na origem, o terrorismo de organizações árabes é responsável pela discriminação e violência que as potências do Ocidente reservam a seus povos.
Mantendo-se no terreno jurídico, Serrano não entra nesta discussão, o que dá a este humilde blogueiro o direito de apresentar um palpite.
Sem querer minimizar nem por um segundo o impacto terrível do ataque às torres gêmeas, acho possível defender outro argumento. Acredito que o 11 de setembro colocou em movimento forças que já se moviam na potência norte-americana e provocou reações de uma engrenagem que iria se mover de uma forma ou de outra, para defender os interesses maiores daquele país que se transformou na única potência militar do planeta após o colapso da antiga URSS.
Em 1993, oito anos antes dos ataques, um professor de Harvard, Samuel Huntington, influente nos meios políticos e diplomáticos dos EUA, publicou Choque de Civilizações, artigo que se tornaria uma espécie de programa de trabalho do Império norte-americano e seus aliados na nova ordem mundial. No texto Huntington formula uma visão da evolução humana para as décadas seguintes. Diz que dali para a frente “o eixo predominante da política mundial serão as relações entre ‘o Ocidente e o Resto.” Num raciocínio voltado para a preservação da hegemonia e poderio, Huntington registra a emergência dos países que décadas depois seriam chamados de emergentes — e define estratégias para manter uma posição de força e domínio. Vale a pena ler: “os conflitos entre as civilizacões vão suplantar os conflitos de natureza ideológica e e outras como forma de global dominante; as relações internacionais, um jogo historicamente jogado dentro da civilização ocidental, se tornarão um jogo em que as civilizações não-ocidentais serão agentes e não simples objetos.” Na visão de Huntington, estamos falando de conflitos mais graves e intransponíveis do que a ideologia e a economia, porque sua base está na cultura, em valores inconciliáveis que opõem povos e nações através do planeta inteiro.
Transportada para o direito internacional — não custa lembrar que a ONU foi fundada por uma Carta de Direitos Humanos, frequentemente ignorada na vida real — essa política do inimigo chegará não só a guerras de grande porte, como a do Iraque. Também levou a formulação do chamado Eixo do Mal, que justificava a persistência do bloqueio a Cuba e o apoio a duas tentativas de golpe na Venezuela de Hugo Chávez, em 2002. Com a possibilidade da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial daquele ano, a diplomacia republicana chegou a cogitar a inclusão do Brasil no conjunto de inimigos a abater, mas essa política foi desmontada por uma ação múltipla, que incluiu o governo Fernando Henrique Cardoso, o próprio Lula e ainda uma viagem bem sucedida de José Dirceu para conversas em Washington e Nova York, meses antes da vitória.
Falando da América Latina e do Brasil, Serrano diagnostica uma situação de duplicidade. Explica que na região convivem um Estado de Democrático de Direito, acessível a população mais endinheirada dos grandes centros urbanos, com um Estado policial de exceção, “localizado nas periferias das grandes cidades, verdadeiros territórios ocupados, onde vive a maioria da população pobre.” Desse ponto de vista, explica, a exceção é a regra geral para a maioria das pessoas.
Referindo-se ao universo que deu origem ao golpe de 1964 no Brasil, o professor explica que ,”o inimigo a ser combatido e que ameaça a sociedade não se identifica mais do a figura do comunista das ditaduras militares, mas sim com a figura do bandido, impreterivelmente identificado com a condição social de pobreza. ”
Impossível discordar.
SOFISMA SOCIÓLOGICO
Eu gostaria de acrescentar, por minha conta, observações sobre as ideias de Serrano e o Brasil de 2015.
Há uma novidade curiosa no comportamento do Judiciário na última década. Estamos falando de um período no qual, como demonstram estatísticas que ninguém discute, os mais pobres conseguiram melhorar — parcialmente, é verdade — sua posição na pirâmide social e ter acesso a um padrão de consumo e igualdade que nunca se viu na história. Estudam mais, alimentam-se melhor, tem oportunidades mais amplas.
