É unânime entre todos os que participaram e os que testemunharam a greve dos professores do Ceará em 2011, que foi a maior da história das lutas da categoria e talvez a maior na história do movimento sindical em nosso estado. Não foi a mais longa como enganosamente pensam alguns. Aliás, sobre a duração das greves de servidores públicos existem inúmeros estudos que questionam a vantagem de se fazer greves prolongadas nesse setor, ao contrário do que pensam muitos em nosso movimento que insistem em apontar o tempo de duração como critério para medir a vitória de uma greve.
Uma vez encerrada a greve, parece ter ficado em aberto a avaliação que deveríamos fazer dela concluindo sobre sua vitória ou derrota. Afinal de contas foi vitoriosa ou não?Logrou os seus objetivos ou frustrou-se completamente? Acredito que para chegarmos a uma conclusão mais acertada e equilibrada sobre isso teremos de reconhecer o terreno sobre o qual o movimento paredista aconteceu, o seu ambiente e sua conjuntura. Mas isso sem dúvida demandará um esforço muito maior de nossa parte, exigindo uma pesquisa mais penetrante daquele momento tão importante que marcará de forma indelével a história da educação nessa parte do Brasil podendo constituir fonte inesgotável de grandes ensinamentos para os que fazem sindicalismo nos campos da educação e do serviço público em nosso estado.
Uma ressalva se faz necessária. Não somos detentores de verdades absolutas. Em verdade ninguém o é. Nos dias de hoje isso é um lugar comum; no mundo moderno ou pós-moderno, como queiram, existe forte consciência do peso da relatividade e de quanto ela se impõe de forma tão inexorável quanto a lei da gravidade. Portanto, o que se emite aqui é uma opinião, elaborada a partir de um ponto de visualização dos acontecimentos. Entretanto, assim como a nossa, as outras visões também são verdades relativas e possivelmente, o fator diferencial dessa para as demais resida apenas no reconhecimento dos limites que são impostos à razão humana. Afinal, tem sido característica de nossos detratores a forma cabal e categórica como exprimem sua perspectiva das coisas, bem ao modo dos dogmáticos e fundamentalistas. Portanto, não esgotaremos em uma única publicação tudo o que temos para dizer, e o presente texto servirá apenas de abertura para um ciclo mais amplo de exposição da nossa interpretação do que representou essa grande greve.
Antecipando o que deveria ser a conclusão desse trabalho avaliamos os resultados da greve como positivos e, com isso queremos dizer que, levando-se em conta os seus objetivos e os resultados obtidos, podemos sagrá-la como vitoriosa. Entretanto, a se basear no que afirmam os "que se acham mui revolucionários", foi um verdadeiro fracasso. Diante desse impasse, de conclusões que de tão opostas acabam se colocando em perfeita simetria faz-se urgente uma avaliação aprofundada e abrangente desse movimento sob pena de ficarem vigorando as versões derrotistas daqueles que no desenrolar da greve se balizaram por factóides e distorções visando a justificação de seus equívocos e fracassos. Além de fazerem uso de táticas questionáveis em todos os aspectos, desde o ponto de vista de sua eficácia quanto de seus fundamentos éticos e que visavam acima de tudo, desgastar a entidade sindical que, para o bem ou para o mal, representa a categoria. Não lhes interessava a vitória e pouco se importavam que fôssemos derrotados e os professores fossem submetidos às provações das punições e perdas materiais, contanto que tudo ficasse mais uma vez debitado na conta política da APEOC.
