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sábado, 8 de agosto de 2015

Dirceu deveria ser deixado em paz | Brasil 24/7

Dirceu deveria ser deixado em paz



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Aos intelectuais, jornalistas e celebridades acadêmicas que têm se dedicado, nos últimos dias, a manifestar a decepção repentina com José Dirceu depois que ele foi conduzido a prisão da Polícia Federal em Curitiba, gostaria de dizer, do alto de minha modéstia, que sinto vergonha por esse comportamento.
Falando dos argumentos de conveniência, antes de chegar às teses de consciência. A experiência recomenda que se evite bater em quem está por baixo, depois de muita badalação no tempo em que se encontrava por cima. Não é só política. É pudor – que ajuda a preservar a própria memória.
Até pela biografia, como um dos líderes da resistência à ditadura, que organizou grandes protestos estudantis, articulou a luta pela anistia e as diretas-já, Dirceu tem credibilidade para ser ouvido, para se explicar e para se defender, se for o caso.
Queira-se ou não, é parte da história da nossa democracia. Se hoje podemos usufruir direitos e liberdades, isso se deve a pessoas que tiveram atitudes definidas e claras, no momento correto. Dirceu foi uma delas. 
É claro que o passado não garante anistia prévia a ninguém. Mas ajuda a pensar.
Pensei que já tínhamos vivido – nós, que perdemos em 64, fomos derrotados de novo em dezembro de 68, que enfrentamos muitos momentos cruéis e assustadores – tempo suficiente para ter aprendido de uma vez por todas algumas lições essenciais. Por exemplo:
-- Que não se pode transigir com valores e garantias democráticas;
-- Que todo cidadão é inocente até que se prove o contrário, o que só é possível com um amplo direito de defesa e o processo contraditório;
-- Que o casamento entre meios de comunicação (“Basta!” “Fora!”, quem pode esquecer dessas manchetes?) e os tribunais costuma produzir situações degradantes, como lembram as velhas Comissões Gerais de Investigação do pós-64;  
Vivemos um período tão especial – não tão raro assim em nossa história, vamos admitir -- em que as pessoas não são presas porque foram julgadas ou condenadas. Elas são presas para confessar e delatar, o que os responsáveis da Lava Jato costumam negar mas a matemática trabalha contra seu argumento: das 18 delações do caso, só uma foi feita com o acusado em liberdade. Um procurador, Mauro Pastana, autor de pareceres favoráveis à Lava Jato, admitiu com todas as letras que as prisões preventivas podem estimular os acusados a “colaborar.”
Isso permite entender que a Operação não segue a lógica das investigações criminais, que tem um crime a investigar, um responsável a julgar e punir, se for caso. Mas temos uma lógica de guerra, onde o alvo é visto como inimigo.    
Onde nossos intelectuais resolveram esconder Norberto Bobbio, pai da unidade entre justiça e da democracia, que ajudou a afastar a esquerda do totalitarismo da era stalinista? Não foi ele, citação obrigatória dos anos 1980 e 1990, que ajudou a explicar que a democracia era um valor universal, para nós e para eles – sejam quem forem o “nós” e o “eles”?
Será que todos se esqueceram de Emile Zola, forçado a exilar-se em Londres para ficar longe dos fanáticos do ódio manipulado pela imprensa reacionária da França do final do século XIX?
Dirceu tem inúmeros defeitos mas não é por causa deles que se tornou um alvo político do conservadorismo brasileiro, que só deixou de persegui-lo com ataques brutais no período em que se tornou importante demais para ser alvejado sem receio de retaliação.
Entre os diversos políticos brasileiros, Dirceu cometeu erros inúmeros, exibe defeitos imensos, mas é um dos poucos que, em sua estatura, não foi cooptado. Conservou uma visão própria do mundo e das coisas da política – e isso incomoda demais. Por isso não basta que seja derrotado. Deve ser esmagado. Repetindo a sentença do tribunal de uma rainha louca contra um revolucionário que não vou citar aqui para não inspirar comparações indevidas, seu corpo deve ser esquartejado e a terra, salgada. Não é de envergonhar?
Copiamos o absolutismo português, por outros meios.
A última derrota de Dirceu foi ter negado o pedido de acesso integral às denúncias feitas contra ele. O argumento é que isso poderia atrapalhar o curso das investigações. É um direito básico, que faz parte da construção da democracia e da invenção dos direitos humanos, ocorrida naquele período em que homens e mulheres deixaram de ir a praça pública aplaudir esquartejamentos, torturas e mortes na forca.
Hoje se prende sem condenação. Houve uma época em que se prendia sem acusação.
Evoluímos. Mas também regredimos.
Que o juiz Sérgio Moro tenha argumentos para impor essa situação e até convença os tribunais superiores de seus motivos, como ocorreu com o ministro do STF Teori Zavaski, eu até compreendo – embora me reserve o direito de considerar um absurdo. 
Quando intelectuais se submetem a esse meio conhecimento, a essa verdade censurada, e mesmo assim se dispõe a condenar, assumem uma condição inaceitável: em vez de viver das próprias ideias, permitem-se pensar com o cérebro dos outros? 
É desse modo que passamos a torcer pelo fim da divisão entre trabalho manual e intelectual?
Não, meus amigos. A realidade é ainda mais feia. O universo político está em mudança e não faltam mentes de olho nas vagas disponíveis na nova ordem. Aquelas que, a partir de 2003, cortejavam a ordem da qual Dirceu fazia parte. 
Minha opinião é que Dirceu deveria ser deixado em paz. Quase septuagenário, com contas a apresentar aos brasileiros, e explicações a dar. Tem um ajuste de contas a fazer com sua própria história.
Dirceu perdeu os direitos políticos em 2005, no início da AP 470. O relator que conduziu a cassação de seu mandato acaba de ser acusado de receber R$ 150 000 para abafar uma das diversas CPIs da Petrobras – coisa que ele desmente, como Dirceu sempre desmentiu o que se disse sobre ele. 
Como tantos antes e depois dele, no Brasil e no mundo, Dirceu passou a oferecer serviços que políticos, advogados e ministros das altas esferas possuem de melhor: contatos, conhecimentos, ideias que encurtam distâncias e vencem dificuldades. Não vou julgar essa opção aqui e agora. Cidadãos que fazem isso, em geral, devem renunciar à atividade política.
Na pátria dos lobistas registrados, o próprio Barack Obama foi obrigado a desconvidar um senador democrata, competente e articulado, Tom Dashle, que, fora do Congresso, passou a trabalhar para um escritório de empresas de saúde.
A denúncia que levou Dirceu à cadeia é que sua atividade é uma farsa e que ele só estava armando esquemas de corrupção e enriquecimento. Cabe investigar, apurar, acusar e esclarecer. Os fatos concretos são necessários para saber quem está mentindo. 
De preferência, em liberdade.
Qualquer pessoa que já foi obrigada a dar explicações para representantes da Lei e da Ordem – estou falando daqueles que têm gravata – sabe a diferença. É isso que separa a civilização da barbárie. 
Apesar de tudo, um advogado que esteve com Dirceu trouxe boas notícias sobre o prisoneiro: "o humor dele está melhor do que o meu."
Dirceu deveria ser deixado em paz | Brasil 24/7