Justamente os políticos e personalidades ligados ao Partido dos Trabalhadores e seus aliados, o mais identificado com esse processo, benéfico para o conjunto da sociedade brasileria, têm sido alvo de medidas– classifique como quiser, de exceção, perseguição, ou qualquer outro adjetivo — por parte do Judiciário. Acusados de corrupção em processos espetaculares, acompanhados com espírito de circo pelos grandes grupos de comunicação, passaram a ser discriminados em seus direitos e garantias.
Através da AP 470 e da Operação Lava Jato, são tratados como inimigos internos, habitantes daquilo que Serrano chama de “territórios ocupados da periferia” e não como cidadão que, em função de sua posição na pirâmide social, teriam acesso assegurado ao Estado Democrático de Direito.
Sempre que se debate — por exemplo — as prisões preventivas dos acusados da Lava Jato, em prazos extremamente longos, sem provas nem indícios consistentes de culpa, configurando um abuso destinado a forçar confissões e delações premiadas, os aliados do juiz Sérgio Moro e do Ministério Público pedem ajuda a um sofisma sociológico.
Alegam que um terço do meio milhão de condenados que habitam nosso sistema prisional, habitado em sua imensa maioria por cidadãos pobres, em maior parte pretos, incapazes de contar com bons advogados, também enfrentam a mesma situação, padecem das mesmas dificuldades, quem sabe até piores.
A sugestão de que uma coisa poderia justificar a outra não faz sentido, quando se recorda que o esforço civilizado consiste em estimular a ampliação do Direito, e não seu rebaixamento através de medidas de exceção, que apenas perpetuam um estado geral de coisas.
O que se procura, aqui, é construir um inimigo interno — personagem indispensável das medidas de exceção de que fala Pedro Serrano.
O que se vê é um tratamento discriminatório — com motivação política — tão brutal e dirigido que atravessa as distinções de classe social, sempre profundas e persistentes no Brasil. A grande lição dos julgamento da AP 470 e a Operação Lava Jato é mostrar que não basta ter dinheiro — quem sabe muito dinheiro — para pagar bons advogados e garantir um acesso ao Estado Democrático de Direito, aquele onde vigora o princípio segundo o qual todos são inocentes até que se prove o contrário. Talvez não baste ser filiado ao partido que há 12 anos ocupa a presidência da República, dispondo de privilégios e prerrogativas correspondentes.
É preciso estar do lado certo da disputa política.
Os mesmos executivos e empresários, acusados dos mesmos crimes definidos na AP 470 e também no mensalão PSDB-MG, foram julgados por tribunais diferentes, com direitos diferentes, obtendo penas diferentes. Basta recordar que os primeiros condenados da AP 470 começam a deixar a prisão, depois de cumprir penas definidas pela Justiça. Os outros sequer receberam uma condenação. Quando isso acontecer, aqueles que não tiveram a pena prescrita terão direito a um segundo julgamento, com outros juízes, outro tribunal.
Está demonstrado que os mesmos empresários que, conforme as investigação da Lava Jato, abasteceram os cofres do PT entregaram as mesmas quantias, no mesmo período, para tesoureiros do PSDB. Está provado, registrado na Justiça Eleitoral. O principal delator, aliás, entregou R$ 2 milhões a mais para a campanha de Aécio Neves. Nada disso foi suficiente para o lançamento de uma eventual fase zero da novela Lava Jato, agora mais plural, sem culpados nem inocentes previamente escolhidos, certo?
Alguém convive em paz com a noção de que o dinheiro que chega para os tucanos como “contribuição eleitoral” se transforma em “propina” quando se destina ao PT?
A leitura dos estudos de Hannah Arendt sobre o nascimento de regimes totalitários demonstra que um dos instrumentos básicos empregados na disputa entre parcelas da elite dirigente de determinada sociedade — um aspecto inevitável de toda luta política desde sempre — consistia em mobilizar e estimular preconceitos e ressentimentos da “ralé”. Como tantos observadores sociais de seu tempo, Arendt se referia nestes termos àquela parcela da população que se encontrava abaixo das classes sociais tradicionais, sem acesso a educação, ao bem-estar e que mal conseguia exercitar os próprios direitos políticos. Ela avaliava que a democracia se encontrava em perigo quando a elite assumia modos e comportamentos antidemocráticos e agia de turba, como manada, estimulando gestos violentos e atos de barbárie.