Em outra oportunidade já dissemos o quanto essas práticas prosperam no interior de nosso movimento desde períodos que nos remetem ainda à transição do regime autoritário para o de democracia representativa nos inícios dos 90, quando o funcionalismo público adquiriu o direito de se organizar em sindicatos através da constituição de 88. No Ceará instalou-se a disputa pelo espaço da representação sindical da categoria. De um lado a antiga associação dos professores, a APEOC, de maior representatividade, congregando o segmento mais números e dinâmico, que de imediato tratou de converter-se à nova condição de sindicato, e de outro, a proposta de constituição de uma nova entidade a partir da fusão de diversas associações que representavam os outros segmentos da categoria assim como professores também. Erros no debate e nas formas de encaminhá-lo, quando não, pelos golpismos mesquinhos e rasteiros, acabaram por gerar uma cisão que perdura até os dias de hoje. Em outra oportunidade detalharemos esses eventos e suas conseqüências que tendem a se perpetuar na medida em que as novas gerações de educadores permanecem sendo o alvo do proselitismo dos que se alimentam da divisão.
Mas 2011 não foi mais um simples desdobramento dessa disputa de 20 anos. A grande novidade se deu também por conta de uma conjuntura extremamente complexa em que se assistiu ao irromper das revoluções árabes, a crise econômica européia e norte americana acompanhado do surgimento de novas formas de luta dinamizado pelos efeitos dos instrumentos liberados pela rede mundial de computadores, a Internet. Além disso, não se pode desconsiderar que justo nesse contexto se reavivaram correntes políticas ultra revolucionárias assim como também as reacionárias que jaziam latentes no interior dos processos metabólicos da sociedade produtora de mercadorias ou capitalista,conhecendo um novo desabrochar na circunstância da crise atual.
Os nossos detratores, bastante ativos nas redes sociais, buscam empurrar versões tendenciosas dos acontecimentos, de modo a não esclarecer nada e apenas deformar a história. Arriscam permanecer como a última palavra se por acaso a APEOC insistir em manter uma postura de avestruz, com a cabeça enterrada no chão, como tem acontecido com freqüência nos momentos posteriores aos grandes embates que a categoria enfrentou sob sua direção, diante de sucessivos governos de variados matizes. Suas direção parece padecer da ilusão de que os fatos e os atos falam por si e serão suficientes para que as pessoas compreendam suas intenções e avaliem de forma imparcial e criteriosa as suas ações.
Infelizmente a mente humana não funciona assim. Carece de versões, interpretações e demonstrações que ordenem os fatos de maneira que se possa ter uma visão de conjunto dos fenômenos e a partir daí, avaliando-se todos os seus aspectos se chegue a conclusões ao menos verossímeis sobre eles. Muita coisa se diz pelo mundo e, com freqüência, as coisas ditas não representam exatamente o que o mundo é, enquanto o que se faz por ele deveria dizer muito mais sem precisar necessariamente se dizer nada. Dizia Nélson Rodrigues, "se as versões não correspondem aos fatos, pior para os fatos". A linguagem nos leva a caminhos diversos e desencontrados como na Torre de Babel ou no Jardim dos Caminhos que se Bifurcam, imortalizado na obra do escritor argentino Jorge Luiz Borges.
Fazemos esse esforço com o propósito de abrir o diálogo com aquele e aquela que se dispõe a manter a abertura necessária para o debate e o exercício saudável da divergência. Não para trocar farpas com cretinos que reivindicam o debate e o reduzem ao nível do desaforo e da intimidação, como fazem com freqüência os "que se acham...". Esses serão nominados e identificados na seqüência pois merecem ser denunciados pelo que promoveram e continuam promovendo impunemente nos meios educacionais e na sociedade, obedecendo a motivos e interesses escusos.
Por fim, nossa motivação obedece também ao propósito de homenagear a memória de um amigo e companheiro de luta, prematuramente recolhido ao seio de Pacha Mama. No fatídico15 de Março de 2011 deixou de brilhar a estrela do Prof. José Ribamar de Lima, mas sua luz ainda viaja pelo espaço e ilumina nossos ideais de luta por uma educação libertadora e pela escola pública, gratuita, republicana, laica e universal. Dessa aula nunca esteve ausente.
-PROFESSOR RIBAMAR
-PRESENTE!