Quando a direita dá um golpe, quem paga a conta é o trabalhador - Carta Maior

07/08/2015 - Copyleft

Quando a direita dá um golpe, quem paga a conta é o trabalhador

Para presidente da CUT, mais uma vez, oposição sangra governo para se apropriar das conquistas da classe trabalhadoras e retomar agenda conservadora.


Luiz Carvalho e André Accarini - Portal da CUT

Roberto Parizotti / Cut.org.br
O filme começa com a agressão a três ex-ministros que ocuparam ou ocupam pastas nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff. Todas em São Paulo. Uma delas, em um hospital frequentado pela classe média alta paulistana. A cena seguinte mostra uma bomba arremessada em direção à sede do Instituto Lula – até agora, o autor do ato não foi identificado pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. Dá medo de pensar como termina essa película, com doses de terror e drama.


Não dá para negar que a Dilma eleita está muito distante da Dilma que militantes e dirigentes da CUT e dos movimentos sociais defenderam durante a campanha eleitoral. Falava-se em manutenção de direitos. As medidas provisórias 664 e 665 fizeram o contrário. Cobrava-se mais recursos para habitação e para a reforma agrária. O que o Brasil viu foi um contingenciamento de políticas públicas como parte de um ajuste fiscal nos moldes dos defendidos pelo candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB-MG), que passou a liderar uma oposição ao Brasil, aliado ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), essa oposição coloca em risco a democracia duramente conquista. 


A defesa da democracia e retomada do projeto de governo com justiça, inclusão social, distribuição de renda e geração de trabalho decente é o que une movimentos sindical e sociais a ir as ruas conforme aponta o presidente da CUT, Vagner Freitas.

 
Em entrevista ao Portal da CUT, ele destaca que é preciso enfrentar o clima de golpe alimentado por veículos de comunicação que perderam a vergonha de mentir e não são cobrados por isso, ainda que semanalmente as histórias que publicam sejam desmascaradas. Veículos que servem para inflamar maus perdedores interessados em levar as eleições para o tapetão. Numa espécie de eterno 3º turno.  Vagner lembra, ainda, que nenhum golpe trouxe benefícios aos trabalhadores. Ao contrário, financiados por setores empresariais, ajudaram a impedir avanços ou desconstruir conquistas, como esses mesmos patrões buscam fazer no Congresso Nacional agora, em especial, na Câmara dos Deputados, sob regência do garçom dos patrões, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).  
 
A resposta, defende o presidente da maior central sindical do país, deve ser nas ruas para que o governo retome o caminho para o qual foi eleito. Por isso lideranças da CUT e dos movimentos sociais farão uma vigília diante do Instituto Lula nos dias 7 e 16 de agosto. Além disso, uma grande mobilização em todo o país está marcada para o dia 20.

Confira abaixo a entrevista.

Qual o significado dos três atos que a CUT e os movimentos promoverão em agosto?
 
 
Freitas – Nós estamos muito preocupados com a atual situação de intolerância e ousadia dessa direita brasileira, que desrespeita os valores básicos da convivência democrática, do direito do outro, não aceitando o resultado da eleição e impondo ao Brasil uma crise permanente criada por perdedores para desestabilizar o governo federal. Isso tem prejudicado demais o país, paralisado a economia. Quem paga o pato são os trabalhadores, com demissões e a queda nas condições de vida devido à paralisação que o país vive por conta de um terceiro turno criado por uma mídia golpista e uma direita conservadora. Claramente orquestrada por setores da sociedade que querem construir um golpe, causando impeachment da presidenta.


É possível, natural e salutar que o governo tenha apoiadores e questionadores, quem concorda ou não, como é na democracia, e que todos possam manifestar sua opinião, inclusive nas ruas. Agora, golpismo, não! Mentiras construídas pela Veja, pelo O Globo, pela TV Globo, que depois não se sustentam e também não são cobradas como histórias mentirosas que caem por si só também não. Precisamos dar um basta nisso.