Não é difícil reconhecer movimentos dessa natureza no Brasil de hoje. Os brasileiros assistem isso quando Alexandre Padilha é impedido de jantar em paz com amigos num restaurante no Itaim Bibi — cena que repete um tratamento semelhante oferecido a Guido Mantega quando foi fazer uma visita a um paciente no hospital Albert Einstein. Em 2012, Ricardo Lewandovski, hoje presidente do STF, ouviu comentários ofensivos quando foi à zona eleitoral exercer o direito de voto. São atos que formam um conjunto, contestam a noção de que homens e mulheres pertencem a uma mesma família humana, com direitos a igualdade e a justiça, como diz Pedro Serrano.
É um comportamento lamentável e preocupante. Mas é difícil negar que o exemplo vem de cima, certo?

Golpes à moda do século XXI | Paulo Moreira Leite

Por que nos fascinamos com as cenas de violência do Estado Islâmico?

EM ESSÊNCIA SÃO OS MESMOS EFEITOS QUE OS PROGRAMAS POLICIAIS PROVOCAM NOS TELESPECTADORES. NENHUMA NOVIDADE PARA OS PADRÕES DO TERRORISMO JORNALÍSTICO NACIONAL



A violência perpetrada pelo Estado Islâmicoprovoca um estranho fascínio em milhões de pessoas que não são jihadistas e, provavelmente, não têm a menor intenção de vir a sê-lo. Poucos desviam o olhar quando, na televisão ou no YouTube, surgem vídeos em que despencam as cabeças dos reféns decapitados, um piloto jordaniano é queimado vivo em sua cela ou uma parte da história humana é destruída a marretadas.
Ao terminar de assistir o que os extremistas queriam que você visse, talvez você sinta ódio, asco ou vergonha. Tanto faz. Eles conseguiram injetar em você a droga do medo e, agora, você exige vingança (“Que façam o mesmo com eles! Que cortem suas cabeças!”). É dessa forma que eles fazem escalar a “espiral de violência” nos lares, gabinetes políticos e quartéis militares. Essa mesma espiral que levou democracias ocidentais teoricamente fundadas sobre os direitos civis a reagir ante os atentados de 11 de setembro com o horror de Guantánamo, as torturas de Abu Ghraib, os cárceres secretos da CIA ou as invasões, pouco ponderadas e ainda mais pobremente concebidas, do Iraque e do Afeganistão.
Antes de refletir sobre sua própria reação, você se pergunta como é possível que esse tipo de conteúdo tenha chegado até sua mesa de jantar, até a sala de estar de sua casa, onde se encontra a mesma televisão na qual seus filhos assistem Cinderela enquanto brincam no tapete. O principal motivo é que o Estado Islâmico domina a arte da comunicação: sabem o que devem transmitir aos meios de comunicação para que os jornalistas não possam resistir à divulgação; conseguiram lançar uma sofisticada campanha de marketing digital e aprenderam os truques de Hollywood para construir uma cena que deixa feridas na memória do espectador.
Luis Veres, professor da Universidade de Valência, na Espanha, e especialista em comunicação e violência, observa que “existe uma simbiose entre o jornalista que busca o espetáculo e o terrorista que converte o espetáculo em mensagens a serem transmitidas“. E adverte que “o terrorismo moderno, com exceção do terrorismo de Estado, não pode ser explicado sem a presença dos grandes meios de comunicação“. É quase impossível propagar o pânico sem o soberbo megafone das televisões, das rádios, das grandes manchetes e, agora, da Internet.
