Movimentos sociais vivem dilemas na luta contra o neoliberalismo
Ações das camadas populares têm de se combinar com a ação dos Estados se queremos de fato transformar o mundo
por Emir Saderpublicado 13/02/2017 12h47
EVO MORALES/ARQUIVO PESSOAL / TWITTER
Rafael Correa, do Equador, e Evo Morales, Bolívia: presidentes formados nos movimentos sociais para transformar seus países
Na Bolívia e no Equador os movimentos sociais se cansaram de derrubar governos neoliberais e decidiram, finalmente, fundar seus próprios partidos e lançar candidatos à Presidência da nação. Mais recentemente, no marco do Fórum Social Mundial – ou ao lado dele –, ONGs e alguns movimentos sociais se opuseram a esse caminho e pregaram a "autonomia dos movimentos sociais", ou seja, não se deveria meter em políticas, nem com o Estado, menos ainda com partidos.
Na Argentina do fim dos anos 1980, diante da maior crise econômica, política e social da sua história, movimentos renunciaram a lançar candidaturas à Presidência, com o lema: "Que se vayan todos". Resultado: Menem ganhou no primeiro turno, prometendo que daquela vez iria dolarizar definitivamente a economia argentina, o que acabou levaria à ruína sem retorno não só a Argentina, como os processos da integração latino-americana.
A ilusão despolitizada e corporativa do "Que se vayan todos" deixaria o campo livre para essa monstruosa operação menemista, com efeitos negativos para toda a região. A ilusão é a que eles se irão, sem que se os faça ir embora, sem que os derrote com um projeto superador do neoliberalismo.
Voltando à Argentina, anos mais tarde apareceu a candidatura vitoriosa de Nestor Kirchner, para iniciar o resgate mais espetacular que o país vizinho havia conhecido da sua economia, dos direitos sociais, de valorização das pessoas, do prestígio do Estado, do marco da recuperação da soberania externa.
Enquanto isso, movimentos que se ativeram à esdrúxula tese da autonomia dos movimentos sociais, como os piqueteros argentinos, simplesmente desapareceram.
No México, depois do enorme prestígio que haviam tido ao assumirem posição semelhante – "Mudar o mundo sem tomar o poder", de John Holloway e Toni Negri, com este último condenando os Estados como superados instrumentos conservadores -, os zapatistas desapareceram da cena política nacional, recluídos em Chiapas, o mais pobre estado mexicano.
Mais de 20 anos depois, nem Chiapas nem o México foram transformados sem tomar o poder, até que os zapatistas resolveram lançar uma dirigente indígena à Presidência da República nas eleições do próximo ano, voltando a disputar os espaços políticos nacionais e deixando aquelas teses para trás. Mesmo sem dizer que vão transformar o país mediante vitória eleitoral, valorizando a disputa eleitoral, deixando de lado as políticas de denúncia das eleições e de abstenção.
Enquanto isso, a Bolívia e o Equador, rompendo com essa visão estreita de restringir os movimentos sociais apenas à resistência ao neoliberalismo, fundaram partidos, apresentaram candidatos à presidência da República – Evo Morales e Rafael Correa –, triunfaram e puseram em prática os processos de maior sucesso na transformação econômica, social, políticas e cultural na América Latina do século 20.
Refundaram seus Estados nacionais, retomaram o desenvolvimento econômico com distribuição de renda, se aliaram aos processos de integração regional, ao mesmo tempo que integraram as amplas camadas populares aos processos políticos nacionais.
Ao contrário do fracasso das teses da autonomia dos movimentos sociais, que renunciaram à luta pela hegemonia alternativa de alcance nacional e de luta pela construção concreta de alternativas ao neoliberalismo, sob a direção de Evo Morales e de Rafael Correa, a Bolívia e o Equador demonstraram como somente a articulação entre a luta social e a luta política, entre os movimentos sociais e os partidos políticos, é possível construir blocos de força capazes de avançar decisivamente na superação do neoliberalismo.
As teses de Toni Negri sobre o fim do imperialismo e dos Estados nacionais foi desmentida pela própria ação imperialista logo depois dos atentados de 2001, enquanto os governos sul-americanos demonstraram que somente com o resgate da ação do Estado é possível retomar o desenvolvimento com distribuição de renda.
A pobreza persistente em Chiapas pode ser comparada com os avanços espetaculares realizados em todas as províncias da Bolívia, como exemplo, para demonstrar, também pela via dos fatos, como a ação de baixo tem de se combinar com a ação dos Estados, se queremos de fato transformar o mundo.
Outras teses, como as de Boaventura de Sousa Santos e de várias ONGs, de optar por uma "sociedade civil" na luta contra o Estado, não têm nenhum exemplo concreto a apresentar resultados positivos, mesmo com as ambíguas alianças com forças neoliberais e de direita, que também se opõem ao Estado e fazem alianças com ONGs e com intelectuais para se oporem a governos como os de Evo Morales e de Rafael Correa, mas também contra os outros governo progressistas na América Latina.