Vamos punir os CNPJs e não os milhares de trabalhadores que foram demitidos por conta da devassa que a operação Lava-Jato faz na cadeira produtiva brasileira. Os setores produtivos sérios desse país, empresários e trabalhadores, devem promover uma unidade entre produção emprego para que façamos todas as apurações, punamos os culpados, mas sem parar com a economia, acabar com os empregos e com a capacidade de crescimento das empresas brasileiras.  
 
Esse cenário que você narra tem relação com ações como ao ataque a ex-ministros e com a bomba jogada no Instituto Lula?
 
 
Freitas – O atentado contra o instituto de um ex-presidente da República, que como qualquer ex-presidente, continua sendo autoridade nacional, representa o fim da linha da intolerância que está sendo construída por quem perdeu as eleições e promove uma caça ao PT e aos movimentos sociais. Uma tentativa de criminalização dos movimentos sociais e do partido, um desserviço que se presta ao Brasil e ao mundo por meio de uma mídia conservadora que transforma o ato de fazer política em algo ruim.  
 
É mentira que a direita brasileira esteja preocupada em acabar com a corrupção no Brasil. O que se quer é satanizar o PT, o Lula, os movimentos sociais para que os conservadores de direita coloquem suas políticas em prática sem reação. E esse cenário propicia que um deputado diga que as mulheres podem ser estupradas - em referência ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que os negros sejam demonizados (em referência ao também deputado Marco Feliciano (PSC-SP), para quem paira uma maldição divina sobre os africanos -, que os gays sejam assassinados. É um ambiente de que tudo pode do retrocesso, esse ambiente que você colocar criança na cadeia, ao invés de colocar na escola. Isso não é democracia ou liberdade de imprensa, isso é baderna. Por isso os atos do dia 7, do dia 16 e do dia 20. É para deixar claro para a direita que vamos fazer o enfrentamento com ela nas ruas.


Não podemos aceitar mais que a Lava-Jato e a operação intempestiva do Moro fiquem obrigando os delatores a citarem o Lula de qualquer forma, ainda que não aja indício. Parece que todos chamados a depor têm como preço da liberdade falar do Lula.

 
Por que mesmo aqueles sem afinidade ou ligação com PT ou PSDB não devem embarcar em uma onda golpista?
 
 
Vagner Freitas – Porque todas as vezes que tivemos golpe em qualquer lugar do mundo, o atentado à democracia é tão grande que o retrocesso na política demora décadas para ser revertido. Nunca as ações intolerantes são para melhorar a vida do povo. Todos os golpes que tivemos, como contra o Jango (João Goulart, presidente que propôs reformas de base como a agrária e foi deposto pelo golpe de 1964) e contra o Getúlio (Getúlio Vargas, criador da CLT e de avanços como o limite de horas da jornada de trabalho semanal e as férias anuais, cometeu suicídio quando enfrentava resistência do Congresso, da imprensa e das Forças Armadas) ocorreram num momento em que a classe trabalhadora vinha num processo de ascensão e a sociedade tinha uma igualdade muito maior de direitos e conquistas. É nesse momento que a direita vem e dá o golpe para abocanhar todos os resultados da economia, como está acontecendo agora. 
 
Eles querem entregar a Petrobras a uma petrolífera estrangeira para encher o bolso de dinheiro. Não tenho dúvida nenhuma que isso tem uma orquestração internacional. O Brasil do pré-sal, da Petrobras, se torna autossuficiente em petróleo e gás, e mais do que isso, entra diretamente na disputa pelo mercado mais cobiçado do mundo. É por isso a sanha contra a Petrobras, é para enfraquecê-la, para que possa ser vendida, para que os lobistas ganhem com isso e os entreguistas façam seu papel para ajudar o imperialismo.
 
Olha o atentado ao povo brasileiro, já foi decidido que os recursos do pré-sal serão investidos em saúde e educação, política pública para quem precisa. A grande motivação que se tem é pela inviabilização da Petrobras, são os mesmos que queriam mudar o nome para Petrobrax, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), para vendê-la.


Qual o interesse que o Serra (senador José Serra PSDB-SP) tem ao apresentar o projeto para permitir a venda? O Serra é um lobista e por trás dele há interesses internacionais, querem acabar com sistema de partilha, que o presidente Lula construiu contra a proposta de entrega da nossa riqueza defendida pelo FHC.  E que fique claro, a autonomia dos gestores da Petrobras quem construiu foi o Fernando Henrique, quando era presidente. A Petrobras tem uma realidade diferente de todas as outras empresas públicas. No Banco do Brasil e na Caixa os diretores tem autonomia controlada, não chegariam ao estágio que dizem estar chegando de corrupção. Foi o FHC quem tirou a empresa de uma legislação geral e os problemas vem desde lá, mas a mídia encobre.


Sei que há problema na Petrobras, tem que resolver, sanear. A luta contra a corrupção é da CUT, mas não podem se utilizar disso para inviabilizar a empresa.  
 
Qual a responsabilidade que o maior partido da oposição, o PSDB, com um ex-presidente da República em seu quadro, tem em relação ao atual cenário de desemprego, caos social e uma espécie de guerra civil que avistamos como você cita?

 
Freitas – Nunca achei que o PSDB tivesse qualquer compromisso com o Brasil. É um partido de yuppie sem causa, que não representa nem os princípios liberais e nem abarca os interesses da burguesia brasileira. Não tem projeto. É a cara do Aécio, um yuppie tresloucado. O PSDB tem direito de fazer oposição ao PT, como o PT fez ao PSDB, acho normal ter partido de oposição. Mas se trata de uma oposição sem projeto. Até os que odeiam o PT cobram os tucanos por não terem uma proposta alternativa e não ter compromisso com o Brasil. Eles não são da produção e nem do trabalho. É um partido desses de revoltadinhos sem causa e sem motivo. Não há um projeto que a direita apresente ao Brasil. Eu quero conhecer! Quem sabe não tem coisa boa...Apresente um projeto, diga como quer a economia, o modelo de desenvolvimento, como vai gerar emprego. Só fala que quer tirar o PT porque é corrupto.


