Lideranças do PT, PCdoB, PDT, PSol e Minoria no Congresso Nacional realizam nesta quarta-feira (5) um grande ato público, na Câmara, contra a proposta de emenda à Constituição 241/16, conhecida como a “PEC da maldade”.
A PEC limita por 20 anos os gastos públicos da União, inclusive em áreas essenciais como saúde e educação, além de desestruturar o Estado brasileiro e acabar com a proteção social.
“Precisamos derrotar essa proposta que destrói as conquistas sociais e trabalhistas do povo brasileiro”, afirmou o líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA).
O líder do PT fez questão de lembrar que essa proposta “desastrosa”, que congela os investimentos do País pelos próximos 20 anos, uma vez que os gastos serão corrigidos apenas pela inflação, foi encaminhada ao Congresso ainda quando o presidente golpista Michel Temer era interino.
“Essa PEC é a típica iniciativa do golpe, que em nome de uma meta fiscal estabelece um limite de gastos não apenas para as despesas, mas também para investimentos, o que irá prejudicar brutalmente setores fundamentais como saúde, educação e assistência social”, criticou Florence.
Para Afonso Florence, é preciso alertar a população para a gravidade desta proposta. “Vamos obstruir e fazer tudo que for possível para impedir a sua aprovação, mas é preciso que a população também se mobilize e se manifeste contra a PEC 241”, defendeu.
O deputado Patrus Ananias (PT-MG), coordenador da Bancada do PT na comissão especial que analisa a “PEC da maldade”, tem lutado incansavelmente contra a proposta. Ele destacou a necessidade de se esclarecer a população sobre o desmonte que essa proposta faz.
“É preciso estar atento e não se deixar enganar pelos argumentos do governo e de sua base aliada de que essa PEC não reduzirá os gastos públicos em saúde e educação. Ninguém se deixe enganar: é trapaça. É golpe – e eles querem consumá-lo depressa, com votações a partir da próxima semana”, afirmou.
Patrus Ananias reforçou que a aprovação da PEC 241 resultará na destruição das políticas de educação, saúde e assistência social que, nos governos Lula e Dilma, beneficiaram especialmente os pobres.
Para justificar seus argumentos, o deputado citou dados do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde que estimam que o Sistema Único de Saúde (SUS) perderá R$ 654 bilhões em 20 anos, se a PEC vigorar, com consequências gravíssimas para a população: menos 500 milhões de procedimentos de atenção básica, menos 83,5 milhões de procedimentos de ambulatórios e menos 19,6 milhões de procedimentos em hospitais.
O coordenador do PT na comissão especial citou ainda que o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde mais a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social preveem que se a “PEC da Maldade” for aprovada, as perdas acumuladas para os três setores nos próximos nove anos serão de R$ 345 bilhões.
Na assistência social, Patrus Ananias citou estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que revelam que a assistência aos pobres perderá nada menos do que R$ 868 bilhões em 20 anos, se a PEC for aprovada.
Manifestação – O Ato “Diga Não à PEC 241” será realizado no auditório Nereu Ramos na quarta-feira, das 10 às 13h. Além de senadores e deputados, a manifestação contará com a participação de integrantes da Frente Brasil Popular, de movimentos sociais, de centrais sindicais, de movimentos estudantis e da comunidade médica e acadêmica.
Debate sediado na Casa Pública discute o cerco do governo Temer contra a EBC e os rumos da mídia estatal no Brasil
Mauricio Stycer, Ricardo Melo e Tereza Cruvinel durante debate na Casa Pública (Foto: Mariana Simões/Agência Pública)
“A comunicação pública no Brasil foi ferida de morte.” Assim o jornalista Ricardo Melo define a dança das cadeiras que o tirou, o recolocou e o afastou em definitivo da presidência da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) por meio de uma medida provisória (MP) do governo Temer. A mesma MP extinguiu o conselho curador da empresa e foi seguida pela demissão de 30 funcionários.