O vídeo da decapitação de 12 cristãos egípcios na Síria exibe a palavra “Al-Hayat” nos títulos de crédito. Al-Hayat, que significa “a vida” em árabe, é a produtora dos vídeos que exibem execuções no Estado Islâmico, sendo também responsável pela edição de uma revista digital chamada Dabiq e por uma estação de rádio na cidade iraquiana de Mossul. Eles publicam mensagens diárias nas redes sociais, especialmente no Twitter, e forçaram os Estados Unidos a criar uma divisão especializada para o rastreamento de sua propaganda. Surgiram então centenas de imitadores do grupo terrorista, o que levou o líder Abu Bakr al-Baghdadi a protestar contra os que supostamente distorciam sua verdadeira mensagem com uma torrente de tweets em contas não autorizadas.
Gonzalo Ibáñez preside a Kanlli, uma consultora de marketing digital espanhola que opera em Madri e no Catar. Ibáñez nos pergunta, antes de o entrevistarmos: “Você tem certeza de que precisa de um especialista em marketing, e não de um psiquiatra?” Admite que o Estado Islâmico entendeu perfeitamente “a natureza da Internet como meio descentralizado ideal para divulgar a mesma mensagem tanto em gravações quanto em simples arquivos PDF, em milhares de lugares diferentes que as autoridades tardarão muito em bloquear, se é que os encontrarão“. Também entenderam, segundo ele, “a preferência das pessoas pelo vídeo, a necessidade de comunicar sua mensagem em diferentes idiomas, para que ela seja global, e a ênfase necessária nas redes sociais: o Facebook para o doutrinamento de grupos menores e o Twitter para a propaganda de massa“.
A imagem típica do jihadista que atende ao chamado do terrorismo e da guerra na Síria ou no Iraque é a de um jovem desenraizado, de origem humilde e formação mínima, que se converte subitamente a um islamismo recém-conhecido. Costumamos nos esquecer de que também há pessoas com outro perfil: jovens que renunciaram a tudo para combater o próprio país que os ensinou a usar as armas de venda e comunicação com que agora esperam atacá-lo.
A Al-Hayat, segundo especialistas em marketing e terrorismo islâmico como a israelense Anat Hochbeg-Marom, transformou em passado as toscas imagens veiculadas pela Al-Qaeda, e isso também fez com que suas produções tenham muito mais êxito, por exemplo, no YouTube. Com meios técnicos surpreendentes e domínio da linguagem audiovisual, conforme lembra o especialista em comunicação e violência da Universidade de Sevilha, Manuel Garrido, “conseguiram que nos identifiquemos com as vítimas, que odiemos os agressores e que as imagens nos atraiam tanto quanto nos repugnam“.
Moussa Bourekba, analista do CIDOB (Centro Barcelona para Questões Internacionais) para assuntos árabes, afirma que o EI “busca uma audiência que não seja composta apenas por jihadistas ou muçulmanos, como também por todos nós, por aventureiros que anseiam por emoções fortes, como fazer a guerra na Síria, e por membros de grupos rivais que pretendam absorver“.
Em março, após o sucesso da divulgação das execuções, o EI já havia se convertido no inimigo público número um do presidente norte-americano Barack Obama. Foi então que o grupo extremista nigeriano Boko Haram, que havia protagonizado no ano anterior os meios de comunicação mundiais pelo sequestro das meninas de Chibok, anunciou uma aliança com oEstado Islâmico. O Boko Haram não apenas é mais antigo, como também o criador da bandeira preta utilizada pelo Estado Islâmico em suas marchas e decapitações.
Talvez, contudo, o mais inquietante não seja que o horror das decapitações atraia outros criminosos. O que é preocupante é que atraia você, ainda que seus maiores crimes tenham sido não emitir nota fiscal, avançar no sinal vermelho ou furar fila no cinema. José Sanmartín, ex-diretor do Centro Rainha Sofia para o Estudo da Violência, observa que “não gostamos do terror, mas daquilo que ele provoca em nosso organismo“. Segundo ele, sentimos prazer em duas etapas: a primeira tem a ver com a preparação para a ação e é movida pela “adrenalina, pelas endorfinas e pelo aumento da pressão cardíaca e aceleração da respiração“; a segunda etapa, ao vermos, por exemplo, um vídeo do Estado Islâmico, “consiste no efeito de relaxamento ligado a neurotransmissores como a serotonina“. Você continua tranquilo na sala de estar de sua casa.