 
O principal líder deles é um acadêmico que entrou na vida pública, em determinada parte de sua trajetória até teve uma boa relação com os movimentos sindical e sociais, teve uma participação importante na greve de 1979 como um interlocutor da defesa da democracia, mas o presidente Fernando Henrique Cardoso, com todo o respeito que tenho, se perdeu. Esqueceu sua trajetória, disse mesmo para esquecerem o que escreveu. E acho que seu ódio, sua sanha para derrotar o PT é porque sempre teve muita inveja das conquistas que o PT trouxe ao Brasil e aos brasileiros. E quando o Fernando Henrique tinha alguma parcela de esquerda talvez um dia quisesse fazer. Coisa que o Aécio não quer, esse é um irresponsável, estou falando de gente séria. Fernando Henrique tem uma trajetória e o grande problema é uma dor de cotovelo com o Lula, isso é uma tragédia. Ele não consegue engolir que tenhamos um sujeito letrado como ex-presidente e quem passa para a história do Brasil é um metalúrgico de Garanhuns, com quarto ano primário e que tem muito mais reconhecimento internacional.


 
O Fernando Henrique diz que o Lula sabia de possíveis irregularidades que aconteceram tanto no Mensalão, quanto no Petrolão, então, quer dizer que ele também sabia da compra de votos que aconteceu para a reeleição dele? De todas as denúncias de corrupção em empresas públicas, escândalos atrás de escândalos que aconteceram durante a gestão dele? Ou a teoria do Domínio do Fato serve para o Lula e não para o Fernando Henrique? 


Créditos da foto: Roberto Parizotti / Cut.org.br
Quando a direita dá um golpe, quem paga a conta é o trabalhador - Carta Maior

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Vídeo chocante que Aécio quer esconder do Brasil

Vídeo chocante que Aécio quer esconder do Brasil

Brasil: o buraco é mais em cima - Carta Maior

07/08/2015 - Copyleft 

Flávio  Aguiar

Brasil: o buraco é mais em cima

Como em 1954, há uma burguesia e uma classe média que se sente ameaçada pela ascensão social de setores dos 'de baixo': esta é a raiz dos panelaços.




Uma amiga minha, veterana militante do Partido Socialista no começo dos anos 50, me contou a seguinte historia. No dia 24 de agosto de 1954 ela se preparava, na cidade onde vivia, no interior paulista, para sair à rua comemorando com outros militantes comunistas a queda de Vargas. Neste momento, ela e todos os outros foram surpreendidos pela notícia do suicídio e a leitura da Carta Testamento no Repórter Esso. Ficaram perplexos, atônitos, nada fizeram.
 
Enquanto isto, “as massas” saíam às ruas, notadamente no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, depredando os jornais e as sedes dos partidos conservadores. Militantes do PC tentaram assumir o controle das manifestações, em parte para “dirigi-las”, em parte para evitar que suas sedes fossem igualmente empasteladas (na época o termo era este), como foram rádios e jornais conservadores. A foto com uma caminhonete do jornal O Globo virada deveria servir de exemplo para os aprendizes de golpe de hoje, mas certamente será em vão.
 
A perplexidade de minha amiga dura até hoje.
 
Sinal de que ela ainda não entendeu o que então estava acontecendo.
 
Dá pra compreender. As esquerdas tinham um esquema na cabeça. E o que o primeiro período Vargas provocara fugia aos esquemas. Era mais fácil então sair pelo esquema moralista de se refugiar nas denúncias programadas pelo grupo liberal - com Lacerda, ex-comuna à frente - do que tentar o vislumbre do que acontecera nos últimos vinte e tantos anos, desde 1930.
 
A partir de 30 duas coisas tinham se consolidado: uma classe média ciente de seus direitos - que consideravam privilégios - e que se identificava com Lacerda, e uma classe trabalhadora urbana, recém ciente de seus direitos e de suas conquistas, e que se identificava com as propostas de Vargas, CLT, nacionalismo, etc. O conflito social se expressou através dos manifestos do estamento militar - o famoso “dos Coronéis" à frente - e da pressão para que Getúlio caísse. 
 
O caso se resolveu à bala. Uma única, que postergou o golpe por dez anos, apesar das novas tentativas contra Juscelino e a de 1961.
 
Por detrás da crise política havia de fato uma crise social que não cabia nos manuais da esquerda de então. Supostamente, nos manuais comunistas, o Brasil vivia uma crise de um sistema feudal pre-capitalista que necessitava passar ao “estágio do capitalismo superior”. nas teorias mais radicais, o conflito entre capital e trabalho estava adormecido pelas políticas populistas de Vargas. E o que acontecera de fato, a imersão de uma nova massa de trabalhadores no mundo capitalista urbano, vinda de seus direitos, passava desapercebido, ou era desconsiderado. A crise social ficava em segundo plano, a crise política aparecia no primeiro e a esquerda via tudo como uma crise moral - como queria a propaganda lacerdista.
 