Escolhido pela então presidente Dilma Rousseff para presidir a estatal responsável pelas emissoras de TV e rádio e pelo portal de notícias do governo federal, Melo teve o mandato de quatro anos interrompido com apenas duas semanas de exercício do cargo. Foi substituído por Temer pelo jornalista Laerte Rímoli, ex-coordenador de comunicação da campanha do senador Aécio Neves na eleição presidencial de 2014 e diretor de comunicação da Câmara dos Deputados durante a gestão de Eduardo Cunha.
Ricardo Melo, a ex-presidente da empresa e criadora da TV Brasil, Tereza Cruvinel (2007-2011), e o colunista de televisão do UOL Mauricio Stycer participaram de debate sobre os rumos da comunicação pública no Brasil sediado na Casa Pública, com mediação da jornalista Marina Amaral, codiretora da Pública, no último dia 24.
Para Stycer, o decreto assinado por Michel Temer alterando a estrutura da estatal ressaltou a relevância da EBC entre os meios de comunicação do país. “O fato de uma das primeiras medidas do governo Temer ter sido o afastamento do Ricardo deixou bastante clara a importância da EBC”, afirmou o colunista.
Melo sublinhou que a interrupção do seu mandato extrapola os limites da empresa: “O problema não é a EBC nem o Ricardo Melo. É uma questão que tem a ver com ambiente político geral”, afirmou. “O que estamos vendo hoje é um retrocesso em toda a linha dos direitos democráticos e sociais do Brasil: retrocesso em direitos trabalhistas, retrocesso em direitos da saúde, retrocesso em direitos educacionais, tentativa de anistiar os políticos envolvidos na questão do caixa 2… A comunicação pública, nesse contexto, é um empecilho. Se a sociedade não amadurece democraticamente, não há espaço para a comunicação pública.”
TV pública x TV comercial
Para Tereza Cruvinel, as dificuldades para a implantação de uma TV pública no país é uma questão histórica: “A meu ver, isso se relaciona com o patrimonialismo, que é uma falta de limites entre o público e o privado. Os empresários da área de comunicação sempre se relacionaram com o Estado brasileiro de forma a extrair poder e influência a partir dos veículos que controlam, a partir do controle da opinião pública. Nesse jogo entre a mídia privada e o Estado, a comunicação pública sempre dançou”.
Cruvinel relembrou a criação da TV no governo Vargas, nos anos 1950, quando Getúlio foi dissuadido por Assis Chateaubriand de criar uma TV pública para lhe dar a concessão do que viria a ser a TV Tupi. A relação entre a ditadura e a Rede Globo também foi citada pela jornalista. “A ditadura criou a Radiobrás, que esbarrou no nascimento das Organizações Globo, e aí, em vez da expansão de uma televisão pública nacional, ela optou por criar TVs educativas em cada estado do país – essas que estão aí hoje e com as quais a EBC criou parcerias durante a minha gestão, rompidas pelo governo Temer”, expôs. “Ou seja: a comunicação pública nacional não se desenvolveu ao longo dos anos por conta desses vícios de nossa elite política e empresarial.”
“Com raríssimas exceções, temos um modelo oligárquico de produção de informação”, concordou Melo. “Há uma intersecção entre a questão da comunicação livre, desimpedida, isenta, plural e o desenvolvimento social”, afirmou.
Aparelhamento?
Ao trazer para o debate a importância do que chamou de “bolsões de liberdade de expressão”, Melo rebateu ainda as críticas dos aliados de Temer de que a EBC teria sido aparelhada nas gestões de Lula e Dilma. “A lei original da empresa previa que os mandatos do presidente da EBC e do presidente da República não fossem coincidentes, justamente para evitar o aparelhamento. E hoje essa MP sacramenta o aparelhamento da emissora. Se o presidente da República não gostar do presidente da emissora, ele o afasta, porque não tem mais mandato. Além disso, a extinção do conselho curador, que trazia representantes da sociedade pautando a comunicação pública, mantém a empresa nas amarras do governo”, explicou. “O aparelhamento de que tanto se acusava as gestões anteriores está acontecendo agora. Nós temos que ter isso muito claro: todos os poderes foram concentrados nas mãos do presidente da República.”