Todas essas reações químicas, que são acionadas por esportes de risco como o bungee-jumping ou filmes especialmente violentos, são multiplicadas por uma cenografia tão cinematográfica que, segundo alguns antigos especialistas em antiterrorismo da CIA, como Aki Peritz, os próprios executados parecem tranquilos em alguns momentos, incapazes de acreditar que vão morrer daquela forma. Também colabora para inflamar a reação dos espectadores, lembra Sanmartín, o desconcerto trazido pela justificativa religiosa e moral do assassinato de inocentes, pelo fato de afirmarem que agem dessa forma pois foram obrigados por nossas agressões prévias e por destruírem obras e monumentos que dão sentidos à nossa interpretação da história humana e, portanto, à nossa própria existência.
Moussa Bourekba crê que um dos elementos mais espetaculares desta cenografia seja “a forma como vestem as vítimas com macacões de cor laranja, semelhantes aos usados pelos prisioneiros de Guantánamo“. Esta é uma maneira de nos lembrar que aquilo é uma forma de vingança, com a qual esperam desatar o mesmo ciclo de violência que levou uma das principais democracias do mundo, orgulhosa de ter derrotado os nazistas de Auschwitz e os genocidas de Srebrenica, a abrir algo muito parecido com um campo de concentração a menos de 200 quilômetros das praias de Miami. E que o fizeram com o apoio da maioria de uma população aterrorizada pelo horror das imagens do 11 de setembro de 2001. Pessoas como você.
Gonzalo Toca, Yorokobu. Tradução: Henrique Mendes, Opera Mundi.
Por que nos fascinamos com as cenas de violência do Estado Islâmico?

Estado Islâmico já domina mais de 50% da Síria

PREOCUPANTE AVANÇO DO ISIS NA SÍRIA E A DESTRUIÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA HUMANIDADE



Com conquista da cidade histórica de Palmira, Estado Islâmico domina mais de 50% da Síria. Teme-se que grupo extremista sunita vá devastar os templos e ruínas que compõem o patrimônio arqueológico

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O Estado Islâmico tomou nesta quinta-feira (21/05) o controle total da cidade histórica de Palmira, situada na região central da Síria. Com o triunfo, o grupo extremista sunita passa a ter domínio de mais de 50% do território sírio.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, pelo menos 462 pessoas morreram durante a semana que durou a ofensiva do Estado Islâmico na região. Destes, 241 são soldados leais a Bashar al-Assad, 150 são milicianos do grupo extremista e 71 são civis.
A mesma ONG aponta que os jihadistas dominam agora 95 mil quilômetros quadrados do país e estão presentes em nove de 14 províncias, a saber: Homs, Al Raqqah, Deir ez Zor, Al Hasaka, Hama, Aleppo, Damasco, Rif Damasco e Sueida.
Em resposta, a aviação do governo sírio passou a bombardear os arredores de Palmira, na tentativa de reconquistar o território. Ainda não se sabe se a ofensiva causou danos materiais na cidade, mas teme-se que a própria organização terrorista devaste os templos e ruínas datadas da era romana, bem como já fizera com monumentos no Iraque.
“Esta é a queda de uma civilização”, disse o chefe de antiguidades da Síria, Maamoun Abdulkarim, entrevista à Reuters. “A sociedade humana, civilizada, perdeu a batalha contra a barbárie. Eu perdi toda a esperança”, acrescentou.
Por sua vez, a chefe da Diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, alertou em nota nesta manhã que as ações de jihadistas contra o patrimônio cultural e arqueológico na Síria “equivaleriam a crimes de guerra segundo o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional”.
De acordo com a Agência Efe, o Estado Islâmico tem em seu poder a maioria dos campos de gás do país, menos duas jazidas: uma que ainda é controlada por Assad, em Homs, e outra que está nas mãos de milícias curdo-sírias, em Al Hasaka.
Estado Islâmico já domina mais de 50% da Síria