Hoje acontece algo análogo. Há de fato uma crise política. Ressentidos se agrupam em torno de um candidato derrotado, mas inapetente pela busca de vencer a eleição seguinte, até por medo de seus correligionários. O governo, inepto em matéria de comunicação, comete erros atrás de erros, como o de ter seu Chefe da Casa Civil fazendo um mea-culpa sem razão de ser diante de inimigos que só querem sangue de pescoço. A extrema-esquerda, com seus braços acadêmicos, se esmera em tentar fazer o Brasil retornara a seus esquemas teóricos insuficientes. Clama que os governos Lula, Dilma e FHC são braços do mesmo tronco. No meio disto um deputado em busca de uma corda de salvação para o poço em que vai afundar promete um processo de impeachment sem qualquer base legal, mas que satisfaz a seus anseios, ao do candidato derrotado que quer reverter o relógio da historia, e ao ex-presidente meio avariado pela ameaça de ver seu sonhado reino submergir como um mero interregno entre a era Vargas e a era Lula. De quebra, vozes da mídia conservadora e esclerosada querem ganhar a medalha do mérito lacerdista, contribuindo para ou derrubando um governo de esquerda. 
 
Mas ninguém presta atenção no pano de fundo que aduba esta crise política, que é de fato uma crise de natureza social. Aliás, este sim é um erro que o PT - genericamente falando - cometeu. Qual seja, o de imaginar que a paisagem social brasileira poderia mudar sem conflitos emergindo. Como em 54, há uma burguesia e uma classe média que se sente ameaçada pela ascensão social de setores dos “de baixo”, como dizia o saudoso Florestan Fernandes. A estrutura social não mudou, é certo, como quer a extrema-esquerda e seus porta-vozes acadêmicos, que querem enquadrar o Brasil pleno - ou pós-PT - nos seus moldes nos quais ele não cabe mais. Mas a composição social da paisagem mudou, com mais gente no convés do meio, menos no de baixo, e o da turma da primeira-classe se sentido ameaçada pelo acesso crescente dos “de baixo” às escadas até então de acesso privilegiado dos “de cima”: de aeroportos a shopping centers e universidades, nesta ordem de importância atribuída pelos usuários.
 
Esta é a raiz dos panelaços: gente que não se sentia ameaçada agora se sente perdida. Ou sente que vai perder os anéis e os dedos. Este é o caldo de cultura em que os golpistas de hoje navegam.
 
Vão se dar mal, ganhem ou percam. Se perderem, vão amargar mais uma derrota. Se ganharem, e conseguirem derrubar o atual governo, vão herdar uma massa falida  - não a da esquerda ou a do governo - mas a própria. As direitas hoje não têm qualquer projeto para o país. Alias, se há algo completamente estranho ao seu universo, é esta palavra - país. O que veem é um espólio de passado colonial à venda, sendo a questão mais importante a de definir quem vai recolher o produto da venda, ou a mais valia decorrente do processo. À extrema-esquerda interessa revogar - como em 54 - o “empecilho” de um governo que “adormece” as massas. E o Brasil que vá às traças. Melhor salvaguardar as teorias, para os acadêmicos, do que se por mãos a obras e pesquisar o novo para entender o que está se passando. É mais fácil desqualificar o que aconteceu - construir a saída de milhões de pessoas da miséria e da pobreza - do que tentar entender o que aconteceu, por que acontece e o que a partir daí pode acontecer.
 
Para as direitas só interessa morder o governo, desprezar a democracia e semear o caos.
 
Há um senão nisso tudo. As direitas de hoje são muito mais díspares do que as de 64 ou de 54. Vão resistir ao proprio caos em que navegam? Não vão. Nem mesmo se sabe se conseguirão seu objetivo imediato, tão frágil que ele é de qualquer ponto de vista que se olhe, do jurídico ao moral, e sem apoio na caserna militar. O que pode lhes sobrar é uma tremenda ressaca, que já houve no periodo entre abril e agora, agosto.
 
Agosto, mês de desgosto. Cuidado, pode ser para todos.


Brasil: o buraco é mais em cima - Carta Maior

Brasil: o buraco é mais em cima - Carta Maior

07/08/2015 - Copyleft 

Flávio  Aguiar

Brasil: o buraco é mais em cima

Como em 1954, há uma burguesia e uma classe média que se sente ameaçada pela ascensão social de setores dos 'de baixo': esta é a raiz dos panelaços.




Uma amiga minha, veterana militante do Partido Socialista no começo dos anos 50, me contou a seguinte historia. No dia 24 de agosto de 1954 ela se preparava, na cidade onde vivia, no interior paulista, para sair à rua comemorando com outros militantes comunistas a queda de Vargas. Neste momento, ela e todos os outros foram surpreendidos pela notícia do suicídio e a leitura da Carta Testamento no Repórter Esso. Ficaram perplexos, atônitos, nada fizeram.
 
Enquanto isto, “as massas” saíam às ruas, notadamente no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, depredando os jornais e as sedes dos partidos conservadores. Militantes do PC tentaram assumir o controle das manifestações, em parte para “dirigi-las”, em parte para evitar que suas sedes fossem igualmente empasteladas (na época o termo era este), como foram rádios e jornais conservadores. A foto com uma caminhonete do jornal O Globo virada deveria servir de exemplo para os aprendizes de golpe de hoje, mas certamente será em vão.
 
A perplexidade de minha amiga dura até hoje.
 
Sinal de que ela ainda não entendeu o que então estava acontecendo.
 
Dá pra compreender. As esquerdas tinham um esquema na cabeça. E o que o primeiro período Vargas provocara fugia aos esquemas. Era mais fácil então sair pelo esquema moralista de se refugiar nas denúncias programadas pelo grupo liberal - com Lacerda, ex-comuna à frente - do que tentar o vislumbre do que acontecera nos últimos vinte e tantos anos, desde 1930.
 