Ricardo Melo teve o mandato de quatro anos como presidente da EBC interrompido com apenas duas semanas de exercício do cargo (Foto: Juca Varella/Agência Brasil)
Para Stycer, a vinculação da EBC desde a criação à Secretaria de Comunicação da Presidência da República contribuiu para a percepção do aparelhamento da empresa. “Essa vinculação à Secom sinalizava de fato que era uma emissora do lado político do governo, ainda que houvesse um conselho curador para protegê-la. Esse caminho talvez não tenha sido o melhor. Havia um grupo bastante grande que defendia que a EBC fosse vinculada ao Ministério da Cultura. A mim me parecia também mais lógico”, objetou o colunista. Do ponto de vista do conteúdo, porém, Stycer disse não ver aparelhamento da emissora. “Claro que poderia se discutir algumas questões, o time de colunistas poderia ser mais plural, mas são detalhes pequenos no contexto geral da programação, que de fato era uma programação bastante variada com uma vocação interessante para encontrar oportunidades específicas da televisão pública que não são aproveitadas pela TV comercial.”
Para Cruvinel, as críticas feitas à EBC são uma expressão do autoritarismo do atual governo e refletem a perseguição da mídia privada contra a estatal. “A EBC está sendo golpeada devido à fragilidade democrática e à natureza autoritária do atual governo, mas também porque ao longo de seus oito anos ela se tornou vulnerável como resultado da imagem negativa que a imprensa disseminou sobre ela”, defendeu. “Durante o mandato do Lula, não se escrevia ‘TV Brasil’ nos jornais, era só ‘TV do Lula’, ‘Lula News’. Eu mostro para quem quiser ver. Apanhamos todo santo dia!”, contou. “Havia um ódio muito grande contra a EBC. E por quê? Não tínhamos publicidade para concorrer com a mídia privada, eles diziam que audiência também não tinha, então que ameaça era essa tão forte que a TV pública representava? Só pode ser essa questão da elite empresarial brasileira querer um pensamento único em canais eleitos e sacramentados que são as empresas familiares. Tudo dentro de um grande pacto da elite.”
Audiência compensa?
Houve unanimidade na mesa quanto ao fato de a audiência não poder ser o único critério de avaliação de uma emissora pública. “As emissoras de TV aberta são baseadas no modelo da publicidade. Elas lutam por audiência porque esta é a razão de ser delas”, disse Stycer. “No caso da TV Brasil, É interessante ter uma ideia de seu alcance com os números de audiência, mas ela não pode ter o mesmo critério de avaliação de uma emissora de TV aberta. É uma visão ultraliberal querer associar o Ibope da TV Brasil a um fracasso da emissora.”
O colunista do UOL considerou “tacanha” a comparação da audiência entre a TV estatal e as TVs comerciais, mas ponderou: “Por outro lado, tem a questão do dinheiro público, então a emissora precisa dar uma satisfação, precisa ser vista. Penso que a vocação da televisão pública seja buscar e alcançar públicos que não estão vendo a TV comercial, ou não estão satisfeitos com a TV comercial”.
Para Cruvinel, a função da comunicação pública é dar voz à pluralidade. “A audiência é sempre desejável. Se custa dinheiro público, mais ainda, mas ela não é o objetivo primordial de uma emissora de comunicação pública. O primordial é ser um espaço de pluralidade, de complementaridade, palavra que nossa constituição usa.” A jornalista destacou o pioneirismo da TV Brasil, que foi a primeira emissora a transmitir uma Paralimpíada no Brasil, em 2008, e deu exemplos de programas com baixa audiência justamente por atenderem aos requisitos da pluralidade. “Tínhamos dois programas que atendiam a públicos específicos que as televisões privadas não atendem: o Programa Especial, voltado para a inclusão de pessoas com deficiência, e a Grande Música, programa de música erudita. Vai ter audiência de massa? Não, é um nicho pequeno, mas é papel da TV pública oferecer esse tipo de programa.”
A jornalista qualificou como “lenda” a afirmação de que a TV dá traço de audiência, lembrando que as medições do Ibope não levam em conta as parcerias da emissora com os canais estaduais nem as transmissões parabólicas, que predominam na área rural de boa parte do país.