Além do fracasso teórico das teses da autonomia dos movimentos sociais, se pode apresentar os extraordinários avanços econômicos, sociais e políticos, em países como a Argentina, o Brasil, o México, o Uruguai, além dos já mencionados, como provas da verdade das teses da pauta antineoliberal como a luta central do nosso tempo.
A operação farsesca cumpriu com seu objetivo real camuflado pelo manto do combate à corrupção. Sua improvável prorrogação confronta as expectativas geradas na opinião pública que espera um polimento cristalizado, mas receberá um Brasil lavado a lama.
Não é só derrotar politicamente; é humilhar, privar de recursos, massacrar, punir exemplarmente àquele (a) que com seu exemplo de vida , trabalho e luta, provou que sim, nós podemos.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso emocionado durante o velório de sua esposa, dona Marisa Letícia Lula da Silva, no último sábado (4), na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP).
Lula relembrou do esforço de Marisa em cuidar dos filhos enquanto o líder político precisava se ausentar. Além disso, destacou que sempre recebeu apoio e solidariedade da mulher em suas decisões. “Ela tinha muito mais importância que os ministros”, frisou.
A importância de Marisa, disse Lula, será eterna em sua vida. “Eu vou continuar agradecendo a Marisa até o dia que eu não puder mais agradecer. Até o dia que eu morrer”.
O emocionante velório de Marisa Letícia, companheira de vida e luta do ex-presidente Lula, deixou evidente que ambos têm uma base social leal e amorosa.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, que une marido e mulher na trajetória de pelejas da ditadura ao planalto, ficou completamente lotado.
Quem tentou, conseguiu dar um abraço de solidariedade a Lula.
Mas, naturalmente, todos que o tem como um líder queriam saber o que ele sentia naquele momento.
E Lula falou com o coração pra essas pessoas e pra milhões que acompanhavam a cerimônia fúnebre pela imprensa alternativa através das redes sociais.
O breve discurso como desde sempre, uniu amor e política.
Os previsíveis não demoraram a criticá-lo por denunciar mais uma vez a pressão psicológica que a mulher sofreu por parte da mídia e do juiz Sérgio Moro, que divulgou gravações telefônicas dela com familiares, absolutamente desnecessárias ao processo.
Se quem o censura pelo desabafo na hora mais escura se colocar realmente no lugar de Lula, talvez compreenda porque no velório fez um protesto político.
Mas é impossível para os que odeiam Lula e quanto mais amor ele receber, mais o odiarão.
Ao aparecer no meio de uma multidão, abalado, mas firme, após dias vendo pessoas cruéis desejarem a morte da esposa e prometendo não desistir da luta política, Lula atraiu a reação de sempre da direita raivosa.
E isso também é compreensível, afinal, eles não têm um líder como Lula que fale e inspire massas em qualquer circunstância e no velório da ex-primeira-dama do líder que sobrevive blindado, não puderam chegar perto do caixão.
Tenho muitas críticas a Lula, mas não nego o fato de que quanto mais ele apanha da vida, mais forte e maior fica.
Por isso, sugiro calem.
Enquanto Lula cuidava de Marisa no hospital, os raivosos não calaram para a nomeação de Moreira Franco como ministro, o Angorá da lista de propinas da Odebrecht?
Não ignoraram também a nomeação de Antônio Imbassahy como ministro, aquele que como prefeito da capital Baiana teve a maior obra investigada por superfaturamento com empresas citadas na Lava Jato?
Calaram pra eleição de Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, na presidência da Câmara e Senado, também citados no esquema de corrupção da Petrobras.
Por que diabos se revoltam tanto contra Lula e só contra ele?
Continuem calados e tecendo a própria mortalha.
Marisa Letícia não teve a sorte de morrer como dona Ruth Cardozo, naturalmente e com tratamento digno como ex-primeira-dama na imprensa e nas redes sociais.
Dona Ruth foi tratada com dignidade.
Ganhou até documentário na Globo News, após a morte.
Ruth foi velada por autoridades, Marisa por trabalhadores.
Dona Ruth foi uma grande mulher, mas diferentemente de Marisa, nunca foi cobrada por nada que o marido fez, afinal seu marido é Fernando Henrique Cardoso, o representante máximo da plutocracia brasileira que nunca soube de nada sobre corrupção.
E FHC meus caros…
É protegido por Deus e o Diabo.
Foi errado o tratamento com Ruth? Não.
Mas, com Marisa foi e, por isso Lula tem mais que o direito, o dever de registrar sobre seu caixão o protesto que serve de estímulo à resistência e luta à sua base social.