A partir de 30 duas coisas tinham se consolidado: uma classe média ciente de seus direitos - que consideravam privilégios - e que se identificava com Lacerda, e uma classe trabalhadora urbana, recém ciente de seus direitos e de suas conquistas, e que se identificava com as propostas de Vargas, CLT, nacionalismo, etc. O conflito social se expressou através dos manifestos do estamento militar - o famoso “dos Coronéis" à frente - e da pressão para que Getúlio caísse. 
 
O caso se resolveu à bala. Uma única, que postergou o golpe por dez anos, apesar das novas tentativas contra Juscelino e a de 1961.
 
Por detrás da crise política havia de fato uma crise social que não cabia nos manuais da esquerda de então. Supostamente, nos manuais comunistas, o Brasil vivia uma crise de um sistema feudal pre-capitalista que necessitava passar ao “estágio do capitalismo superior”. nas teorias mais radicais, o conflito entre capital e trabalho estava adormecido pelas políticas populistas de Vargas. E o que acontecera de fato, a imersão de uma nova massa de trabalhadores no mundo capitalista urbano, vinda de seus direitos, passava desapercebido, ou era desconsiderado. A crise social ficava em segundo plano, a crise política aparecia no primeiro e a esquerda via tudo como uma crise moral - como queria a propaganda lacerdista.
 
Hoje acontece algo análogo. Há de fato uma crise política. Ressentidos se agrupam em torno de um candidato derrotado, mas inapetente pela busca de vencer a eleição seguinte, até por medo de seus correligionários. O governo, inepto em matéria de comunicação, comete erros atrás de erros, como o de ter seu Chefe da Casa Civil fazendo um mea-culpa sem razão de ser diante de inimigos que só querem sangue de pescoço. A extrema-esquerda, com seus braços acadêmicos, se esmera em tentar fazer o Brasil retornara a seus esquemas teóricos insuficientes. Clama que os governos Lula, Dilma e FHC são braços do mesmo tronco. No meio disto um deputado em busca de uma corda de salvação para o poço em que vai afundar promete um processo de impeachment sem qualquer base legal, mas que satisfaz a seus anseios, ao do candidato derrotado que quer reverter o relógio da historia, e ao ex-presidente meio avariado pela ameaça de ver seu sonhado reino submergir como um mero interregno entre a era Vargas e a era Lula. De quebra, vozes da mídia conservadora e esclerosada querem ganhar a medalha do mérito lacerdista, contribuindo para ou derrubando um governo de esquerda. 
 
Mas ninguém presta atenção no pano de fundo que aduba esta crise política, que é de fato uma crise de natureza social. Aliás, este sim é um erro que o PT - genericamente falando - cometeu. Qual seja, o de imaginar que a paisagem social brasileira poderia mudar sem conflitos emergindo. Como em 54, há uma burguesia e uma classe média que se sente ameaçada pela ascensão social de setores dos “de baixo”, como dizia o saudoso Florestan Fernandes. A estrutura social não mudou, é certo, como quer a extrema-esquerda e seus porta-vozes acadêmicos, que querem enquadrar o Brasil pleno - ou pós-PT - nos seus moldes nos quais ele não cabe mais. Mas a composição social da paisagem mudou, com mais gente no convés do meio, menos no de baixo, e o da turma da primeira-classe se sentido ameaçada pelo acesso crescente dos “de baixo” às escadas até então de acesso privilegiado dos “de cima”: de aeroportos a shopping centers e universidades, nesta ordem de importância atribuída pelos usuários.
 
Esta é a raiz dos panelaços: gente que não se sentia ameaçada agora se sente perdida. Ou sente que vai perder os anéis e os dedos. Este é o caldo de cultura em que os golpistas de hoje navegam.
 
Vão se dar mal, ganhem ou percam. Se perderem, vão amargar mais uma derrota. Se ganharem, e conseguirem derrubar o atual governo, vão herdar uma massa falida  - não a da esquerda ou a do governo - mas a própria. As direitas hoje não têm qualquer projeto para o país. Alias, se há algo completamente estranho ao seu universo, é esta palavra - país. O que veem é um espólio de passado colonial à venda, sendo a questão mais importante a de definir quem vai recolher o produto da venda, ou a mais valia decorrente do processo. À extrema-esquerda interessa revogar - como em 54 - o “empecilho” de um governo que “adormece” as massas. E o Brasil que vá às traças. Melhor salvaguardar as teorias, para os acadêmicos, do que se por mãos a obras e pesquisar o novo para entender o que está se passando. É mais fácil desqualificar o que aconteceu - construir a saída de milhões de pessoas da miséria e da pobreza - do que tentar entender o que aconteceu, por que acontece e o que a partir daí pode acontecer.
 
Para as direitas só interessa morder o governo, desprezar a democracia e semear o caos.
 
Há um senão nisso tudo. As direitas de hoje são muito mais díspares do que as de 64 ou de 54. Vão resistir ao proprio caos em que navegam? Não vão. Nem mesmo se sabe se conseguirão seu objetivo imediato, tão frágil que ele é de qualquer ponto de vista que se olhe, do jurídico ao moral, e sem apoio na caserna militar. O que pode lhes sobrar é uma tremenda ressaca, que já houve no periodo entre abril e agora, agosto.
 
Agosto, mês de desgosto. Cuidado, pode ser para todos.