Como de praxe nos debates da Casa Pública, o microfone permaneceu aberto ao público, e na plateia a repórter do site de notícias da EBC Isabela Vieira manifestou seu desconforto com o fato de o foco das discussões permanecer restrito à televisão: “Eu queria lembrar que a EBC é muito mais que a TV Brasil, ela tem emissoras de rádio e duas agências de notícia que têm um papel importantíssimo na garantia do direito à informação e à liberdade de imprensa, disponibilizando conteúdos para jornais e rádios de todo o país de maneira gratuita. Ficamos desconfortáveis quando toda a importância da EBC é reduzida à existência da TV Brasil”, declarou.
Isabela pediu aos debatedores que comentassem o impacto da produção do conteúdo das agências de notícias da estatal em outros veículos e terminou com um desabafo: “Eu sou concursada da Radiobrás desde o primeiro governo Lula e nós vivemos um sonho de fazer comunicação pública no Brasil. E fizemos. Mas de lá pra cá vimos esse projeto ser desmontado e, junto com a sociedade civil, estamos pagando um preço alto pelo desmonte da EBC”.
Em resposta à repórter, Melo afirmou que a Agência Brasil tem um papel que as pessoas não conseguem dimensionar, sublinhando a vocação do portal para ampliar a comunicação para além dos limites do eixo Rio-São Paulo. “A Agência Brasil alimenta centenas de sites que atingem locais que sites como UOL e G1 não chegam, por estarem confinados à ditadura Rio-São Paulo. Na maioria das vezes, a mídia pouco se lixa para o que acontece fora desse circuito”, reiterou. “Então o que está sendo desmontado é o projeto de uma rede nacional pública de comunicação, é o sistema que sai desse confinamento da comunicação nos grandes centros e que tenta transformar a opinião do Brasil na opinião do Rio e de São Paulo. ”
Melo finalizou sua fala destacando a necessidade de um debate público sobre a comunicação pública nacional. “Acho que a EBC precisa passar por um processo de discussão e reformulação. Eu tenho várias restrições sobre a maneira como ela está constituída hoje e penso que ela tem muitos vícios de uma empresa estatal. Acho essa discussão mais do que necessária, mais do que urgente, mas ela tem que ser feita como foi feito no momento de sua criação – com audiências públicas, discussões nas universidades, na academia, com os movimentos sociais… Uma empresa de comunicação pública é um processo muito mais amplo do que uma canetada em uma medida provisória. Porque a canetada é muito clara: é acabar com a comunicação pública no Brasil, que ninguém tenha ilusão sobre isso.”
O debate foi concluído com um convite dos membros do extinto conselho curador da EBC presentes na plateia para uma reunião aberta a ser realizada no dia 6 de outubro, das 13h às 17h, com o apoio da Uerj, sobre os rumos da comunicação pública no Brasil.
O plebiscito pela paz não conseguiu convencer 62% dos colombianos a irem às urnas; o resultado, que favoreceu a rejeição ao acordo com as Farc, mostra que a polarização é maior nas classes altas
Só se fala disso nos jornais. Uma polarização ideológica, como há tempos não se via, divide os cidadãos. Amigos e familiares rompem laços imemoriais por causa de discussões políticas inflamadas. Caravanas de manifestantes tomam as ruas das principais metrópoles à medida que o debate se torna cada vez mais histérico. Em sinal de protesto, pessoas vestidas com camisas amarelas da seleção de futebol se dirigem às urnas para votar e marcar posição. Ao fim e ao cabo, triunfam os valores de centro-direita que supostamente se propõem a defender os interesses nacionais.
Não estou em São Paulo, Brasil. Estou em Medellín, Colômbia. Aqui, não são os escândalos de corrupção e a derrocada de um governo de centro-esquerda que acirram os ânimos e testam os alicerces da frágil democracia de um país sul-americano. O que está em jogo é o plebiscito que pode colocar fim a uma guerra de mais de cinco décadas entre o governo colombiano e os guerrilheiros das Farc. Um doloroso conflito armado que legou centenas de milhares de mortos, além de famílias destroçadas por sequestros e remoções forçadas de camponeses provocadas não só pelos guerrilheiros, mas também pelos grupos paramilitares criados para combatê-los.
Apesar das evidentes peculiaridades da conjuntura colombiana, é impossível não se surpreender com as semelhanças entre o clima do plebiscito pela paz e a atmosfera política do Brasil. Mesmo com a hipertrofia de informações (e desinformações) sobre o acordo entre as Farc e o governo do presidente Juan Manuel Santos, enxurrada que gerou a tal onda de ódio e polarização sem precedentes nas redes sociais e nos meios de comunicação, a verdade é que a maior parte da população – sobretudo a mais pobre – não se animou a participar de uma decisão tão importante para o futuro do seu próprio país.
Em outras palavras, assim como no Brasil, a temperatura das discussões políticas na Colômbia é particularmente mais explosiva entre as classes média e alta. Tanto é assim que somente 37,43% dos eleitores colombianos compareceram às urnas – diferente do Brasil, aqui o voto não é obrigatório.
Uma conversa despretensiosa com José, vigilante terceirizado de um parque turístico de Medellín, fornece algumas pistas sobre os motivos dessa apatia política. Ele trabalha 48 horas por semana para ganhar um salário mínimo, o equivalente a R$ 740 (a título de comparação, no Brasil, a jornada é de 44 horas para uma remuneração de R$ 880). Como estava de serviço no dia do plebiscito, não teve tempo para comparecer à zona eleitoral.
Pergunto a José se ele é a favor ou contrário ao acordo de paz. Deixando o constrangimento inicial de lado, ele afirma que não aprova os termos da proposta submetida à população e se mostra especialmente incomodado com a remuneração temporária que seria paga aos guerrilheiros, caso o “Sim” ao acordo de paz saísse vitorioso no plebiscito. Lanço o argumento de que o custo dessas “bolsas” seria bem inferior ao da continuidade da guerra e que, uma vez encerrado o conflito, os recursos públicos consumidos no combate às Farc poderiam ser enfim destinados a saúde, educação e habitação. Mas José não se convence e, como boa parte dos trabalhadores precarizados da Colômbia ou do Brasil, destila uma desesperança de cortar o coração.
Outro ponto relevante e controverso do plebiscito diz respeito à punição aos crimes de guerra. A instalação de uma espécie de “Comissão da Verdade”, em que seriam confessados assassinatos e sequestros, foi a solução acordada entre governo e Farc. Aqueles que admitissem os delitos não seriam automaticamente anistiados, mas condenados a penas alternativas. Os familiares das vítimas se dividiram: de um lado, os defensores de penas duras e exemplares contra os guerrilheiros. De outro, os adeptos do “perdão” em nome do fim do conflito. O presidente Juan Manuel Santos batia na tecla de que o acordo não era o perfeito, mas o possível.
O triunfo do “Não” no plebiscito pegou os colombianos de surpresa. As pesquisas de intenção de voto apontavam uma vitória relativamente tranquila do “Sim” e havia até quem insinuasse que o presidente jamais arriscaria gratuitamente seu capital político e que faria “o que fosse necessário” para garantir a aprovação do acordo de paz proposto por seu governo.
Hoje, no dia seguinte da inesperada vitória do “Não” por uma apertadíssima margem de 60 mil votos, os jornais colombianos já colocam em xeque a capacidade do presidente colombiano de conduzir o país até o fim do mandato e de aprovar pautas consideradas urgentes, como a reforma tributária. Nesse sentido, o grande vitorioso do plebiscito é Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano e uma das principais lideranças de centro-direita do país, com base eleitoral em Medellín.
À primeira vista, o fato de a maioria dos colombianos haver recusado o acordo entre governo e Farc não significa que o processo de paz tenha sido sumariamente abortado. Lideranças dos guerrilheiros, além do próprio presidente da República, já vieram a público para dizer que continuam dispostos a negociar o fim do conflito. Mas, diante do recado das urnas, os termos de uma eventual novo acordo serão muito mais draconianos para os guerrilheiros, o que tende a dificultar um novo acordo.
Na minha visão, o plebiscito colombiano aponta para um contexto inexorável na América Latina: já não se trata mais de uma mera ascensão, mas de consolidação das forças de centro-direita, após conflituosos e traumáticos processos de disputa política e ideológica. A população pobre e precarizada, ainda que não envolvida visceralmente nos debates, parece pouco sensível a valores que pregam igualdade, tolerância, perdão – pelo menos, não na forma como as esquerdas tradicionais têm defendido. Os próximos anos serão instigantes, para dizer o mínimo.