Brasil: o buraco é mais em cima - Carta Maior

Um Fantástico Medo de Tudo -desenhos animados completos

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Por Igor Felippe
O professor de história na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Lucas Patschiki, pesquisa a continuidade e transformações do fascismo do começo do século 20 até agora.
No Brasil, ele estuda o portal de extrema-direita Mídia Sem Máscara, dirigido pelo filósofo Olavo de Carvalho, e o Instituto Millenium, que reúne diretores, colunistas, comentaristas e blogueiros vinculados aos grandes meios de comunicação.
Segundo ele, a onda conservadora que avança no Brasil é um fenômeno mundial, ligado ao enfraquecimento da democracia burguesa, à crise do capitalismo a partir de 2008 e às dificuldades do modelo neoliberal de encontrar uma saída para o seu projeto econômico.
Essa onda conservadora se manifestou nas eleições de 2014, com a votação expressiva de ícones da direita para o Congresso Nacional, e explodiu nas ruas com os protestos do dia 15 de março, quando segmentos extremistas catalisaram o sentimento de indignação de milhares de brasileiros.
No caso brasileiro, afirma Patschiki, a ascensão de atores conservadores pegou carona na doutrina do “anticomunismo preventivo”, que norteou a atuação da mídia hegemônica nos últimos 12 anos, como forma de pressão para que o PT cumprisse os acordos com a classe dominante e o imperialismo.
“O anticomunismo serviu como base ideológica comum para o espectro fascista da sociedade, um movimento organizador visando o acirramento da luta de classes, tendo como expectativa a crise aberta. O fascismo, como fenômeno surgido com o imperialismo, tem como função política e social primária reorganizar o bloco no poder de maneira brutal durante a crise aberta, para a manutenção e reprodução da sociedade de classes, o que denota seu caráter de organização visando a luta contra a classe trabalhadora e, de maneira geral, de luta contra qualquer avanço democratizante”, afirma.
Abaixo, leia trechos da entrevista.
Incapacidade do Estado
Vivemos historicamente uma ofensiva violenta do capital contra o trabalho sob a égide do neoliberalismo, e isto tem consequências que atingem a totalidade da sociedade. Para o que nos interessa discutir aqui, temos de sublinhar o deslocamento dos centros de decisão política. Há um esvaziamento da capacidade de universalização de direitos pela via parlamentar-eleitoral burguesa, que acaba por ser inundada pela pequena política (a política que é incapaz de mudar os rumos do Estado). Mas este esvaziamento não se traduz em uma crise de direção política, pois a capacidade de decisão é deslocada para esferas corporativas na ossatura material do Estado, no caso brasileiro notadamente para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), lugar de construção de consensos sociais em favor do capital, assim como o Banco Central.
Crise política
A Dilma tentou reavivar esse pacto social, abalado pela estagnação econômica. Primeiro, em contato direto com o empresariado na própria eleição e depois do pleito pela distribuição de cargos e ministérios (Joaquim Levy, Kátia Abreu, etc.). Não foi o suficiente, enfraquecendo as articulações políticas com os partidos na Câmara e no Senado. Isso, somado à ida para ruas, que em 2013 quebrou a política de apaziguamento das organizações das classes subalternas, via CUT e PT após a eleição de Lula. Agora, em 2015, se radicalizam, com parte dos atores políticos intitulados de direita passando a inclusive defender inclusive a ruptura institucional dessa democracia que temos. Abre-se um precedente preocupante para o futuro. Estamos, sem dúvida, vivendo uma crise política no âmbito da representatividade. Isso atinge todos os partidos, e os desdobramentos dessa crise ainda são nebulosos.
Onda conservadora
Com a crise de 2008, crise estrutural do capital, há uma ascensão de projetos, pautas e movimentos de cunho chauvinista, xenófobo e mesmo fascista. Eles são financiados abertamente pelo grande capital e servem tanto para se colocarem como possibilidade em caso de crise de direção política quanto para constituírem uma base social de sustentação e apoio ativo ao incremento da violência estatal, diante do esvaziamento das formas de resolução política formal da democracia burguesa. O caso mais claro é o do Tea Pparty estadunidense. Ou seja, há uma correlação fundamental entre a ascensão fascista, o aumento (qualitativo e quantitativo) da violência e autoritarismo estatal e o programa neoliberal.
Anticomunismo preventivo
No caso brasileiro, a ascensão desses atores foi motivada pela justificativa do “anticomunismo preventivo”, mote para a atuação raivosa da mídia hegemônica nos últimos 12 anos: elemento de pressão para que o Partido dos Trabalhadores em suas gestões federais cumprisse os acordos acertados com a classe dominante e o imperialismo. O anticomunismo serviu como base ideológica comum para o espectro fascista da sociedade, um movimento organizador visando o acirramento da luta de classes, tendo como expectativa a crise aberta. O fascismo, como fenômeno surgido com o imperialismo, tem como função política e social primária reorganizar o bloco no poder de maneira brutal durante a crise aberta, para a manutenção e reprodução da sociedade de classes, o que denota seu caráter de organização visando a luta contra a classe trabalhadora e, de maneira geral, de luta contra qualquer avanço democratizante.
Intelectuais do conservadorismo