* Carlos Juliano Barros é jornalista e colaborador da Agência Pública
Contexto Livre: Ser tão animal: "A fábrica do futuro terá apenas dois operários: Um homem e um cachorro. Função do homem: alimentar o cachorro. Função do cachorro: não...
No alvorecer do milênio, Luis Fernando Veríssimo notou que estávamos ingressando em outro século mas ainda não sabíamos qual. Poderia ser o 21 ou o 19. Bem, demorou 16 anos, mas agora sabemos. Mesmo se não quiséssemos, acabaríamos sabendo. Bastaria contemplar a atual decoração do Planalto.
Na fachada governamental, reluz uma corja imperial abduzida no passado e que viajou mais de 100 anos através dos tempos. E que nos trouxe, além dos velhos e dos velhos costumes, a opressão estetizada através da mesóclise. Foder-vos-ei, brasileiros e brasileiras!
Outras vozes, porém, situam nosso regressismo em ponto mais remoto, a Idade Média, aquela que começou com a queda do Império Romano do Ocidente e que, supostamente, extinguiu-se com o advento da Idade Moderna no século 15. Estaríamos na era pré-cabralina.
Em 2016, os portugueses ainda navegam, tomando vinho, comendo bolacha, temendo as calmarias e o escorbuto e defecando na amurada. Ainda não existimos. Parece um tanto excessivo. Seja como for, o flash back é nossa sina.
Não mais que de repente, tudo se precipitou. Cata-se desesperadamente o atraso. Vê-se nele um charme que a agenda emancipatória ou libertária não parece possuir. Descabela-se o calendário em busca do tempo perdido. Há uma sofreguidão, quase uma luxúria pelo antiquado. O arcaico é sexy, quer nos convencer a não menos vetusta imprensa. Só não nos informa que a supressão de direitos e valores resume seu cobiçado objeto de prazer. Senão, vejamos:
1) Funda-se o governo dos Brancos, Velhos, Ricos, Reacionários e (dizem) Corruptos. Na popular, o BRAVERRC. Mulheres? Só uma como enfeite por causa “dessa história de gênero”, como admitiu o “presidente”. Negros? Nenhum. A exemplo das mulheres, eles são maioria no país mas estamos em falta. Nem no racista Alabama ocorre algo assim. Lá, o governo estadual, nas mãos do Partido Republicano, abriga Fitzgerald Washington, retinto afrodescendente que pilota a secretaria do trabalho.
2) BRICS? Nada disso. O BRAVERRC tem outras ideias. A propósito, para o chanceler José Serra, o nome correto é BRAICS. Os tolos esqueceram de incluir a Argentina na sigla... Serra namora de mãos dadas com os EUA e, portanto, BRICS, BRAICS ou que raio for não interessa. O que interessa, mesmo, é entregar essa chateação da Petrobras para os ianques. Sadia é aquela postura de subordinação perante o Grande Irmão do Norte, como sempre foi no passado. Afinal, já estamos acostumados com a posição em que Napoleão perdeu a guerra.
3) A pedagogia de Paulo Freire está revogada. Para os ideólogos do BRAVERRC, é pura subversão como tão bem percebeu a ditadura militar. Que prendeu Freire, acusou-o de “traidor de Cristo” e o despachou para o exílio. No exterior, Paulo Freire tornou-se doutor honoris causa em 41 universidades, entre elas as inglesas Oxford e Cambridge e a norte-americana Harvard. Na Suécia - vejam só, a cabeça desses gringos... - ergueram-lhe uma estátua! No Brasil, a neopedagogia de Alexandre Frota deve tomar-lhe o lugar. É a Escola Sem Partido Mas Com Sacanagem que ninguém é de ferro.
4) Aposentadoria? Ora, querem moleza, não? Fiquem sabendo que no pretérito imperfeito em que vivemos agora – seja o século 15 ou o 19 – não existe esse trambolho. Doravante, aposentadoria somente aos 70 anos. E isso porque o BRAVERRC é generoso. Claro, muitos brasileiros vão se aposentar em adiantado estado de putrefação. Mas queriam o quê? Ganhar sem trabalhar, vendo Ratinho na TV e pegando remédio de graça na farmácia? “Aposentado é vagabundo”, como bem disse o grande FHC, o farol que jorra seu facho de escuridão na nossa claridade. Sejam patriotas: morram!
5) Questão social? Ora, como disse o velho (mais um) Washington Luis, último presidente da República Velha (outra) e grande inspiração do BRAVERRC, a questão social é um caso de polícia. Pau neles! O governo dos brancos velhos e bons vai capar as despesas da União por 20 anos. Dizem que, com isso, haverá um desastre na educação e na saúde. Bobagem. Além do mais, ter muita educação acaba em problema: muito protesto, reivindicação, greves...E ter muita saúde é sabotar as prioridades da nação. É querer durar muito, se aposentar e ficar mamando nas tetas da Previdência. Coisa de comunista.
6) Salário mínimo atualizado pela inflação? Onde é que vocês pensam que estão? No socialismo do molusco? Ou da dilmanta? Findou-se a mamata. Outro troço que não desce pela goela do BRAVERRC é o tal 13º. Salário. Onde já se viu? Só podia ser coisa daquele João Goulart, fazendeirinho vermelho que sempre foi. Bem que O Globo, na época, nos avisou dessa barbaridade. Depois, vieram os milicos e nem eles tiveram coragem de mexer nesse dinheirinho mal havido da plebe. Mas não contavam com o BRAVERRC. Deixem passar as eleições que virão mais novidades por aí.
Enfim, é um grande projeto que, para ser bem executado, necessita de homens corretos e capazes, devotados à causa pública, profundamente éticos, de elevada estatura moral e acima de qualquer suspeita. Seria uma temeridade desenvolvê-lo sem tais requisitos. Ainda bem que temos exatamente este tipo de gestores no timão da república. Podemos dormir em paz.
Capítulo 2- Não houve recuperação nos EUA e Europa, conforme diziam os golpistas estar havendo.
Capítulo 3- Os chamados países em desenvolvimento, ou emergentes, entre eles o Brasil, apresentam quadro melhor e maior potencial de recuperação do que os ditos desenvolvidos.
Capítulo 4- A desaceleração da economia brasileira, finalmente afetada pela crise que se desenrolava desde 2008, foi a oportunidade que a elite encontrou para desfechar o golpe que ruminava desde a eleição de Lula em 2002.
Capítulo 5- Depois de receber uma herança maldita de 500 anos, o PT reergueu o estado brasileiro, pondo em andamento um projeto nacional desenvolvimentista, independente e inclusivo.
Capítulo 6- Muita mídia, muita mesmo. muito dinheiro e muito preconceito foram investidos para quebrar a segunda experiência de governo efetivamente republicano e democrático que o país já conheceu.
Capítulo 7- A economia voltará a crescer. O que não vai voltar é o projeto nacional e inclusivo.
Para não ser velhaco como foram com Dilma, não se pode afirmar que seja sua culpa.
Mas foi um dos que reproduziu o discurso falacioso de que a desaceleração da economia brasileira era de responsabilidade da má condução do país pela presidenta e que a sua Ponte Para o Futuro seria a solução.
Segundo dia de debates do seminário "Escola sem Partido ou sem Autonomia? O Princípio da Igualdade em Questão". Hoje os temas a serem explorados são Diversidade, Gênero e Cotidiano da Escola e Cultura Afro-Brasileira e a Formação Escolar.
olhar diferente: Massacre contra o PT II: No último domingo, dia 25 de setembro, o ministro da (in) justiça do governo golpista, falando em um comício do candidato tucano em Ribeirã...
Muito bom texto. Mas 2013 é uma referência infeliz. Um movimento estimulado para coisa nenhuma a não ser fomentar o ambiente favorável ao desfecho de 2016, dando suporte às recorrentes alegações de um "clamor das ruas" (exatamente aquelas ruas) na boca de deputados e senadores que sagraram com seu voto o golpe de estado na democracia brasileira.
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