Intelectuais, colunistas e blogueiros conservadores disseminaram suas pautas por todo o campo político. Mas a atuação destes tem objetivos políticos mais profundos que o eleitoral, eles buscam a conformação cultural e ética de todo um modo de ser, visando prioritariamente a pequena e nova pequena burguesia. Existe uma série de marcos ideológicos que “pegaram”, tornaram-se referência para esses diferentes atores: a suposta existência de um movimento revolucionário de cunho gramsciano, corporificado no PT; que existiria a possibilidade da transformação automática de uma gestão presidencial sob a democracia burguesa em um regime de esquerda, o que remetem ao bolivarianismo; que as universidades e o conhecimento teria um filtro ideológico inevitável e que no caso brasileiro seria o de esquerda; que os diferentes movimentos de contestação ou de reconhecimento (caso das lutas pelo casamento LGBTs, por exemplo) possuem o mesmo sentido político comunista (conscientemente ou não). São variações sobre uma matriz anticomunista, que nem mesmo é original, já que é reprodução de discursos semelhantes estadunidenses ou europeus.
Sem resistência
O PT não cumpriu nenhum combate a esse tipo de discurso, inclusive, a partir de determinado momento, passou até a se apropriar dele de maneira pragmática, como elemento ideológico de distinção entre o seu programa e os demais, o que foi explorado amplamente na eleição. E por fim, a partir das Jornadas de 2013, há uma nova compreensão sobre as possibilidades da atuação do PT como gestor federal e mesmo sob os limites da democracia burguesa, o que se manifestou tanto na organização da esquerda quanto nos votos nulos e abstenções, abrindo espaços para a reação.
PT no governo
O PT das gestões federais é um partido que reivindica simbolicamente seu passado histórico como esquerda, bem longe de ter uma pauta ou um programa de esquerda. PT e CUT migraram para um projeto de ‘reforma dentro da ordem’ que evoluiu posteriormente para a ‘reprodução da ordem’ nos marcos do padrão de acumulação neoliberal e da autocracia burguesa reformada”. A “composição do blocão” tem a ver como o modo pelo qual o PT se conformou como gestor autorizado do Estado capitalista, ou seja, suas mudanças deram-se exatamente por sua institucionalização, seja nos marcos da democracia parlamentar-eleitoral ou pelo sindicalismo de Estado. Essa nova correlação de forças levou a ofensiva neoliberal a um novo padrão hegemônico, os limites que antes a esquerda balizava passaram a serem violentamente esgarçados. Mas é preciso deixar claro, somente a ascensão petista não explica a conformação desta “nova direita” fascista, sua emergência ocorre exatamente por ser o projeto histórico e social neoliberal incapaz de solucionar as suas crises.
Superdimensionamento
A questão da participação das igrejas neopentecostais na onda conservadora parece ter tido uma divulgação mais ampla que as demais, o que me parece que interessante, porque sua atuação é em relação às camadas mais empobrecidas da população brasileira (o subproletariado que falava Paul Singer já nos anos 80) em disputa direta com os mecanismos de transferência de renda federais, notadamente o Bolsa Família. Mas mesmo essas igrejas não atuam como bloco, pois a Igreja Universal colocou-se ao lado do PT em todo o processo eleitoral, o próprio Silas Malafaia participou ativamente das gestões de Lula com um discurso que até denunciava a Teologia da Prosperidade, que hoje reivindica (como já pode ser visualizado pela pesquisa em andamento de Jonas Koren).
Combustível neoliberal
O neoliberalismo serve como terreno que alimenta o fascismo. Se estes atores fascistas ainda não apresentam-se plenamente no Brasil é porque a conjuntura ainda não os fez “necessários”. Mas não podemos nos dar ao luxo de esperarmos, visto que a violência contra os que “não consentem” já está posta como prática política – e de maneira crítica, pois acumpliciada por um partido que se reivindica como “dos trabalhadores”. Não é preciso ir muito longe para visualizar o quadro terrível que já vivemos: no campo, a violência aberta contra indígenas, posseiros, movimentos sem-terra, militantes dos direitos humanos, etc.; nas cidades, a brutalidade do aparelho repressivo do Estado nas periferias, favelas, ocupações, remoções, manifestações, etc. Que os exemplos da Grécia, da Ucrânia e agora também do México sirvam como alerta.
Antecedentes da onda
Trabalho com a continuidade e transformações do fascismo durante os séculos XX e XXI, analisando este fenômeno como característico da fase imperialista do capitalismo, e que portanto, possui plena possibilidade de ressurgir. Eu entendo estes partidos e movimentos através de suas três “ondas” históricas, formulação de Jean-Yves Camus. A primeira onda histórica seria a do fascismo clássico. A segunda onda corresponde aos fascismos do Pós-Guerra, ou seja, o movimento de transformação exigido aos partidos e regimes (Portugal e Espanha) para sua manutenção, assinalando duas de suas maiores mudanças ideológicas: o abandono do corporativismo, típico da primeira onda, e a justificativa maior de sua existência marcada pelo anticomunismo preventivo, ou seja, a defesa de um modelo democrático altamente formal e restritivo, dentro da conjuntura geopolítica da Guerra Fria (o Tea Party remete sua origem a esta onda, cujo expoente naquele país foi o movimento macarthista).
Atualidade
A terceira onda ocorre durante e após os anos oitenta, quando os partidos fascistas passam a assumir o projeto econômico ultraliberal, assumindo uma postura de defesa “cultural” de cunho xenófobo. Embora estas peculiaridades assumam um formato “geracional”, na prática, isto não ocorre, pois, grupos com distintas características (assinaladas simplificadamente através das ondas) afloram no espectro fascista dentro de uma mesma temporalidade histórica. Em especial na contemporaneidade, cabendo a cada um destes grupos a atuação em uma frente específica, no “espectro” fascista da sociedade. Portanto, sua ascensão é de escala global e acompanha a crise estrutural do capital, onde o capital não oferece mais soluções para as questões estruturais globais, uma crise civilizacional.

http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/plenos-poderes/anticomunismo-e-base-ideologica-comum-para-o-espectro-fascista-brasil-afirma-historiador/?fb_comment_id=878697185530825_878968312170379&comment_id=878877115512832&reply_comment_id=878968312170379&offset=0&total_comments=41#f3b274645

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